Desde que Bruno de Carvalho chegou à presidência do Sporting, a união de esforços entre Benfica e Porto passou a ser bastante regular. É verdade que também tem os seus dias mais difíceis, mas regra geral, os responsáveis vermelhos e azuis cuidam para que não voltem a velhas e já esquecidas cruzadas. Não sei o que a maioria dos adeptos leoninos pensa sobre isto, mas para mim a razão desta jointventure está bem identificada.

O Benfica apodreceu tanto sob a liderança de Vieira que, de repente, olhou para o Porto e reconheceu no velho inimigo um irmão gémeo separado à nascença. É claro que a circunstância de Vieira e Pinto da Costa terem sido aprendiz e mestre (respectivamente) ajuda, mas não explica tudo. A dado momento da recuperação (primeiro financeira e depois desportiva) do Sporting, os presidentes dos rivais entenderam ser melhor dividir o bolo do dinheiro e dos títulos por dois do que arriscar ter que o dividir mais tarde por três. Quer na Liga, quer na Arbitragem, quer nas movimentações das “placas” partidárias que afectam Câmaras, Institutos, Finanças e outras extensões do Estado, Benfica e Porto juntaram interesses e “poderes” para marginalizar o Sporting, deixando-o de fora de qualquer futuro centro de poder ou esfera de decisão.

O plano quase que deu certo, não fora um pequeno detalhe: o Sporting é um clube enorme, com uma força e uma visibilidade por vezes maior que qualquer um dos rivais. O Sporting foi capaz de superar os seus medos, recuperar o seu orgulho e enfrentar de frente Porto ou Benfica, fosse qual fosse o terreno ou a arma escolhida…e tantas vezes dando luta a ambos de forma simultânea. Esse ressurgimento não estava nos planos do Dueto Improvável e perante as brechas abertas na muralha dos patrocínios “para dois”, a Santa Aliança desfez-se. Manteve-se porém o mais importante, o medo do espaço que o Sporting pode vir a conquistar a ambos, sendo que o capítulo mais recente se chama “Era uma vez um Sporting que controlava a Arbitragem”.

Neste emparelhar de críticas, pressões, carvão ou o que lhe queiram chamar, Benfica e Porto despejam, desordenadamente o que pior sabem, o que não sabem e o que se lembram que fizeram em tempos…tudo num mix que servem nos media pela voz e pelas penas de valiosos opinadores. Neste momento nada disto é conscientemente concertado, mas no final das contas o interesse é o mesmo – fazer regressar um ambiente pesado para quem vai arbitrar jogos do Sporting, imputando ao clube de Alvalade o estatuto de beneficiário de erros, aproveitador de uma coisa qualquer que paira no ar, que faz com que o árbitro decida em seu favor lances fulcrais do jogo. O problema para nós não é que se consiga encontrar algum grama de razão nas queixas dos rivais, mas sim uma condição paradoxal que “cola” isto tudo a qualquer coisa de palpável no subconsciente dos adeptos rivais – o Sporting tem tido arbitragens mais razoáveis e menos penalizadoras que nas épocas passadas e é isso que está a ser confundido com favorecimento, pondo as coisas curtas e grossas: o nosso histórico é tão mau, que os adeptos rivais (com o agrado das suas “estruturas”) já confundem o normal com favorecimento.

Confesso que não sou capaz de manter qualquer optimismo quanto à manutenção do tal grau de normalidade que mencionei e estou sempre à espera que no próximo encontro surjam as “normais” invenções e vista grossa com que nos brindam ano após ano. Esta falta de expectativa não deve porém afectar-me o julgamento quanto ao que se passa actualmente no novo Conselho de Arbitragem. É notório que existiu uma mudança de rumo e que essa mudança desagrada brutalmente aos hipócritas dirigentes do Benfica, os tais que diziam que eram os únicos que valorizavam o contributo dos árbitros, os tais que se punham em bicos dos pés para afirmar a burrice dos que faziam críticas ao sector, os tais que hoje em dia fazem tudo o que no ano passado apelidavam de “pouca vergonha” e “inútil” com a acréscimo de estarem a fazer inovação na arte do insulto verbal e diz-se até, na intimidação física, aos representantes do CA e APAF. O Porto tem sido mais discreto, mas igualmente pontual nos “pedidos” de isenção.

Tudo isto pode ser meramente circunstancial e rapidamente ser devolvido aos colinhos e afins, mas o facto é que algo “parece” mesmo ter mudado. Nós, os sportinguistas, teremos de ser o primeiro muro na defesa do que mudou e não ajudar a que alguma coisa de positivo que tenha sido construído se desmorone por vontade e pressão do “amigo Vieira”. A batalha é sempre contínua e nós teremos de entender qual é o nosso lado e onde se encontra a frente. Não podemos, nem devemos alhearmo-nos destas polémicas e não ver as manobras dos nossos rivais, pois elas denunciam ou mascaram os verdadeiros alvos e onde teremos de estar para não lhes permitir as excepções de que têm beneficiado. Se existir alguém que diga “não” a Vieira e isso seja sinónimo de isenção, esse alguém terá o meu apoio a 100% e não o meu alheamento.

Como já disse, há uma batalha em curso e mensagens a ser passadas pela imprensa, avisos a ser feitos no facebook, respostas em Diários sentimentais e muito jogo sujo a rodar na paineleirice televisiva. Não se pense que o folclore é inocente, o barulho é desprovido de objectivo ou as “bocas” são de circunstância. Nada disso. Os três grandes estão a jogar um jogo de pressão, num velho tabuleiro e o prémio é claramente o status da arbitragem. Uns querem colinho, outros a fruta de outras “épocas” e imagino que o Sporting lute por um novo paradigma em que finalmente vamos deixar de olhar para o árbitro como um inimigo dentro de campo. Este jogo é real e convém que todos o reconheçam.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca