Assim como quem não quer a coisa, o Sporting sai da Mata Real com mais três pontos, com a 11ª vitória consecutiva e com o quarto jogo oficial sem sofrer golos, sendo que há oito anos que a defesa não saía de Paços sem encaixar pelo menos uma bola.

E, como disse Jorge Jesus no final do encontro, foi na solidez defensiva que assentou a vitória do Sporting. Um Sporting sério, concentrado, ao contrário do que aconteceu nos “jogos a brincar” de pré-época, sendo melhor exemplo disso a muralha que se ergue assente em Coates e Ruben Semedo, intratáveis e imperiais, com o uruguaio a entrar para o livrinho de memórias desta época e de outras com aquele corte a três ou quatro minutos do final. É preciso ter uns cojones do tamanho da classe com que esticou a perna e deixou o Cícero a tentar perceber se tinha sido o Colossus se tinha sido o Sasquatch a roubar-lhe a bola e a possibilidade do Paços rematar pela primeira vez à baliza de Rui Patrício.

Sim, estávamos a três ou quatro minutos do final, o que significa que os Castores não chegaram a alvejar uma única vez o dique leonino. Foram incómodos, pois foram, mas mais por culpa de um Sporting perdulário e de um resultado incerto do que por mérito próprio. É verdade que o seu treinador arriscou bem, a uns 20 minutos do fim, e a equipa esticou-se, aproveitando o momento em que o Sporting perdeu profundidade: saída de Alan, entrada de Marvin, com Bruno César a fazer de extremo esquerdo e Bryan a servir de muleta a Slimani. O problema é que Bryan ainda não recuperou das tareias de pré-época e deve ter adormecido tarde a fazer de mestre de cerimónias ao conterrâneo Campbell, o primeiro de dois ou três (disse Jesus e eu sou crente) que chegarão para aumentar o poder de fogo.

Fogo que esteve para ser ateado mais do que apenas uma vez, com destaque para um bombardeiro argelino com os dentes bem cerrados, mas de mira desafinada (que falhanço do caraças na segunda parte, Slim. Tinhas acabado com o jogo e ainda marcávamos mais um ou dois quando eles abrissem). Alan, agora à procura do seu lugar noutra posição, ensaiou duas vezes aquelas coisas bonitas que o vimos fazer de pé esquerdo no youtube, mas o redes impediu-o de celebrar o primeiro de Rampante ao peito. Depois, o menino Gelson, incessante na tentativa de oferecer golos aos companheiros (duas assistências em dois jogos, para já, fora as que vão sendo desperdiçadas o que, por este andar, fará dele um sério candidato a Magic Johnson desta equipa). E, claro, o pulmão e o coração desta equipa: William e Adrien.

William já está naquele ponto em que quanto mais cansados estão os outros, mais ele parece correr. Aquela pinta de Tartaruga Ninja, arqueado com o peso de uma carapaça indestrutível, agora com ordens para pressionar cada vez mais alto e, ontem, quase a ser expulso por um rapaz do apito que foi o pior em campo que transformou duas disputas de bola limpas em dois lances que podiam ter tirado Will do clássico do próximo domingo. Quanto a Adrien… O Captain! My Captain! O homem quer (e pode) estar em todo o lado e é um regalo quando à geometria do seu desempenho táctico junta a classe técnica que tem, mas que nem sempre pode ser expressa. O golo da vitória é um desses momentos, em que sorris tanto quanto ele e em que deixas de ter inveja dos tipos de Liverpool a festejar golos do Gerrard ou dos tipos da Roma a festejar golos do Totti (ou, para os mais antigos, aquele momento em que deixas de ter inveja de quem festejou golos dos Violinos ou do Manuel Fernandes).

Porque a verdade é que, mesmo que a nota artística esteja distante, o que nos é dado é um Leão à imagem dos seus capitães e das suas referências: é um Leão sério e focado no que quer. E, tal como na primeira jornada, ontem voltou a conquistar uma vitória sem espinhas.