27 de Dezembro de 2016. Pedro Madeira Rodrigues apresenta oficialmente a sua candidatura e torna-se no primeiro nome a avançar para as próximas eleições do Sporting Clube de Portugal. E escutando, com calma, o discurso do candidato que foi buscar o tão na moda Sempre na Frente, naturalmente nervoso no início e mais solto no final, eu diria que o melhor da sua intervenção foram as primeiras palavras: «Existe uma grande vontade de aproveitar o momento para debater o Sporting».

Enquanto Sportinguista, e até porque ainda me revejo na actual direcção, este é, sem dúvida, um ponto chave. Porque, obviamente, nem tudo está bem, e achar o contrário é prestar um péssimo serviço ao clube. E porque, obviamente, há questões a melhorar e há perguntas que devem ser feitas e que pedem respostas directas e capazes de deixar de lado pequenas dúvidas, dando-nos indicação de que os passos seguintes permitirão mais e melhor.

Depois, a questão da elevação. «Da minha parte e para bem do nosso clube, garanto-lhe elevação e respeito nesta campanha e espero o mesmo de si. Somos ambos Sportinguistas. Foi importante o que fez pelo clube em determinado momento.» A ser este o registo, só pode ser motivo de sorrisos para os Sportinguistas, de certo bem lembrados das trocas de galhardetes que transformaram as eleições anteriores numa espécie de circo. Algo, aliás, que Bruno de Carvalho viria a referir na intervenção que se seguiu à apresentação da candidatura de Madeira Rodrigues.

«Bruno de Carvalho foi importante o que fez pelo clube em determinado momento, acima de tudo, por ter sido capaz de combater uma espécie de dinastia que nos estava a corroer por dentro. Infelizmente não foi capaz de manter um projeto coerente e sustentado. E hoje é evidente que nos limitamos a navegar à vista, sem rumo e com resultados muito aquém dos investimentos e das expetativas geradas»
Não há dúvida que a distância para o primeiro lugar, no futebol, vai ser um cavalo de batalha. E não há dúvida de que existiu um fortíssimo investimento nas modalidades, com intuito de ganhar, senão tudo, quase tudo. E a questão que se colocará ao eleitorado é se tudo depende, afinal, da bola bater na trave ou entrar?

«Bruno de Carvalho tem sido sinónimo de títulos, sim… mas de títulos para um dos nossos rivais. Assim, nunca me perdoaria se não desse a cara neste momento.»
Entramos no campo dos argumentos mais populistas e menos válidos. Bastaria perguntar a Madeira Rodrigues de que direcções se lembra ele que não tenham sido sinónimo de vitórias dos rivais… Mas, repito, este será um dos lados populistas da campanha de Madeira Rodrigues: «em termos de resultados o Sporting tem ficado aquém das expectativas e comigo deixará de acontecer, vamos voltar a ganhar!»

Falou-se depois de recuperar a formação e o ecletismo como ADN (nada de novo), com a nota de que a aposta será tendo em vista a estabilidade financeira (fica no ar a possibilidade de um menor investimento nas modalidades);
disse-se que Jesus é treinador do Sporting (um facto e seria idiota estar já a dizer se é com ele que pensa trabalhar num hipotético futuro);
pegou-se numa das críticas recorrentemente feita e lançou-se uma farpa ao estilo do ainda presidente (prestigiarei diariamente o nome do Sporting Clube de Portugal);
reforçou-se subliminarmente a crítica a algumas das intervenções de Bruno de Carvalho (voltaremos a ter uma família unida, num chavão que, acredito, vai ser utilizado várias vezes);
prometo um estilo de liderança completamente diferente (isto significa…?);
«vou-me saber rodear de grandes Sportinguistas, o problema está identificado, temos um leque muito alargado de escolhas». E afirmou ter falado com João Benedito e esperar poder contar com o seu apoio (ainda bem que o fez, assim obriga Benedito a falar de uma vez por todas).

O candidato à liderança leonina prometeu, ainda, «trazer uma gestão muito rigorosa e uma capacidade de gerar receitas. Temos uma massa adepta absolutamente fantástica, há um potencial por explorar. Vamos gerar receitas, seja pela via dos sportinguistas ou dos investidores. Serei capaz de angariar investimento para o nosso clube». Fica a pergunta: que investimento e que investidores?

Quando questionado sobre as relações com os outros clubes, nomeadamente sobre a possibilidade de reatar relações com o benfica, Madeira Rodrigues afirmou que «nos grandes clubes temos de dar o exemplo. Vou estar muito atento. Vou assumir que todos queiramos fazer o melhor pelo desporto nacional. Podemos ajudar o desporto português a voltar a encarreirar e a ser sinónimo de festa, e não desta guerrilha permanente. O Sporting tem de dar o exemplo para o desporto nacional. Tenho visto uma nova geração de dirigentes a chegar ao futebol e espero que se queria fazer bem ao futebol em vez da atual guerrilha que se vive

O candidato terminou com um apelo a que outros possíveis candidatos canalizem essa vontade para um apoio à sua lista. «Qualquer candidatura que possa entrar depois da minha vai beneficiar indiretamente Bruno de Carvalho, que apesar de tudo é o atual presidente e tem uma notoriedade maior. Outra candidatura iria fazer com que os votos se dividissem e iria dificultar esta mudança.»

madeirabruno

Cerca de dez minutos depois, Bruno de Carvalho respondia, dando as boas vindas ao Pedro Madeira Rodrigues e a todos os que venham a candidatar-se e colocando à disposição de todos os candidatos os meios de comunicação e as instalações do clube, mostrando-se, ainda, disponível, para dar todos os esclarecimentos sobre o estado do clube que os candidatos venham a precisar. Com um claro, «os presidentes não são feitos para responder a candidatos», Bruno de Carvalho foi isso mesmo: presidencial.

Tranquilo, apelando à elevação e incentivando a oposição, eu diria que o actual presidente do Sporting teve a sua melhor intervenção de há muito tempo a esta parte, sabendo dosear perfeitamente o aplauso ao aparecimento de candidatos e os apontamentos que foram sublinhando o trabalho feito no seu mandato e as dificuldades que sentiu quando se candidatou.

Sim, ainda não é oficialmente candidato, mas esta intervenção mostrou uma importante noção de estratégia por parte de quem, acredito, não quererá abandonar a reconstrução de uma casa depois de ter solidificado alicerces e reerguido paredes, faltando decorá-la a preceito e arrelvar o terreno em volta da piscina.