Não faço ideia se algum dia Rui Patrício entrou na Tasca do Cherba, se pára pelas redes sociais ou se sequer sabe aquilo que significa para o universo leonino e para nós enquanto adeptos. Não sei se tem noção da dimensão que conseguiu atingir nestes últimos dez anos, equanto jogador, capitão, símbolo de superação e até memória distante do quão cruéis conseguimos ser um dia, para um miúdo que tinha o sonho de jogar na equipa principal do Sporting.

Não sei se o Rui nasceu sportinguista, se foi convertido com o passar do tempo, se consegue ver o nosso clube não como empregador mas sim com um lado de adepto, se quando um dia nos deixar vai acompanhar os nossos jogos, estar no estádio e vibrar como um de nós. Tornar-se uma extensão do universo sportinguista fora das quatro linhas.

Não sei se sabe o orgulho que nos deu quando fez parte dos nomeados para a Bola de Ouro, a alegria que nos fez sentir naquela final de Paris e quão agradecidos lhe estamos por tantos anos sem birras, histórias, pressões e apenas superação individual em prol do símbolo que nos é tão querido. Não sei se tem noção de que faz parte de uma lista de 10 ou 15 jogadores que marcam uma geração, que todos os sportinguistas saberão o seu nome daqui a meio século e que é o herdeiro do maior e melhor que já vimos nas nossas redes, Vítor Damas.

Toda esta introdução porquê? Há cerca de dois dias o jornal desportivo O Jogo fez uma chamada de capa com a intenção dos três capitães do Sporting abandonarem o clube. Sei que muitos são resistentes ao carvão, que sabem filtrar aquilo que é tentativa de destabilização, notícia de encher folhas ou algo credível. Mas tudo aquilo que implique a saída da nossa maior referência faz-me comichão, chateia e, por muito que o meu lado racional considere impossível, a mais pequena possibilidade acaba por alarmar.

Muitos acreditam na máxima Zero Ídolos. Repeito-a, adoraria conseguir conviver com a mesma e viver num mundo em que os jogadores deixam de importar. Mas para mim muitos deles são a projecção máxima do Sporting ideal, são os meninos criados por nós que se transformaram em homens com as nossas cores. São o respeito, a dedicação, são a personificação de muitos nossos sonhos de infância e, por isso, nossos ídolos.

Agora para ti, Rui. Juntos passámos por uma verdadeira montanha russa de emoções desde que te estreaste na equipa do Sporting. Desde uma equipa que carregava as esperanças de um futuro melhor, comandada por Paulo Bento, entre títulos perdidos estupidamente outros roubados escandalosamente, foste vendo a esperança desses tempos transformar-se em desespero. Viste companheiros sair, amigos escolher outros projectos, colegas forçados a abandonar o barco, capitães que se mudam para rivais e uma fila de treinadores infindável. Assististe ao princípio daquilo que parecia o fim. Estiveste lá quando não éramos mais que pequenos aparecimentos, sem qualquer sentido competitivo. Viste jogadores forçar a saída, recusas em renovar, braçadeiras de capitão a mudar de braço em braço e, agora, até já viste o Carrillo campeão. Acredito que estejas tão cansado como qualquer um de nós e acredito que te sintas tentado pelos milhões, a promessa de títulos e as novas experiências de uma carreira curta.

Mas, por favor, lembra-te daquilo que te foi mantendo em casa durante todos estes anos. A quantidade de presidentes que conheceste, projectos falhados onde estiveste e passando por tudo isto, continuaste sempre a ser um elemento agregador e nunca motivo de polémica.

Lembra-te do sonho que todos temos de fazer do Sporting campeão e acredita em mim quanto de digo que o nosso sonho já esteve muito muito mais longe de se concretizar. Estamos quase lá, Rui, mas precisamos do nosso camisola 1 a mostrar o que é o sportinguismo, a qualidade e a classe. Lembra-te do menino que queria ser jogador de futebol e o conseguiu graças à melhor escola de talentos de Portugal.

Lembra-te do nosso “RUUUUUUUIIIII” sempre que páras aquelas bolas impossíveis e, por favor, não nos abandones para já.

Por favor, sabe que todos queremos que cumpras toda a tua carreira de verde e branco (ou laranja ou preto ou qualquer outra das cores esquisitas que adoras escolher) mas que não seremos um empecilho a partir do momento que cumprires o teu máximo desígnio: levantar as taças que projectem este clube de novo para o topo do futebol português.

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa