Rui Biscaia, Senior Lecturer na Coventry University, Reino Unido; Investigador do CIPER-ULisboa e SPRINZ-AUT, Nova Zelândia, escreveu um texto, publicado no jornal A Bola, que me parece levantar uma questão interessante. Fica para vossa análise.
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Numa entrevista a um meio de comunicação social inglês no passado mês de dezembro, o chairman de um clube que ocupa uma das últimas posições da League One ameaçou reduzir o orçamento com o plantel na próxima época no caso dos níveis de assistência aos jogos continuarem abaixo do expectativa inicial do clube. Esta é uma situação insólita e que levanta muitas questões sobre a importância do relacionamento dos adeptos com os clubes.
Todos reconhecem facilmente que ter boas instalações de treino, contratar bons jogadores e treinadores, e ter uma equipa de trabalho coesa são fatores importantes para aumentar a capacidade de uma equipa obter sucesso desportivo. Ainda assim, o resultado final de qualquer jogo é sempre incerto e não há nada que se possa fazer para assegurar um padrão de desempenho da equipa ou dos adversários. Por exemplo, é virtualmente impossível saber com exatidão se um jogador vai conseguir ultrapassar um adversário ou mesmo se vai marcar um golo no próximo jogo quando apenas tem o guarda-redes pela frente. Seguindo o mesmo raciocínio, quem poderia imaginar, por exemplo, que o Chelsea iria passar um momento tão difícil na época 2015-16 depois de vencer a Premier League na época anterior?
Por outro lado, o sucesso desportivo tem cada vez mais que ser acompanhado – e o insucesso, “almofadado” – pelo sucesso financeiro (i.e., o que permite aos clubes permanecerem relevantes e competitivos no longo prazo). Parte disto passa por garantir uma boa experiência aos adeptos presentes no estádio para criar relações sustentáveis e potenciar uma imagem de marca que ajude a diluir os ‘altos e baixos’ da performance desportiva ao longo das épocas. Uma boa experiência no estádio é determinante para os adeptos desenvolverem um conjunto de associações mentais que ajudem a criar uma imagem favorável e ligação afetiva ao clube. Assim, saber as associações que os adeptos fazem aos seus clubes é determinante para assegurar uma melhor experiência no estádio e fortalecer a relação clube-adepto.
Num estudo publicado no Sport Marketing Quarterly, conduzido com adeptos de todos os clubes da 1ª liga portuguesa de futebol, foram identificadas dez associações que os adeptos portugueses faziam aos seus clubes favoritos: símbolo e cores; ‘comes e bebes’ no estádio ou nas imediações; socialização com amigos e outros adeptos; apoio regular dos adeptos; história e tradição do clube; valores do clube; sucesso desportivo; trabalho desenvolvido pelo treinador; trabalho desenvolvido pelos dirigentes; e qualidade do estádio. Neste estudo verificou-se também que todos estes aspetos contribuíam para que os adeptos continuassem a acompanhar a equipa com regularidade.
Os resultados deste e outros estudos sugerem que o apoio dos adeptos aos seus clubes favoritos depende não apenas dos resultados desportivos da equipa. Por exemplo, na época 2013-14, o Manchester United obteve a sua pior classificação desde o início da Premier League mas, de acordo com o Football Money League (2015), as receitas do clube foram apenas superadas pelo Real Madrid em toda a Europa.
Em Portugal existem também exemplos recentes que sugerem que o resultado final não é o único aspeto importante, tais como o aplauso de pé dos adeptos do Benfica no estádio após a derrota com o Zenit na época 2014-15, a calorosa receção no aeroporto dos adeptos do Porto à sua equipa após derrota na Alemanha com o Bayern Munique em 2014-15, ou o apoio manifestado pelos adeptos do Sporting na última jornada da época 2015-16 mesmo sem a conquista do título, entre outros bons exemplos de adeptos de clubes nacionais em diferentes divisões.
O sucesso desportivo é sem qualquer dúvida um aspeto central para os clubes e seus adeptos. No entanto, embora o sucesso em campo seja importante para fortalecer a ligação do clube com os adeptos e outros stakeholders, é importante que os clubes construam uma imagem que os ajude a diferenciar dos concorrentes e a proteger das contingências da performance desportiva. Neste sentido, compreender o significado que os adeptos atribuem ao clube é vital para criar boas experiências no estádio (e outras interações com o clube) e assegurar que o resultado final do jogo, sem menosprezar a sua importância, não seja a única razão para continuar apoiar o clube.
30 Dezembro, 2016 at 12:07
Muito importante esta divulgação…
30 Dezembro, 2016 at 12:20
Tanto texto para dizer o óbvio. A paixão por um clube vai para além da razão, simplesmente sente-se e nunca nos abandona.
Eu gostaria era de ver um estudo científico sobre como nos tornamos adeptos de um clube. Por exemplo, no meu círculo de familiares e amigos, família adepta do Vitória (de Guimarães). Amigos quase todos sportinguistas, as exceções: sr. Monteiro taxista que embora “adoro o sr. Doutor, mas essas provocações ao Benfica.. ” É benfiquista.
Outra exceção, sr. Lima, devido às minhas longas estadias no estrangeiro, acaba por ser o meu caseiro, e portista ferrenho, mas de um reconhecimento ímpar “o Bruno Carvalho fala muito mas precisa ser mais grosso e directo, acusar os pulhas do Vieira e Rui Costa.” Sinceramente eu não diria melhor.
Ah, tenho um colega benfiquista, que para além de ser parolo, como lhe disse há dias, continua com o mesmo penteado como tinha há 20 anos. E resmunga imenso com a mulher por telefone (vergonha alheia).
Pronto era só isto.
30 Dezembro, 2016 at 12:20
No final, tudo se resume aos resultados.
Claro que não contam só os resultados, se assim fosse estavamos bem tramados. Essa é a grande diferença para (por exemplo) o adepto Sportinguista.
O lampião e o tripeiro (resumindo isto à nossa realidade), que reclama qd os outros são beneficiados, é o primeiro a assobiar para o lado quando ganha com aldrabice.
Há erros que passam por jogadores, treinadores e árbitros, que influenciam sempre os resultados. Temos de saber viver com isso no desporto, tentando minimizá-los com as tais “condições de treino” que o texto fala, e com recurso a novas tecnologias (arbitragem).
O que não podemos nunca aceitar é a corrupção. Os resultados combinados, provocados por erros propositados. Destrói o desporto que tanto gostamos.
Enquanto no Sporting alguém lutar contra isto, conta comigo na frente de batalha.
30 Dezembro, 2016 at 12:23
Uma coisa vos garanto…
Ninguém como eu fica tão feliz perante um, sucesso do nosso Sporting (podem ficar tanto…mas mais não ficarão certamente…)…
Mas garanto-vos uma coisa…nunca, mas nunca mesmo…
Deixaria de ser sportinguista…mesmo que eventualmente o “meu” Sporting jamais ganhasse fosse o que fosse…!
O Sporting para mim é “uma paixão”…uma paixão “tão velha” quanto eu…e para mim as paixões…
“São eternas”…!!
Para mim “contam pouco”…os adeptos “devotos” que apenas o são…nos momentos de vitória…!
Sporting Sempre…!
SL
30 Dezembro, 2016 at 13:48
+1
30 Dezembro, 2016 at 14:59
Amigo Max, subscrevo na totalidade o seu comentário e aproveito para lhe dar um abraço e desejos de óptima saúde e êxitos para o nosso Sporting.
Encontramo-nos nas eleições (se não for antes).
30 Dezembro, 2016 at 12:36
Somos o SPORTING!
No Rascord está um artigo que me parece interessante sobre os segredos do pavilhão João Rocha, alguém que tem acesso a este artigo, faça o favor de o disponibilizar para a TASCA sff.
30 Dezembro, 2016 at 12:39
Talvez mais logo consiga arranjar. 😉
30 Dezembro, 2016 at 12:40
tks
30 Dezembro, 2016 at 12:48
Este texto reflete uma das grandes vitórias de BdC. Só com uma taça e uma supertaça em 4 anos, o ambiente no estádio e o Sportinguismo está a níveis nunca antes vistos nos últimos 30 anos!
Isto porquê? Porque finalmente nos revemos no clube e no seu corpo diretivo!
30 Dezembro, 2016 at 14:00
+1
30 Dezembro, 2016 at 12:49
Bons Dias, Caros Tasqueiros.
Bem, não me posso pronunciar sobre o que se passa nos outros países, mas em relação ao nosso, se bem que os resultados obtidos têm a sua (grande) importância, o factor do envolvimento/ligação emocional com o clube (em segundo lugar) e a qualidade do jogo (em terceiro) são também (muito) relevantes.
Se fosse apenas uma questão de “resultados”, o que levaria a que o SCP, que há 14 anos não é campeão, ter actualmente o maior número de sócios de sempre?
Por outro lado, é fácil de explicar porque é que, nos últimos 5 anos, a pior média de assistências em Alvalade para o Campeonato ter sido em 2012/2013 (ano em que ficamos em sétimo lugar). E o facto de as assistências terem vindo sempre a subir a partir daí tem a ver, também, com o facto de jogarmos melhor futebol.
A meu ver, existem vários factores a ter em conta. Os resultados são relevantes, mas não são o único a ter em conta.
Quanto a:
“Numa entrevista a um meio de comunicação social inglês no passado mês de dezembro, o chairman de um clube que ocupa uma das últimas posições da League One ameaçou reduzir o orçamento com o plantel na próxima época no caso dos níveis de assistência aos jogos continuarem abaixo do expectativa inicial do clube.”,
faz-me pensar que existe uma verdade insofismável no raciocínio de que “se eu gasto X para atingir o objectivo Y, deverei continuar a gastar X quando só consigo atingir o objectivo Y-1 ou Y-2”?
Dou o exemplo desta época: se o SCP gasta bastante mais do que o Braga e muito mais do que o Guimarães, é admissível do ponto de vista económico (para não falar do desportivo!) ocuparmos a posição que ocupamos no campeonato?
SL
SL
30 Dezembro, 2016 at 12:57
«Dou o exemplo desta época: se o SCP gasta bastante mais do que o Braga e muito mais do que o Guimarães, é admissível do ponto de vista económico (para não falar do desportivo!) ocuparmos a posição que ocupamos no campeonato?»
Estás a fazer as contas também aos roubos constantes em campo? Ou só falas do que te interessa?
Vejo apenas maldade neste teu paragrafo e nada mais.
30 Dezembro, 2016 at 13:09
Não há outro exemplo a não ser um exemplo de uma época que vai a meio…em 3 anos e meio de BdC há meia época para levantarem a crista e dizer “epah…por exemplo este ano…”. Não é um exemplo…é claramente uma excepção…
30 Dezembro, 2016 at 12:58
No geral, penso que em qualquer campeonato, os resultados são sempre o que separa o sucesso do fracasso.
A diferença de Portugal para outras ligas mais competitivas, começa logo no amadorismo de quem dirige o nosso futebol. Os dirigentes federativos, da liga ou da arbitragem são susceptíveis seja a pressões, a colocar o clubismo ou os interesses pessoais e económicos à frente das suas funções, de forma a favorecer o clube que maior poder tem na esfera futebolística.
Olhando para a nossa realidade, os lampiões por exemplo, olhando para o calendário dele, joguem muito ou pouco, sabemos sempre de antemão que há 95% de hipóteses de ganharem os jogos e porquê? porque quando estão quase a cair da bicicleta, lá vem a mãozinha (não a do Pizzi mas também dava) ampará-los.
Nós Sporting, quando estamos quase, quase a cair lá vem a mãozinha dar o empurrão final para nos espalharmos ao comprido, foi assim com o Nacional, com o Setúbal, com o Carnide ou com o Belém.
A juntar à corrupção que mina o futebol, o adepto quando vai ao estádio apoiar a sua equipa, seja ela qual for, paga bilhetes caros para muitas vezes assistir a tristes jogos de futebol…jogos mal jogados, anti-jogo constante por parte dos visitantes, arbitragens manhosas, eh pá tudo isto afasta as pessoas dos estádios e se os resultados não forem por aí além, ainda menos vezes lá vão.
Lembro-me de num destes sábados à hora de almoço ter apanhado na TV o jogo Belenenses-Marítimo e digo-vos que triste espectáculo. Tirando dois ou três jogadores de cada equipa que de facto eram acima da média, tudo o resto eram jogadores de qualidade média-baixa e alguns baixa-medíocre, para além disso o pior foi olhar para as bancada que ficam de frente para as câmaras e as que ficam atrás das balizas…estavam completamente vazias, não havia vivalma, nada. Arrisco-me a dizes que o Restelo tinha uma taxa de ocupação entre 30 a 35%, isto num jogo de 1ª liga.
O nosso futebol, vai caminhando para a banalização total, só tem tendência para piorar. A centralização dos direitos, era um bom principio para inverter o rumo das coisas, mas infelizmente não foi só por causa de um certo clube que esta centralização não se fez, foi também muito por culpa de um presidente da Liga que não teve tomates para lutar por isso, que até era uma das suas bandeiras, foi cobarde e temeu sofrer o mesmo destino do Mário Figueiredo.
Foda-se que o texto já vai longo como o raio…Desculpem lá o desabafo pessoal!!
30 Dezembro, 2016 at 15:35
A centralização de direitos é o caminho. Mas depois vêm clubes de merda como o benfica a achar que fazem negócios da China e lixam tudo.
30 Dezembro, 2016 at 13:05
Futebol cada vez é menos desporto/competição, e mais entretenimento.
Há adeptos de coração, mas cada vez mais segue-se quem ganha e onde jogam as estrelas do instagram.
30 Dezembro, 2016 at 15:03
Os latinos são tramados. Bem diferentes dos nórdicos, por exemplo.
Nós somos muito mais resultado (bipolares tantas vezes) e muito menos espectáculo.
30 Dezembro, 2016 at 13:44
O futebol é um negócio, e é importante perceber o que o move.
E como as empresas os clubes devem trabalhar cada vez mais e melhor o seu customer experience… Sim é um buzzword de gestão, mas é isso que começa a diferenciar empresas principalmente naquilo que nunca ninguém fala que é a retenção de clientes… e aí a CX é chave.
Os adeptos movem-se por paixão e apenas isso se difere. O Sporting tem vários “clientes”… os adeptos consumidores, adeptos não consumidores, simpatizantes…
Eu sou um adepto consumidor… os resultados não me movem… aconteça o que acontecer estou lá! Tenho a minha GB e vou aos jogos.
Os resultados movem os adeptos não consumidores… se ganhamos é mais fácil encher estádios
Os títulos movem os simpatizantes… sim quantos de vocês viram amigos festejar os títulos do lamps e que não sabem quem é o 11 titular? Aposto que tem têm amigos que apareceram no Marquês e ainda acham que o David Luis anda pelos lados de Carnide…
Daí ser importante criar uma experiencia única. O post que o Cherba partilhou sobre a desilusão com o treino aberto é apenas um exemplo que não andamos a fazer tudo bem.
Por outro lado, todos nos lembramos da iniciativa 12o jogador ou Onda Verde que mobilizaram todos… adeptos e simpatizantes. Nós sabemos quais são os passos a dar, agora é continuar a construir um caminho sustentável.