Oficialmente a campanha para as próximas eleições do Sporting só começarão daqui por dois meses, mas enquanto o calendário eleitoral não é anunciado, muito já aconteceu no universo leonino, a maior parte longe dos media e da opinião pública.

Ontem foi dia de apresentação de uma candidatura e por agora Pedro Madeira Rodrigues é o único candidato oficial. Apesar de todos os jantares, encontros, posts de facebook e demasiados rumores jornalísticos existe só um candidato. É cedo? Será mesmo? Existirão por aí tantos leões sentados numa poltrona, afagando o pêlo de um persa enquanto no reflexo de um balde de brandy vislumbram uma candidatura tardia, a tal que arrebatará em meia-dúzia de horas toda a nação sportinguista, num sebastianismo demodé e troppo hollywoodesco. Não creio.

Apesar de tudo o que foi feito durante o mandato de Bruno de Carvalho e tendo este essa vantagem, dificilmente vejo pelo Olimpo dos notáveis, esse Zeus megapoderoso que aguarda o timing certo para diminuir a natural vantagem do actual presidente. Não sou vidente, mas sei olhar para um calendário e sei como se lança uma candidatura que tem o poder de chegar à imprensa e não vejo nenhuma a ser preparada. Se não leio, se não ouço, se não há jornalistas e pundits a operar na vanguarda…então o Zeus não existe e os “oradores” por uma proposta com peso social e mediático vão ter de construir um altar, certamente contrariados a Pedro Madeira Rodrigues.

O tabu, manobra ou compasso de espera de BdC é para mim uma surpresa. Por mais que saiba que as boas regras de um recandidato mandam que se use de todo o lastro de tempo possível para criar “momentum”, a verdade é que o Presidente fez demasiadas declarações, juras de amor eterno e promessas de continuidade do seu projecto, para à distância de um Inverno, desistir de todas as lutas para as quais nos arrastou e para as quais, eu pessoalmente, não estou disposto a abandonar.
Os meios tecnológicos estão por introduzir, os fundos offshorianos estão por denunciar e erradicar, os árbitros made in Seixal estão por desacreditar, os clubes estão por unir na centralização dos direitos de tv, um novo regime fiscal e politica de bilheteira estão por redigir, os horários dos jogos estão por harmonizar. Na minha opinião as Guerras Brúnicas ainda só agora começaram e o exército não pode ficar simultaneamente sem o General e sem o Cônsul, não pode dobrar o joelho tão cedo, mais do que um mandato, é o ideal do clube que firmou como combativo e justo que cai por terra. Isso seria inadmissível. Penso que BdC sabe que a sua não recandidatura seria muito menos que 4 anos de qualquer coisa bem feita, seria uma assinatura de deposição em tudo o que moveu o Sporting nos últimos 4 anos.

Podem dizer-me que o “jogo de poker” do presidente abarca esta hesitação, mas fico puto da vida quando se entende que o Sporting deve fazer joguinhos de “estados mentais” quando há tanto para melhorar no clube.

Sempre tive Bruno de Carvalho como um lutador nato, um homem de quebrar antes de torcer e especialmente alguém que se borrifava nos “apoios” dos notáveis. Estranho como agora se manifesta desconforto por uma coisa que nunca teve. Este presidente não está no Sporting pela sua habilidade política, pela sua capacidade de manobra no planeta “lixo” do futebol português, não conseguiu o que conseguiu pela fina arte de compactuar com as agendas pessoais de quem gosta de ser visto como poderoso, mesmo que para isso tenha de lamber o chão pelas migalhas que alguém que o espezinha, deixa cair numa filantropia salazarenta.

bunotupper

Meu caro Bruno, foram os sócios que se fartaram das “linhagens” que te elegeram. Foram os sócios que rejeitaram os escribas iluminados que assinam crónicas ao lado do símbolo do Leão rampante nos jornais que nos atacam diariamente. Foram os sócios que estiveram sempre ao teu lado que cagaram nas ameaças veladas que nas vésperas de seres eleitos anunciavam o fim do clube, o fim do nosso grande amor, acto que reflectia o pânico das descobertas que acabaste por comprovar. Meu caro Bruno, deixarás o clube entregue ao Contra-Ataque de um Império que tanto decidiste denunciar? Abandonarias o Movimento por um Sporting aberto e partilhado, popular e destemido nas mãos de um tecnocrata apaziguador de lampiões, que não hesitará em dobrar a espinha ao poder da banca ou de uma classe política apostada em reviver anos passados, anos de um vermelho dourado proteccionista? É isso que nos deixas pela tua desilusão de não teres “pessoas” em lugares de destaque a defender-te nos media?

E se deixei recado a Bruno, deixo agora recado a Pedro e aos possíveis Pedros que se juntem à eleição. O Sporting não é Bruno de Carvalho. Os problemas de estilo do presidente não são o futuro do clube e o que foi feito teve uma razão de ser, que só por estupidez e cinismo alguém não compreende. Meu caro Pedro, passas uma má imagem ao colocares o dedo na ferida dos títulos e proclamares o mandato de uma Direcção eleita legitimamente como a potenciadora dos tri ou tetras lampiões. É baixo, é mesquinho e diz mais sobre a tua motivação do que rebaixa o mandato actual.

Sejas City Lion ou Croquete Lion ou outro Lion qualquer, centra-te no clube, no que te propões a trazer de novo e enriquecedor para o clube. Seres o candidato anti-Bruno é demasiado redutor e se entendes que fazer tudo na inversão do que foi feito, ou como foi feito, é uma receita mais errática do que imaginas. Muito do que BdC fez, foi bem feito. Existiram e existem muitos erros, mas fazeres melhor não é necessariamente acessível virando o espelho ao contrário…para tua surpresa te digo que, o reflexo será sempre o mesmo. Concentra-te no que tu queres fazer pelo Sporting e não o que achas que BdC fez de mal. É que podes ter a ilusão que bastará ser o oposto do actual presidente para arrebatares a nação leonina, não poderias estar mais errado. Do que estamos fartos não é do “estilo do presidente”, dos seus posts, de eventuais incoerências e incompatibilizações. Estamos fartos é de perder jogos, sermos roubados, marginalizados nas leis, castigos e notas de árbitros…e se quiseres convencer-nos de que trazes qualquer coisa mais começa por propor medidas que nos possibilite contrariar estes prejuízos.

A qualquer candidato a presidente do Sporting deixo uma pequena reflexão: imaginem que o Sporting tinha uma super-equipa de futebol, os cofres mais cheios da Liga, o estádio mais lotado em território nacional, o maior apoio fora de portas, jornalistas por essa Europa fora a tecerem os mais rasgados elogios à nossa forma de jogar…este Sporting seria campeão? Ou não somos tudo o que descrevi, precisamente porque nos é constantemente barrado o título, porque somos constantemente arrastados para a urgência de ganhar e chegar a um patamar que invejamos mais do que somos capazes de construir?

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca