golomadridPode parecer estranho afirmá-lo depois de uma derrota, mas a exibição do Sporting em casa do campeão europeu é daquelas que deve ser recordada durante muito tempo. Não sei se com Jorge Jesus no banco até final o resultado seria mesmo outro (e, atenção, a expulsão do técnico leonino é mais um “preciosismo” do árbitro com uma dualidade de critérios gritante e caseira, nomeadamente na amostragem de cartões amarelos), mas sei que o que fizemos no Bernabéu merecia outro desfecho.

Porque a verdade é que, desde o primeiro minuto, o Sporting foi mais equipa do que o Madrid. Jesus montou uma teia quase perfeita a meio-campo, desviando Bruno César para o apoio directo a Adrien e pedindo a Ruiz para ser um falso extremo esquerdo que surgia várias vezes junto a Bas Dost. Na defesa, a ordem era para não jogar tão subida, encurtando as possibilidades do adversário fazer o que mais gosta: jogar em profundidade. E do papel para o relvado, a táctica resultou em pleno, com Modric sem espaço para pensar e com Ronaldo e Bale a passarem mais tempo a atirarem-se para o chão e a pedirem faltas imaginárias do que a jogar à bola.

Isso e muito fizeram os nossos. Gelson calou quem dizia que o puto chegaria a um palco destes e tremeria. Não só não tremeu como foi uma seta sempre apontada à área adversária, colocando a cabeça em água a Marcelo, acertando na baliza sempre que rematava ou fazendo cruzamentos a cheirar a golo, sem esquecer a disciplina táctica no plano defensivo. E se o miúdo foi figura maior, Bruno César e Coates foram a guarda de honra. O brasileiro, autor de um golaço, é um dos destaques da equipa neste arranque de época e jogando ao meio empresta ao nosso futebol uma fantástica capacidade de pensar rápido e de fazer passes de ruptura. Quanto ao uruguaio, meteu no bolso Benzema e parecia estar em todo o lado onde fosse necessário (aquele corte de carrinho dentro da área, sobre Ronaldo, é impressionante).

Depois, a equipa. Toda ela. Um bloco quase perfeito, com uma personalidade de deixar qualquer adepto de sorriso rasgado. Bola no pé, sem medo e com propósito. William a baixar, centrais a abrir, laterais a subir, pressão alta, Adrien e Bryan Ruiz a contemporizar quando assim tem que ser, a defesa com uma tranquilidade assinalável (ainda me rio quando recordo o atraso de cabeça de João Pereira num momento de pressão adversária) e um Leão a dizer com voz grossa “venham atrás da bola se quiserem que se vocês são o Madrid nós somos o Sporting!” (e, já agora, olhem para  bancada e escutem os nossos, aqueles que se fazem escutar onde que que seja!).

Sim, tudo isto merecia outro desfecho. Merecia que o voo de Patrício desviasse a bola rematada por Ronaldo e que ela não teimasse em bater no poste e em entrar. Merecia que a mais gritante falta de concentração colectiva, aos 94, não fosse castigada com um segundo golo. Mas faz parte da regra do jogo que ele só termine quando o árbitro apita. Tal como as substituições servem para alterar o que se passa no relvado e a verdade é que nesse capítulo a vantagem foi para os espanhóis. A saída de Gelson permitiu aos brancos irem subindo cada vez mais no terreno e Elias não conseguiu ser o tampão que Adrien estava a ser (até porque Bruno César já não tinha o gás que tinha tido). Fica, também, a ideia que Campbell deveria ter entrado uns dez minutos mais cedo, assim que se percebeu que o adversário estava a crescer e nós estávamos a recuar, além de que Bryan e Dost tinham desaparecido da partida.

E com tudo isto, no espaço de cinco minutos, viajámos do céu ao inferno. Pelo meio, ficou a certeza de estarmos a construir uma grande equipa e de que este Sporting tem futebol para dar e vender. O futebol que, domingo à noite, terá que voltar a aparecer em Vila do Conde.