Uma das coisas mais utópicas criadas pelo Homem é a Democracia. Não porque não funcione, mas porque (tal como o próprio criador) é e sempre será…imperfeita. E sendo imperfeita, muitas vezes é fácil de atacar, subverter, manobrar, produzindo aberrações que contrariam a sua própria essência. Mas até ver, é o sistema que mais provas deu de manter uma sociedade minimamente equilibrada e funcional, e como tal, deve ser defendida até às últimas consequências, pois perdendo o equilíbrio e a regra, a pluralidade e o interesse comum, já demos provas de sermos (como espécie) capazes de atrocidades que fariam um T-Rex ou um vírus da Idade Média corar de vergonha.

As eleições do Sporting ainda vão demorar, mas parece que os maus resultados da equipa de futebol fizeram despontar em alguns “players” a vontade de acelerar a “campanha”. Não só é prematuro, como inútil ao momento do nosso futebol, começarmos a misturar alhos com bugalhos. Principalmente porque se mistura o momento presente com o futuro como se fossem a mesma coisa, mas não são.

Lendo o post do nosso Presidente fico a pensar se é justificada esta preventiva vacinação das hostes. Não contesto o conteúdo, pois desconheço absolutamente movimentações dessa tal oposição que tantos falam, mas contesto…isso sim, o timing. Especialmente porque me “obriga” a pensar e falar em coisas que, tenho a certeza, não têm agora o seu tempo ideal para serem analisadas ou discutidas. As eleições são a pedra de toque de uma democracia. É o ponto de chegada e de partida e checkpoint permanente de qualquer sistema que se queira “democrático”. No Sporting, gosto de pensar que todos acarinhamos esse processo e apesar das tais “imperfeições”, imagino que todos nós adeptos leões estamos sinceramente interessados em que as próximas eleições sejam o palco ideal para dar mais força e mais peso à direção vigente ou a outra que lhe suceda. Bruno de Carvalho e restante elenco directivo teve o meu apoio desde o dia 1 e nunca abalei na crença que foram e são as pessoas certas no lugar certo, falíveis, mas essa condição todos nós partilhamos. Esse apoio, ao contrário de outras opiniões, não me obriga a votos antecipados. Nem a Bruno de Carvalho, nem a ninguém.

O princípio de uma eleição é simples. Um ou vários candidatos sujeitam as suas ideias a debate e desse debate emerge a validade dos argumentos de cada candidato e a sua competência para ser eleito. Dizer já, a cinco meses das urnas, que vou votar em Bruno de Carvalho era tornar redundante a apresentação das suas ideias e o confronto com outras que possam surgir. Quem ganharia com essa “dispensa”? O Sporting não será certamente e acima do clube, do seu interesse, não há ninguém. Eu quero, acima de tudo que as eleições produzam no clube um efeito positivo e que seja quem for que as vença, conquiste o elan e a base de apoio para todo um mandato, isso não advém de “facilitismo” ou de votos cegos, mas sim da batalha árdua para obter os melhores argumentos, soluções, programas, planos e pessoas. Dizer “eu vou votar Bruno, seja qual for o boletim de voto ou o debate na campanha”, é além de prematuro…inimigo do próprio Bruno como candidato, principalmente quando é o actual presidente. Apoiar alguém num dado momento não é o mesmo que ter um contrato de fidelidade com essa pessoa. Apoiar um candidato é apoiar ideias, no meu dicionário de democracia isso está bem explícito. E eu quero ouvir todas as ideias de Bruno de Carvalho e de qualquer outro candidato, contrastá-las com o seu passado de ligação ao clube, comparar as listas, medir os objectivos a que se propõem, etc. Só depois de tudo isso, saberei dizer se um ou outro é merecedor do meu voto. Fazer tudo isto em Novembro, é para mim o mesmo que escolher uma de duas prendas que desconheço, sendo que só farei anos em Fevereiro. Prematuro e inútil.

Ler nas palavras do meu Presidente que “gosta de tirar os ratos do porão” numa mensagem que rotula como necessária e ligada às futuras eleições, baralha-me. Primeiro porque 75% da mensagem…nem eu, nem a maioria dos meus consócios, entendemos a quem se dirige, ou a quem se refere. E pegando por aí, pelo destinatário, torna-se falha a tentativa do presidente e digo isto, porque o próprio aponta o destino da missiva aos sportinguistas e não somente aos visados pelas críticas. Na minha opinião, Bruno de Carvalho pressupõe que as próximas eleições irão ser disputadas entre si e a “tal oposição” que, na sua opinião é danosa ao futuro do clube. Esquece-se, e tenho pena que o tenha feito pois diminui o processo (o tal que devemos defender até às últimas consequências) a um contraste entre ele e a “sua oposição”, que poderão surgir nas urnas listas e candidatos que não tenham como principal motivação a “oposição” à sua presidência e candidatura, mas sim, o interesse (o tal que está acima de qualquer um de nós) do Sporting Clube de Portugal. Devo dizer que não tenho o actual presidente como um sucedâneo dos tiques ditatoriais que imperam nas lideranças dos nossos rivais e que tenho quase a certeza que está na sua mente e na sua vontade, enaltecer e fazer destas próximas eleições um exemplo aos demais clubes de Portugal, um espaço onde as ideias possam surgir livremente, um tempo em que não há sportinguistas de primeira ou de segunda, um processo que enriqueça o clube e que o una o mais possível.

Este não foi um bom começo. Melhores oportunidades surgirão, não tenho dúvidas. Deixo apenas um conselho ao meu Presidente: confie no discernimento do seus consócios e não se deixe levar pela vontade de nos permanentemente fazer recordar o que está em causa, como estava o clube antes da sua chegada ou os riscos de voltar ao passado apostando nas pessoas e projectos errados. Essa “luta” será bem menos proveitosa para o Sporting do que a sua concentração no momento actual da equipa de futebol e o seu foco nas melhores soluções para o futuro do clube. Deixe connosco a identificação e valoração da “tal oposição”, deixe connosco os tais “ratos de porão”, pois todos nós temos memória e inteligência suficiente para entender as suas motivações ou alianças. Concentre-se, por favor, no que é útil e premente.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca