Infelizmente já estamos tão habituados à hipocrisia e dissimulação de agendas obscuras no futebol português que por vezes ficamos adormecidos e impávidos, seja qual for o escândalo que nos passe à frente dos olhos. Nos últimos dias, dois elefantes africanos entraram pela loja de porcelana do futebol tuga, “varreram” o stock e todos continuaram a olhar para as estantes, como se tudo tivesse ficado intacto, belo e “comprável”.

Elefante nº1 – O Football Leaks v2.0
O consórcio de comunicação europeu (composto por várias publicações europeias desportivas e não só, onde se incluí o Expresso) responsável por “mastigar” terabytes de informação do nosso “velho amigo” John, vai libertando, a conta gotas, várias notícias sobre um tema em particular: o desvio de verbas pagas a jogadores, usando o expediente de paraísos fiscais, que ocultaram muitos milhões de euros a grandes vedetas do desporto-rei. Os célebres direitos de imagem (uma espécie de nome fino para denominar as antigas “luvas”) fizeram parte de uma rede hiper-ramificada que a Gestifute e outras do género usaram para esconder grandes somas de dinheiro dos fiscos europeus. À cabeça deste escândalo estão quase todos os jogadores representados por Mendes e como é evidente o fisco luso vai ser o último a “acordar” para este problema, e provavelmente só quando as Finanças Espanholas, Francesas e Inglesas já tiverem feito o trabalho de “sapa”.

Poderíamos pensar que tão grande e estrutural bronca tivesse uma ampla cobertura, principalmente pela imprensa desportiva. Errado. Na TV, zero. Na rádio, zero. Nos 3 jornais diários desportivos, zero vírgula três, o que equivale a umas notas de rodapé que dão eco em 2 ou 3 linhas do que outros jornais estão a divulgar, mas sobre ângulos que evitam o nome “Jorge Mendes” ou “crime”. Quem quiser que pense que tudo não passa de grandes e complicadas coincidências, mas é preciso uma ingenuidade paranormal para não entender que muito do que vemos e ouvimos está subordinado a poderes, que neste caso particular, tudo fazem para que o Sr.Comendador continue a ser reconhecido como alto benfeitor do nosso futebol e um aliado de mérito do nosso rival da 2ª circular. A verdade é que se torna cada vez mais claro o tipo de banditismo financeiro que este homem pratica e por mais que seja inovador ou eficiente, não deixa de ser crime e não deixa de ser passível de condenação judicial.

Elefante nº2 – Os penaltis invisíveis
É curioso como uns penaltis são marcados e outros não. E a curiosidade está sentadinha em cima do facto de, normalmente os assinalados são para um clube e os que não o são, cabem aos restantes emblemas. Nos anos 80 e 90 chamávamos a esta complexa teia de arbitrariedades…”roubar”. Agora chamam-lhe disparidades de critério. Parece menos grave e até mais entendível, mas fundamentalmente é a mesma coisa. Uns jogam mal e merecem perder, outros jogam mal e são salvos por “inspirações divinas” que na horas de maior aperto elucidam o julgamento dos senhores de apito. No final das partidas, as crónicas esquecem-se destas questões “menores” e entretêm-nos com observações atentas de coisas que não valem absolutamente nada, enchouriçando à pazada o mérito de quem venceu porque um penalti discutível foi mesmo assinalado. Até as queixas de determinado clube são analisadas de forma diferente e chamo a atenção do intenso debate gerado sobre a necessidade de diminuir o problema chamado anti-jogo, que teve lugar, curiosamente após a derrota do Benfica no Funchal. Hoje, com a distância pontual bastante aumentada, já ninguém se lembra desse “cancro” do futebol, já ninguém verte lágrimas pela dignidade do jogo e do espetáculo nos estádios.

Acrescento a este balde de excrementos a nota dada ao árbitro do último derbi. 8,6 – numa escala de 0 a 10 é uma excelente nota. Tão boa que atropela fantasticamente a condição particular de nesse jogo terem ficado, 2 ou 3 penaltis (as opiniões dividem-se) por marcar…para a mesma equipa, o que somado ao facto de um dos golos da equipa vencedora ter nascido, precisamente num desses lances, dá um retrato de uma arbitragem essencialmente desvirtuadora do resultado, ou seja, merecedora de uma nota bastante insatisfatória. O observador não viu o que todos viram e foi completamente solidário com o “roubo”, com a agravante de ser ele a classificar a arbitragem e portanto a torná-la “boa” em vez de “má”. Todos sabemos o que aconteceria se os penaltis fossem para a equipa oposta, pelo menos a julgar pela amostra da ressaca da derrota na Madeira, o que torna tudo boa matéria para reflectirmos. A quem pensava que a força do Colinho estava diminuída pelo novo Conselho de Arbitragem, look again…

jorgesousa

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca