Por estes dias e perante o descalabro desta época e tudo o que nos tem vindo a suceder neste malfadado maio, com a comemoração do primeiro tetra lampião, dei por mim a viajar no tempo e a aterrar algures entre Outubro de 2015 e Janeiro de 2016 – foi de facto uma viagem curta no tempo, longuíssima no estado de espírito e no humor. O Sporting dominava claramente o campeonato, praticando um excelente futebol. Tínhamos derrotado os lampiões em casa deles por 3-0 e de forma categórica.

Jesus tinha acabado de chegar, ganhara logo a Supertaça e a equipa jogava com grande intensidade, Bryan Ruiz a grande nível, Teo a marcar golos e ainda sem ir para as praias colombianas, Slimani a evoluir a olhos vistos, Carrilo a ter de ser encostado, mas a aparecer Gelson com grande fulgor no seu lugar, João Mário a afirmar-se, Adrien e William a carburar (apesar deste ter vindo lesionado do Euro sub-21)…

Era o tempo de, perante as derrotas do Carnide, falarmos no simplesmente Rui (que caro nos saiu este gozo com o Rui Vitória), do Milhafre Orlando e da sua acutilância e humor, do “Se Eu fosse o ROC” e as suas tiradas curtas e certeiras. O tempo de acreditar seriamente no Sporting e em dizer “quero o Sporting campeão”, do aparecimento do arrepiante “O mundo sabe que”. A nação sportinguista estava forte, entusiasmada, unida na sua grande maioria e pronta a apoiar de forma intensa e incondicional a sua equipa, os seus dirigentes, o seu clube, grata por ter de volta a emoção e a adrenalina que só o cheiro da vitória e da esperança sustentada no êxito pode dar. Parecia impensável os lampiões conquistarem o tri, quanto mais irem por aí fora para o tetra (e esperemos que páre por aqui)…

Também aqui na Tasca, dava gosto vir beber sportinguismo, partilhar opiniões e trocar argumentos, na grande maioria das vezes com correcção e respeito (o contrário acontecia, mas era exceção), constituindo uma grande frente unida, um falange fortíssima de sportinguistas que esperava obter o sucesso. Nas roulottes também era igual e o companheirismo e cumplicidade eram evidentes entre pessoas que mal se tinham conhecido pessoalmente, mas que já sentiam uma intimidade difícil de explicar e que só o sentir Sporting e sofrer por este enorme clube pode permitir.

Neste espaço virtual não existiam cisões insanáveis, trocas de galhardetes, piadinhas agressivas ou de mau gosto… discutia-se Sporting, as táticas, os jogadores, os roubos de arbitragem, as piadas sobre os adversários. Tudo isto era alavancado pela carreira da equipa que permitia todos os sonhos.

Pouco tempo depois, surgiu o empate com o Tondela em casa, a recuperação dos lampiões, a deserção do Teo, a saída do Montero, os falhanços do Ruiz (e um jogo com o Carnide em Alvalade que representou um balde de água gelada) e ainda houve tempo para uma ponta final épica com 9 vitórias consecutivas, incluindo no Dragão e Braga, mas com os lampiões a não baquearem ao contrário desta época (recorrendo também a todos os expedientes com as equipas adversárias) e a não permitirem uma conquista que nos devia ter pertencido, que devia ter sido NOSSA.

E no entanto… tivemos esta época miserável, em que quase nunca praticámos bom futebol, em que o único grande jogo, foi com o Real Madrid, mas que ainda assim nos deixou um enorme travo amargo pelos últimos 5 minutos e que daria depois origem ao tristemente célebre “a diferença está no treinador” com efeitos de um abalo na escala 10 de Richter a nível da união dos jogadores e treinador e logo a seguir com derrota deplorável em Vila do Conde. Foi uma época em que a equipa se exibiu mal na grande maioria dos jogos, aqui e ali com uns lampejos de bom futebol, mas demasiado escassos para tanta mediocridade, tanto adormecimento, tanto passividade e falhanço.

Nos pilares que condicionam o rendimento global, dirigentes/treinador/jogadores/adeptos, parece-me que os últimos são os que mais têm estado ao nível do que se espera deles. Mesmo com as perspectivas de ser campeão rapidamente esfumadas, nunca deixaram de dizer presente no apoio à equipa. A ponto de no tal jogo de péssima memória com o Belenenses estarem mais de 40 mil, enquanto no Dragão na época passada e com perspectivas semelhantes para o Porto estavam pouco mais de 20 mil. Também não se podem queixar de falta de apoio durante os jogos…

Sendo assim, na próxima época e para os restantes 3 pilares, vejam lá se resolvem os problemas que ocorreram:
– Comecem por contratar bem, privilegiando a qualidade e não a quantidade, sobretudo para as lacunas do plantel. Dêem oportunidades reais a Geraldes, Iuri, Podence e Palinha. Se não resultar para algum, é preferível empresta-los em Janeiro do que fazê-los regressar, ainda para mais se for para algo parecido com o que sucedeu esta época.
– Se alguém tiver de sair, que saia, desde que por valores adequados e a tempo da sua saída ser colmatada. Não queremos cá gente contrariada e que não dê tudo o que tem para dar, seja por que motivo for.
– Construam um bom ambiente no balneário. Se for necessário contratem psicólogos, mental coaches, bruxos…
– Se começarem a ganhar, por favor não digam nada que se assemelhe a bazofia – falo sobretudo para o treinador e presidente. Lembrem-se que é no final da época que se fazem as contas que interessam. Aliás aproveito para apelar que falem o menos possível, sejam assertivos e trabalhem mais nos bastidores e com menos estardalhaço inútil.

Façam tudo o possível para trazer de volta aquele espírito daqueles meses da época passada em que a o céu era o limite. Não nos matem por favor a esperança. Ela é o combustível que alimenta o/a sportinguista. Devolvam-nos a glória. Comprometemo-nos a contribuir com esforço, dedicação e devoção. Todos nós sócios e adeptos merecemos ser felizes. Pode ser?

 

agradecimento

 

TEXTO ESCRITO POR Leoníssimo
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]