Entretanto, para quem não tiver lido, ficam, também, as belíssimas palavras de William Carvalho numa recente entrevista.

Algum dia pensou que aquele miúdo de Mira Sintra poderia um dia ser campeão europeu?

Aquele miúdo de Mira Sintra, como todos os outros, sempre teve sonhos e jogar na seleção nacional era um deles. Felizmente pude concretizá-lo. Pensar especificamente em ser campeão europeu, acho que não, mas sempre tive o sonho de jogar pelo meu país.

Portanto valeram a pena todos os sacrifícios feitos para ser jogador…

Sempre soube, porque sempre fui assim educado, que para chegar a algum lado tinha de fazer sacrifícios. Mas eu não era especial: havia muitos miúdos como eu a fazer sacrifícios. Muitos miúdos tinham de sair de casa dos pais aos 13 anos e ir viver para a Academia, coisa que eu não tive de fazer. Sei que para esses rapazes foi muito difícil.

Mas para o próprio William não foram tempos fáceis…

Sim, não foram. Tinha de apanhar vários autocarros, por exemplo. Apanhava o autocarro de Mira Sintra para a estação do Cacém, do Cacém ia de comboio até Entrecampos e em Entrecampos apanhava o metro para o Campo Grande. Depois no Campo Grande tínhamos um autocarro do clube para nos levar para Alcochete. Fazia isto todos os dias.

E chegava a casa às dez da noite todos os dias…

Sim, porque estudava. Durante o dia estava nas aulas, depois tinha de estar no Campo Grande entre as 17 e as 18 horas para ir para Alcochete e voltava já muito à noite.

Era duro?

Era cansativo, mas sabia que se queria atingir um nível alto tinha de fazer esse esforço.

O William já disse que havia outros miúdos que faziam tantos ou mais sacrifícios, por isso a dúvida é: o que o distinguia a si para chegar hoje a campeão da Europa?

Não é fácil responder. Joguei com colegas que tinham tanta ou mais qualidade do que eu, que fizeram tantos ou mais sacrifícios do que eu… Acho que é acima de tudo uma questão de trabalho e de oportunidade. Graças a Deus tive um treinador que apostou em mim e até hoje estou-lhe grato por ter apostado em mim.

Que é o Leonardo Jardim.

Exatamente.

Mas antes disse ainda saiu para o Fátima, primeiro, e para o Cercle Brugge, depois…

Faz parte do que é ser futebolista. Fui para o Fátima no primeiro ano de sénior, fiquei seis meses, até depois sair em janeiro para a Bélgica, onde fiquei um ano e meio. Foi difícil, foi a primeira vez que saí de casa e que fiquei longe dos meus pais. Foram duas experiências importantes, porque me fizeram crescer como pessoa e como jogador. Sobretudo a Bélgica foi importante, onde estava sozinho e não falava a língua.

Foi aí que aprendeu a cozinhar?

[risos] Não, cozinhar é uma arte que ainda não domino. Não sei cozinhar.

E no meio disto tudo qual foi a importância do estágio no Canadá?

Foi decisivo. Antes de mais porque me permitiu mostrar-me ao treinador para lutar por um lugar e depois porque concretizei o sonho de começar a representar o meu Sporting.

Por falar nisso, o que é que faz um miúdo de 13 anos dizer que não ao Benfica?

A paixão pelo Sporting. Sendo sportinguista e sabendo que o Sporting apostava mais nas camadas jovens, achei que entre um clube e outro não havia escolha.

O Sami ficou chateado consigo quando recusou assinar pelo Benfica?

[risos] O Sami jogava no Mira Sintra, mas era mais velho. Então quando fui treinar ao Benfica ele foi lá ter comigo, a dizer-me para ficar, que era um grande clube. Mas não foi possível, queria mesmo era o Sporting…

Mas não pensou que o Benfica era um comboio que podia não voltar a passar?

Pensei, até porque o Benfica foi o primeiro grande a abordar-me. Cheguei a ir treinar ao Seixal. Mas depois, felizmente, apareceu o Sporting.

Essa paixão pelo Sporting foi-lhe passada pelo seu pai, certo?

É uma coisa difícil. Não sei se sou do Sporting pelo meu pai, porque não me lembro de quando comecei a ser do Sporting. Mas é verdade que o meu pai foi sempre foi sportinguista e que eu desde pequenino via os jogos do Sporting.