Não consigo olhar para esta campanha leonina na Champions e ver aquelas tragédias que nos anunciaram assim que nos saiu na sorte o Campeão em título (e talvez o maior clube do mundo) e o Dortmund, um emblema modelo para qualquer agremiação desportiva, com uma estratégia de organização exemplar que constará em qualquer case study de um perito em gestão desportiva. O Legia não era o palhaço de serviço como foi pintado e apesar de viver uma autêntica revolução interna conseguiu fazer mais golos que muitas equipas da prova e está muitos furos acima dos quartos classificados de muitos grupos.

As exibições foram claramente melhores que os resultados e o Sporting lutou, de facto, por todos os pontos em disputa, sendo que em muitas partidas ficou a dever-se a si próprio e a algumas falhas de concentração a conquista de mais pontos, argumento sustentado pelos próprios treinadores adversários no final das partidas. Mas assumo-o, consigo entender a exigência de não ficar feliz só com a nota artística, não consigo atingir a indignação com JJ ou com os jogadores por erros pontuais, que até é discutível serem a base do não apuramento para a fase seguinte. É que se “jogar bem” não significa nada para as tabelas classificativas, deve significar qualquer coisa para os adeptos e responsáveis do clube. Tenho a opinião firme que perder a jogar o suficiente para isso não “ser justo” significa sobretudo que a proximidade com o bom resultado foi grande e não consigo entender como nos pode falhar a humildade de não considerar isso bom, especialmente contra Real Madrid e B.Dortmund.
Não devia ser preciso lembrar a todos a diferença orçamental entre os clubes deste grupo da Champions, parece estúpido comparar as soluções à disposição de cada um dos treinadores e é mesmo absurdo considerar sequer racional exigir ao Sporting, ou a qualquer clube português, que num grupo destes fizesse muito mais do que nós fizemos.

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Ao longos dos anos que leva a Champions, cada vez os clubes nacionais estão mais longe dos apuramentos, mais longe das surpresas. Apontar os sucessos pontuais de edições anteriores é levianamente acreditar que as excepções são regras, sem querer ver – com olhos de ver, que defrontar um grande emblema europeu na sua maior força ou um grande emblema europeu em crise desportiva..não é a mesma coisa. E são factores aleatórios como este que têm levado os nossos clubes a fugir às previsões e a espantar ocasionalmente o planeta do futebol. Se alguém fizer uma recolha de dados das carreiras dos clubes portugueses na Champions, constatará que o modelo base de participação indica que metade das vezes caímos para a Liga Europa e na outra metade caímos logo na fase seguinte, o evoluir para fases adiantadas da prova é muito menos provável e estes dados não são fruto do acaso, são acima de tudo, uma tendência que revela uma conjuntura.
Apesar dos upgrades sucessivos dos três grandes em Portugal, a evolução das suas finanças e gestão desportiva não acompanha o crescimento dos clubes do chamado Big Four (Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália). Isso tem uma explicação fundamental: o dinheiro. Seja pela conjuntura económica de cada país ou o que ela afecta o dinheiro que chega aos clubes via direitos de TV, a verdade é que os “super-negócios” recentes de Sporting, Benfica e Porto, são ainda assim migalhas comparando com o que recebe por exemplo o Sevilha, o B.Leverkusen, a Lazio ou o West Ham.

E, meus caros, se os orçamentos não ganham jogos, servem espantosamente bem para apostar nos melhores treinadores e nos tais jogadores que sem que nada o possa indicar, pontuam uma exibição miserável com um golo contra a corrente de jogo. É muito giro dizer aquelas coisas engraçadas que os clubes portugueses deviam olhar para a carreira da Selecção Nacional, que se sagrou Campeã Europeia derrotando os “monstros” favoritos. É muito bonito, mas está absurdamente errado e mais uma vez recorro a quatro argumentos que esclarecem o quão estúpido pode ser este argumento (que consta de muitas crónica de muitos cronistas, pagos para construir ideias úteis, mais do que esclarecer opinião):
1/ As Seleções não vendem jogadores, não os “perdem” para as Selecções Espanholas e Inglesas
2/ Um dos factores mais decisivos no Euro2016 foi a colocação de Portugal no 2º lugar do grupo, facto que facilitou evitar as selecções favoritas até à final (Espanha, Itália, Alemanha e França);
3/ Se formos justos o jogo de Portugal na final assentou em defender bem e sair em segurança para o contra-ataque, modelo que estamos familiarizados quando equipas mais pequenas temem adversários teoricamente melhor colocados para assumir as despesas do jogo
4/ Uma selecção com Ronaldo, Patricio, Pepe, Guerreiro, William, Adrien, João Mário, Quaresma ou Nani, não é propriamente refugo e faz até um onze bastante decente, mesmo olhando para as mais fortes equipas mundiais. Os melhores argumentos caem também por terra quando olhamos para a lista de vencedores de Liga Europa e Champions nos últimos 5 anos (7 títulos para Espanha, 2 para Inglaterra e 1 para a Alemanha). O argumento ainda se aprofunda mais se considerarmos quem foram os finalistas da Champions no mesmo intervalo: em 10 lugares, Espanha teve metade dos finalistas (5) , Alemanha 3, Inglaterra e Itália 1 cada. Ou seja, o Big Four, fez o pleno de presenças na final. Isto não tem relação directa com os orçamentos dos grandes clubes destes países? Querem mesmo fechar os olhos a este facto?

Basta aliás ver a dificuldade enorme de Benfica e Porto em definirem os seus apuramentos em grupos bem mais acessíveis, para poder concluir que o Sporting não está em nada, abaixo da bitola lusa na prova, por mais que os “opinadores” se esforcem por reunir pregos para “espetar” JJ na cruz do insucesso e da tal teoria ridícula que “não é bom na Europa” (quando fez duas finais da Liga Europa e colocou o nosso rival no topo do ranking da UEFA). Esse não é o caminho para nós adeptos leoninos. Temos de ver a realidade como ela é. Os “grandes” portugueses são bastante mais pequenos na UEFA e esperar grandes feitos nas noites europeias é um saudosismo que nos afasta de olhar para as questões, essas sim úteis, que explicam os motivos porque nos afastamos cada vez mais do pelotão da frente do dinheiro no futebol. As tais questões que a Liga, a FPF e o Governo de Portugal trabalham diariamente para que não se debatam nos jornais, rádios e televisões. É muito mais fácil criticar o treinador do Sporting e achar que foram queijinhos suíços que faltaram à nossa equipa. Faltaram magicamente, como desaparecendo misteriosamente na comparação entre Ronaldo e Markovic ou entre Modric e B.César. Alguns jogadores do Sporting poderiam jogar no Real Madrid, mas muitos mais seriam bem-vindos de Madrid para Alvalade (alguns suplentes até seriam um luxo de verde e branco).

Sejamos honestos, as únicas coisas dos nossos clubes que estão ao nível do top europeu é a qualidade da sua formação e os passivos acumulados, o resto é fezada, muito amor ao clube e à incerteza, cada vez mais rara, do futebol. Vejam o modelo anunciado da Champions para 2018 e reflictam na tal tendência que referi.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca

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