Foi demasiado tempo fora, mesmo que amparado pelos milhares que envergam o Rampante onde quer que ele vá jogar. Pior, foi demasiado tempo fora a acumular resultados negativos. Não se estranha, por isso, que neste regresso a casa a equipa tivesse entrado disposta a tudo fazer para receber o carinho dos seus, mesmo que durante grande parte do primeiro tempo os quase 40 mil que compuseram as bancadas (sim, venderam-se quase 44 mil bilhetes, mas houve uns quantos que tiveram medo da chuva, sendo que o mais importante aqui é sublinhar que dificilmente outro clube, no actual estado de alma, levaria tanta gente a dizer presente)… dizia eu, mesmo que durante grande parte do primeiro tempo os quase 40 mil que compuseram as bancadas desviassem a sua atenção para as televisões espalhadas e para os telefones onde ia decorrendo o dérbi de hóquei em patins que viria, como esperado, a representar mais um episódio da vergonha que é o desporto em Portugal.

Mas voltemos ao relvado onde, por volta dos oito minutos, Schelotto arrancou um belíssimo cruzamento para a cabeça de Bryan Ruiz. A praga que aquele bruxo que ninguém conhece, mas todos sabem que existe, lhe rogou voltou a fazer-se sentir e a bola foi parar ao topo norte. Diga-se, no entanto, que a primeira parte de ontem foi mais um precioso degrau na tentativa de Bryan voltar à life da época passada. E se a primeira parte do Sporting foi o tão boa que foi, muito se deve ao tímido regresso do costa-riquenho, dando qualidade ao jogo interior e desafiando Gelson para um mano a mano de notas artísticas que o Martins acabaria por vencer aos pontos.

E já que falamos em Ruiz, diz que o outro, o Alan, se assustou quando ouviu a expressão “emagrecer o plantel”. O problema nem está tanto no plantel, até porque o mais certo é ele ter escutado pastel e ter ligado ao irmão a pedir-lhe uma dose reforçada de travesseiros de Sintra para o lanche de hoje. O problema está, sim, na palavra “emagrecer”. O rapaz deve ter imaginado que ia levar tareias como na pré-época e vai de querer mostrar a todos que já percebeu que não basta ter uma canhota do cacete para ser jogador da bola (alguém já lhe mostrou um vídeo do Balakov para ele perceber que um craque também corre?!?). Fez um grande jogo o Alan, pois que fez, jogando entre linhas e deixando a sua marca com aquele perfeito passe a rasgar para o cruzamento de Schelotto que Bas Dost transformaria no 2-0.

festagolopaços

Antes, tinha sido Adrien a inaugurar o marcador, cobrando com eficácia uma grande penalidade cometida sobre si. Aposto que há meia dúzia de semanas o Veríssimo não assinalaria este lance, recorrendo ao histórico “não vi” criado por Xistra, mas agora já se pode ver e o Sporting adiantava-se no marcador numa jogada também ela começada numa abertura do tal Alan. Depois, entre o primeiro e o segundo, o Sporting engonhou, sofreu um ou dois calafrios. Libertou-se com o golo do gigante holandês (que máquina!!!) e foi em busca do terceiro. Gelson descobriu Adrien no coração da área, mas a cabeçada do capitão passou ao lado e deixou Dost a bater palmas e a rir-se, dizendo uma ou duas cenas em holandês que devem querer dizer “não foi nada disso que te ensinei no treino”. Riu-se ainda mais quando viu William fazer um passe perfeito por cima de toda a defesa e o pequeno Martins deixar o redes a contar cabritos antes de encostar suavemente para o fundo da baliza. E só não se escangalhou a rir porque o cabeçadão que deu à bola depois de um canto passou a meio metro do lado errado do poste.

Era o melhor período do jogo, com os castores amarelos sem saberem para onde se virar ou quem marcar. Mas como no melhor pano cai a nódoa, William acabaria por ver um amarelo que o afasta do jogo no dragão num lance onde o excesso de rigor do rapaz do apito contrastou com a largueza de critério face às constantes faltas pacenses. Prova disso mesmo, o exasperante amarelo mostrado a Palhinha num lance semelhante a tantos outros protagonizados por jogadores do Paços.

Sim, já estamos na segunda parte e é injusto não falar do que se passou entre esses dois amarelos ferrari. Primeiro, da tal falta do William, nasceu a defesa do jogo, com Patrício a voar para ir buscar o livre (tenho saudades de ver um jogador dos nossos marcar um livre realmente perigoso). Depois, aos três minutos do segundo tempo, Adrien não quis rematar de primeira uma bola solta à entrada a área e desperdiçou-se o 4-0. Pior, desse lance saiu tocado o capitão e eu dei comigo aos berros a mandar Jesus para o caralho pela estupidez de continuar a arriscar ficar sem o 23 para o jogo do dragão. Entretanto, o Paços reduzia para 3-1, num lance que mostrava que o intervalo tinha feito mal à equipa. E, logo a seguir, Rui Patrício tirava as dúvidas a quem achava que aquela defesa ao livre não significava o regresso do gigante número 1, fazendo uma mancha enorme a Welthon (atenção a este avançado).

Jesus tiraria, finalmente, Adrien e lançaria Palhinha, que não demoraria cinco minutos a ser colocado em sentido pelo rapaz do apito. O Sporting acusava a fadiga de confiança que atravessa e sofreria o segundo golo num canto onde, como tem acontecido semana após semana, os jogadores leoninos fizeram a marcação com os olhos. Faltavam 15 minutos e o incómodo apoderava-se dos adeptos leoninos, temendo ver repetido o filme de semanas recentes. Os pensamentos negativos duraram três minutos, tempo para Bas Dost aproveitar uma bola mal afastada pelo redes para fazer o 4-2 e o seu quinto bis nesta edição da Liga.

Respiraram os adeptos de alívio, respirou Paulo Oliveira de irritação quando falhou o quinto golo de cabeça, susteve a respiração Rui Patrício antes de fazer a sua terceira bela defesa num jogo que foi do otchenta ao otcho, mas que permitiu ao Leão lamber algumas feridas.