300_aaa78a60-05f4-3ac9-ac2e-3f5c7959af1eMeu caro Elias,
Fui uma das muitas pessoas que pertencem à família leonina que em 2011 vibrou com a contratação do chamado “Tico”, na altura por 8 milhões de euros. Falávamos nada mais nada menos do que um dos melhores médios em ascensão do Brasil, com uma primeira experiência na Europa, mas que parecia demasiado encaminhado para o estrelato para poder assinar pelo nosso clube.

O plano era simples, pagar bem por um grande jogador, que se iria valorizar ao serviço do Sporting e render muitos e bons milhões passado umas temporadas. E, por algumas semanas, acreditei que poderia mesmo ter sido assim. A incompetência começa logo com a exclusão da Liga Europa daquele que era, na altura, o melhor médio do plantel, uma vez que já a teria disputado ao serviço do Atlético. Mas a titularidade no campeonato parecia convencer e o talento que mostrava em campo ia deixando todos os sportinguistas com uma certeza: temos craque.

Não vale a pena esmiuçar mais uma vez o que terá acontecido nos meses que se seguiram, principalmente no final da temporada 2011/12. O Sporting entrou numa roda viva, tudo começou a ruir e, em muitas situações, viria a projectar a minha frustração em jogadores como Elias. Nós adeptos temos esta mania, de achar que eles lá dentro também jogam por carinho e por brio. Já sabemos que não. São profissionais, fazem do futebol a sua vida, e é o dinheiro ao fim do mês que também os ajuda a levantaram-se todos os dias para fazer o seu trabalho.

Um dia disse que Elias tinha sido o jogador que mais raiva me tinha dado ao serviço do Sporting Clube de Portugal. Porque reclamava dinheiro na imprensa, porque não se esforçava dentro do campo, porque tinha sido um dos responsáveis pelos péssimos resultados desportivos e financeiros do Sporting, porque ganhava demais e fazia de menos. Tudo isto era ainda agravado com o facto de todas as pessoas que seguiam a sua carreira saberem que se tratava de um médio com uma qualidade muito acima de média. Mas isto do amor a um clube faz-nos engolir alguns sapos. E o Elias será um dos maiores de sempre.

Hoje, com a calma destes anos passados, com a distância de quem apenas se lembra daqueles tempos e já não os sente, e com orgulho do trabalho que temos feito (adeptos e estrutura), consigo perceber que também para Elias o rancor deve ser recíproco. Ele abraçou um projecto de um clube que não lhe podia pagar, ele estagnou a sua evolução como futebolísta porque lhe prometeram lutar por títulos. Ele saiu de um clube como o Atlético porque pensava que ia assumir o estrelado ao serviço do Sporting. Ele entrou num clube e foi treinado por cinco homens diferentes em dois anos, vendo sair e entrar colegas quase todos os meses. O Elias terá sido tão tóxico para o Sporting como o Sporting foi para a sua carreira, que o forçou a voltar para o Brasil e interromper a sua afirmação europeia ainda em idade de atingir o seu pico de forma.

A presença de alguém que fez parte daqueles tempos num plantel que tanto acarinhamos é difícil. Traz à memória todo o esforço e desilusão que foram necessários para reerguer um clube falido e ferido, que se tentava livrar de jogadores mercenários, empresários corruptos e voltar a andar.

Mas a vinda de Elias enterra também o machado com um passado que temos de começar a ignorar. Aquele Sporting, onde ele entrou, já não existe. Por muito que esteja ainda presente na nossa memória, o mesmo deixou de ser termo de comparação para o que quer que seja. Agora é tempo de avaliarmos um clube tendo em conta o que cresceu em três anos e não o quão mal estava há quatro.

Por isso, sempre que virmos o Tico em campo devemos lembrar-nos disso mesmo. Aquele nunca poderá ser o Elias infeliz, porque o Sporting que ele conheceu já morreu. E ainda bem!

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa