O argelino Islam Slimani deixou o Sporting CP, para reforçar o campeão de Inglaterra, Leicester City, a troco de €30M. O goleador deixa saudades em Alvalade, onde foi crónico melhor marcador da equipa, após chegar em 2013/14. Marcou 48 golos em 84 jogos, só na Liga portuguesa, pelo que substituir Slimani não será tarefa fácil.

O Sporting pensa ter encontrado a solução na Bundesliga, na forma de dois holandeses: Bas Dost e Luc Castaignos. Mas quem são estes dois avançados? Serão eles capazes de fazer esquecer Slimani? Valerão os dois por um? Será algum deles melhor que o argelino? Só com o decorrer da época poderemos responder a essa questão, mas podemos, desde já, olhar para o desempenho dos dois reforços na época passada e compará-los com Islam. Que características os distinguem?

À vista salta, em primeiro lugar, a compleição física de Bas Dost. O internacional holandês, de 27 anos, não teve uma época de 2015/16 tão profícua como a anterior, na qual fez 16 golos em 21 encontros da Liga alemã, mas as suas características são distintivas. O seu 1,96m de altura induz a ideia de que, pelo ar, é capaz de “voar sobre os centrais”, e de facto Dost é perigoso neste tipo de lance. Cerca de 50% dos seus remates na temporada transacta foram de cabeça e ganhou 55% dos duelos pelo ar.

Este pormenor, e o facto de ter caído apenas 0,8 vezes em fora-de-jogo, aponta Bas Dost como um avançado essencialmente de área, com uma apetência para acorrer a cruzamentos e quase nunca para surgir em velocidade nas costas adversárias. E quando a bola lhe surge, tem uma eficácia de remate assinalável, 20%, contra os 23% que Slimani registou na época transacta nos “leões”. Slimani que, por seu turno, caiu 1,6 vezes em “offside” por cada 90 minutos, algo que demonstra bem a natureza do futebol de ambos. Têm estilos distintos, o holandês é bem mais fixo que Slimani, mas têm pontos de contacto, nomeadamente a eficácia dentro da área.

Sabe-se que Jorge Jesus privilegia o 4-4-2. Assim sendo, e após a ausência da dupla de atacantes da época passada (Slimani e Teo), não será grande surpresa se o treinado forçar a utilização dos dois holandeses, com Castaignos nas costas de Dost. É, claro, uma tentativa de adivinhação, mas esta ideia surge ao olhar para as características do jogador que na época transacta jogou no Eintracht Frankfurt.

Apenas quatro golos e uma assistência em 19 partidas (948 minutos) na Bundesliga não é grande cartão-de-visita. O jogador de 23 anos tarda em dar o salto qualitativo que há muito promete, mas tem características que agradam a Jorge Jesus. O treinador gosta de ter envergadura física nas suas equipas e Castaignos, apesar da sua mobilidade e técnica individual, tem 1,88m. Pode, assim, constituir também um perigo pelo ar, mas não tanto quanto o seu compatriota. Só 24% dos seus remates foram de cabeça e ganhou 40% dos duelos pelo ar, pelo que são outros os seus predicados. Conseguiu 1,3 dribleseficazes, bem mais que Slimani (0,5) e Dost (0,3), sofreu 1,4 faltas por 90 minutos – o que o aproxima das características de mobilidade de Slimani – e apresentou uma taxa de eficácia de remate de 24%, praticamente igual à do próprio argelino.

É evidente que, agora, Jesus tem uma maior e melhor variedade de características para a frente de ataque. Capacidade na grande área e no jogo aéreo, mobilidade e bom drible, entendimento natural entre dois jogadores com a mesma nacionalidade. E quando quiser tem ainda Bryan Ruiz, Alan Ruiz e Joel Campbell para fazer o papel de segundo avançado.

Bas Dost parte na pole position no que toca a conseguir um lugar de imediato. É de todas as opções aquela que mais se aproxima de Slimani e a equipa não deverá estranhar a presençã do gigante. Quanto a Castaignos, será provavelmente a alternativa natural ao seu compatriota, apesar de também com ele poder fazer parelha nos jogos que se apresentem mais complicados.

 

Nota da Tasca: o site Goal Point parece ter-se esquecido de André neste artigo. Assim sendo, nada melhor do que procurar um pouco mais informação sobre o rapaz a quem muitos continuam a torcer o nariz. E dar de caras com um artigo intitulado: «André, um híbrido a precisar de Jesus»

 

A busca leonina de um jogador que pudesse compensar a grave lesão de Lukas Spalvis e as saídas de Teo Gutiérrez e Hernán Barcos (e quem sabe, no momento em que escrevemos, de Islam Slimani), foi uma das temas que mais capas de jornal alimentou.

Muitas dezenas de rumores e nomes depois, uns mais atingíveis que outros, o Sporting tem finalmente um novo homem de área. Chama-se André, chega do Corinthians, e já vestiu a camisola da “canarinha” em quatro ocasiões, a última das quais há cinco anos.

André começou a destacar-se muito cedo na sua carreira e com apenas 18 anos fez a sua estreia na equipa principal do “peixe” (Santos, do Brasil). Se na primeira época em 2009 marcou apenas dois golos, a segunda viria a ser tão auspiciosa que lhe valeria, no final da época, uma chamada à selecção principal do Brasil e uma transferência no valor de €8M para os ucranianos do Dinamo Kiev.

Essa época de 2010 continua a ser até hoje a melhor da sua carreira, tendo marcado um total de 26 golos entre Brasileirão, Taça do Brasil e Campeonato Estadual Paulista. No entanto a primeira aventura europeia não lhe correu bem, e após sucessivos empréstimos foi “resgatado” em 2012 pelo Atlético de Mineiro.

Habitualmente titular por onde foi passando, a folha de serviço de André apresenta quase sempre um mínimo de dez golos por época e tem a curiosidade de chegar ao Sporting com um total de exacto de 100 golos marcados em competições oficiais na carreira.

André representou o Corinthians, a última camisola que envergou antes de chegar ao Sporting. O avançado chegou ao clube de São Paulo em Janeiro de 2016 a “custo zero”.

A primeira metade da corrente época no “timão” não lhe correu particularmente bem, e para além do escasso tempo de utilização (foi titular apenas seis vezes em 20 jogos no Brasileirão), a sua passagem pelo Corinthians fica marcada por uma grande penalidade falhada num jogo decisivo da Copa Libertadores e por alguns episódios polémicos fora das quatro linhas. Até pelos comentários que chegaram do Brasil nas redes sociais, pode-se dizer que André não deixa muitas saudades entre os adeptos do “Timão”.

Devido a essa mesma pouca utilização, a época que analisamos de seguida é a de 2015, ano em que André, ao serviço do Sport Recife, apontou 13 golos num total de 29 jogos disputados.

Comparando os números de André com os de Slimani e Teo Gutiérrez na época passada, pode-se dizer que o brasileiro mistura um pouco de cada um dos jogadores, mas não necessariamente as melhores facetas.

Com mais seis centímetros do que Teo Gutiérrez, André apresenta naturalmente números melhores que o colombiano no que concerne à eficácia nos duelos aéreos, no entanto não se pode dizer que o brasileiro tire muito partido disso na hora de rematar à baliza. Apenas 0,4 remates de cabeça a cada 90 minutos estão longe de validar André como um bom “target man”, mas o preocupante é que, ao contrário de Teo Gutiérrez, André não compensa isso com uma mais constante participação no restante jogo ofensivo da equipa.

O ex-corinthians faz menos passes para ocasião ou dribles eficazes que o colombiano e ainda apresenta uma eficácia menor na hora de rematar à baliza. No entanto, o brasileiro é mais voluntarioso na hora de apoiar as obrigações defensivas.

Se em quantidade André está longe de ser tão activo como Islam Slimani, rematando cerca de metade das vezes do argelino, em qualidade e eficácia esse menor número de “balas” não é necessariamente compensado com eficácia de remate ou mesmo participação nos outros momentos da fase ofensiva.

Por esse motivo, não nos parece que André tenha, num primeiro momento, características para se assumir como titular dos “leões”, restanto ver como corre a sua adaptação e até que ponto Jorge Jesus consegue enaltecer as suas virtudes e trabalhar os seus defeitos na perspectiva de o tornar uma solução mais séria.

A verdade é que o técnico assumiu conhecer bem o brasileiro e até se referiu a ele como um dos exemplos do seu “scouting”, o que faz acreditar que Jesus tem ideias bem específicas sobre como aproveitar as suas características dentro do modelo que preconiza.

Novo Liedson, mais um Tiuí ou algo pelo meio? O destino de André reside nas mãos de Jorge Jesus.

gp andre