Vou desta vez tentar guiar-vos, através da minha memória, ao que é o Sporting.

Ainda gaiato, e quando não tinha escola nas tardes de sexta-feira, pedia à minha mãe para ir passar o fim de semana a casa dos meus avós. Nada mais natural, dizem já todos… Mas se eu vos disser que os meus avós moravam a quase 50 km de distância e eu ia de boleia com malta que ia para Santarém… Aí o caso muda de figura e é caso para perguntar porque raio a minha mãe não foi presa por negligência, ao menos…

Eram outros os tempos, claro. E era outra a idade. Nesses tempos eu ia, na terrinha dos meus avós, à taberna da Ti Olímpia, e naqueles meus passitos, eu demorava uma eternidade a chegar… e cansava. Mas passados uns anos, já não me cansava a fazer esse percurso, como ainda havia fôlego para mais… E aqui entra a pasteleira do meu avô.

Era de fabrico inglês, negra como a noite, e pesada como só podia a minha consciência, de cada vez que a furtava para ir dar umas voltinhas… Voltinhas que não eram só ao meu povoado, atrevia-me a ir a Santarém, subir a Calçada do Monte (em paralelepípedos), só para depois a descer a toda a velocidade com travões que enfeitavam mais que funcionavam…

Ora o meu avô era do Sporting, e a luz dianteira da bicicleta, devidamente alimentada por um dínamo, tinha o vidro coberto com um recorte de um jornal do Sporting, onde mencionava o Jorge Gonçalves, e o seu slogan “dar um bigode”. Tinha o nosso anterior símbolo a preto e branco, e por baixo um bigode farfalhudo.

Vem isto a propósito de cada um ser do Sporting como o sente. Nunca vi o meu avô discutir por causa de futebol, nem nada que se pareça, mas sei que sofria. Mas quem o visse até aos seus quase 80 anos, sabia que ali ia um Leão, de Bigode.

Foram-se já todas as pessoas de que falei… Mas o Sporting continua, e sempre continuará. Para mim o Sporting ainda está como eu estava, a dar passitos, e está a começar a gamar a bicla ao Visconde para ir dar uma volta, mas quem puder esperar, e souber esperar para o ver a subir novamente a Calçada do Monte, porra… Até vai chorar de alegria. E vai ser sempre a subir, pois acredito sempre que ainda estamos na infância, há tanto Mundo para ganhar… Só temos que ter vontade de o ganhar. No nosso rugby, soubemos esperar, vamos esperar, mas quando começarmos a subir na pasteleira, bem a vão poder puxar para baixo, que quem a vai a pedalar vai ter força e ânimo e Coração para chegar lá bem acima. Assim possamos todos saber esperar.

bicla

 

*às quintas, o Escondidinho do Leão aparece com uma bola diferente debaixo do braço, pronto a contar histórias que terminam num ensaio