Ah… longe vão os tempos em que mandei o meu primeiro bitaite nesta tasca. Uns 4 anos atrás. Parece mais. Apresentei-me como Iorda9, e ao segundo comentário já estava pegado com um leão de computador que me mandou de volta para o Camarote. Só mais tarde pecebi que havia outro Iorda9 que comentava no dito Camarote, blog do qual nunca tinha ouvido falar. Levei sem saber porquê do dito leão informático, mas também fui de imediato defendido por uma sardinha. Mudei de nick para outro dos meus jogadores emblemáticos, e a coisa passou.
Isto para dizer que este era um local onde cada um mandava o seu filete, mas o espírito sportinguista era galvanizador e de punho cerrado. E falava-se de futebol, e de andebol, e hóquei e de Sporting. Fiquei “atascado” e passei a vir cá virtualmente todos os dias para ler e por vezes comentar. Mas contextualizemos.
O ANTES
Sou Sportinguista desde que comecei a seguir com mais interesse o futebol português.
Fiz-me Sportinguista. Não me fizeram. Ou melhor: foi o Sporting que me convenceu! Dois episódios foram decisivos para escolher para todo o sempre o Leão Rampante. Não interessa quais, mas onde quero chegar é que tive tanto incentivo externo para ser Sportinguista como tive para ser benfiquista, portista ou do Carcavelinhos. (Isto para quem teve a lata de aqui me chamar sportinguense: a mim nunca ninguém me levou a ver o Sporting nem me comprou galhardetes ou camisolas. Não sei se será o caso da ilustre senhora, mas o meu não é concerteza).
Regressei a Portugal no ido ano de 88, já Sportinguista ferrado até aos côtos. E deparei com dois cenários assustadores:
Rapidamente senti na pele que ser Sportinguista na minha cidade era tão popular como ser paneleiro (nesses tempos). O benfiquismo era endémico e quase obrigatório. Apenas digo que estar só (literalmente) contra 10 cães a ladrar, era o pão nosso de cada dia. Nunca me faltaram dentes e língua para os mandar a todos pró valente caralho.
O estado do Sporting, tanto directivo como desportivo estava uma lástima, o que apenas acicatava mais a soberba natural da tal matilha benfiquista que só ataca em grupo. É apanágio dos cobardes estarem sempre do lado do maior número (lembrem-se desta frase…). Passaram o Bigodes que fracassou estrondosamente, o Cintra que tinha tanto de exaltado como de bronco e casmurro, a Dinastia dos engravatados (vulgo croquetes) que prometeu gerir o clube como gente grande e que apenas mostrou a sua mediocridade e incompetência.
Treinadores de todo tipo: bons, maus, péssimos, simpáticos, conflituosos, de quem gostava, ou de quem não gostava.
No relvado, astros de arrepiar de tanta classe, e mancos de meter dó. Tanto com uns como com outros, apenas tinha uma postura: torcia com quantas tinha por eles. Sempre. Fosse quem fosse. Era o meu Sporting e o sucesso deles era a minha alegria e vingança de anos a fio a ver a banda passar a levar na cabeça.
O DURANTE
Esta direcção acabava de ser eleita e desconfiava muito do Bruno de Carvalho na altura. Não sabia no que ia dar, mas como sempre, cerrei fileiras e torci por ele, como tinha feito com todos os outros. Decidi começar a ouvir algumas intervenções dele em vídeos da net. Num desses vídeos ele menciona um tal “cacifo do Paulinho”. Fiquei intrigado e descobri que era um blog, e dali à Tasca (a passar por um comando e uma roulote) foi um tiro. Já agora um aparte: no cacifo havia um Silas, garanto que não sou eu. Como disse na introdução eu queria era ser o Iorda.
Foi passando o tempo, havia metálicos, amadores de saké, violinos, italianos, e uma trupe de jogadores do passado e do presente. Enfim, alguns eram mais interessantes que outros, mais ou menos ferrenhos, mais ou menos cómicos. Mas todos estavam entusiasmados com o futuro do clube, à excepção de um ou dois bombos, que de tanto levar no lombo voltaram para a Letónia. Havia espírito, entusiasmo e respirava-se Leonismo.
E tudo se conjugou: a descoberta deste espaço, a minha crescente admiração pela coragem deste presidente, e a sequência de proezas conseguidas em tão pouco tempo na gestão financeira e desportiva. Fiquei mesmo de boca aberta com algumas coisas que conseguiu em tão pouco tempo. Senão vejamos. No espaço de sensivelmente 2 anos:
– O Sporting recuperou praticamente todos os passes de jogadores dos quais apenas tínhamos resíduos
– Acabou-se a espada de Dâmocles que a cada ano que passava voltava sistemáticamente: qual vai ser o orçamento? De onde vem o dinheiro? Operação harmónio ou fundo (da guerra) das estrelas? Há salários em atraso? Ai ai, ui ui, quem vamos ter de vender, etc.
– Os empresários (e os fundos!) abaixaram a crista e acabou o forró das saídas maniganciadas nas nossas costas a preços que hoje nem se atrevem a tentar. Fez barragem às operações de “saque aos tótós do Sporting” como já se preparavam para ser o Ilori e o Bruma e certamente com o mesmo destino traçado já estariam Patrício, Adrien e qualquer outro que não fosse uma nulidade. Ao Sporting faziam o que queriam e nunca conseguíamos contrariar isso. Os jogadores e os empresários acabavam sempre por levar a deles avante, e parecíamos impotentes. Era um fartote do qual aquele anãozinho “que bate bem” e está num principado (recuso-me a escrever o nome dele por medo de estilhaçar o ecrã) foi o expoente e a humilhação máxima. Isso acabou. O Mendes foi chular para outra freguesia e a Doyen foi enfiar barretes ao caralho. Nunca mais nenhuma transferência foi feita com o Sporting em inferioridade e de mão forçada.
Aqui merece um ponto especial o caso Doyen. O caso Doyen foi, talvez paradoxalmente para alguns, mas tão claramente para mim, uma grande, grande vitória de Bruno de Carvalho. E foi uma vitória porque o objectivo era, não ganhar dinheiro, mas sim afastar definitivamente estes fundos abutres da gestão do clube, ou outros agentes externos que o ambicionassem. Conseguir isso por 15M€ foi uma abébia. É preciso lembrar e comprender uma coisa muito simples: esses 15M€ já estariam perdidos do simples decorrer dos contratos assinados. E apenas exemplifica o tipo de negócios que seriam o futuro do Sporting e que são o presente de outros clubes: venda por largos números em que apenas uma fracção entra nos cofres do clube, muitas vezes nem sequer suficiente para cobrir o investimento inicial. Na prática Bruno de Carvalho obteve um empréstimo de 15M€ por 2 anos que lhe permitiu construir um pavilhão para as modalidades, assegurando ao mesmo tempo que tão cedo não se iria propôr este tipo de activos tóxicos ao Sporting. Para mim, simplesmente brilhante. Senão, alguém que me explique qual seria o outro cenário possível.
– O Sporting manteve a maioria da SAD com claras possibilidades de a ter definitivamente, garantindo que os sócios do Sporting ficariam ao leme dos destinos do futebol. Se alguém acha isso pouco, que vão perguntar a um adepto inglês, ou italiano, ou francês, ou ucraniano, ou de marte qual foi a última vez que decidiram o nome do presidente do seu clube. Ou então perguntem aos sócios dos Belenenses se gostam de ter um portista a decidir o futebol que sempre foi deles, para o bem e para o mal.
– A Sporting TV. O exemplo daquilo que faltava ao Sporting: ambição e determinação reais. Se é para fazer, toca a andar! No Sporting, como em todos os lados em que só se gosta de falar sem querer fazer nada, nunca faltaram “projectos” e “ideias”. Canelo para os tornar realidade: tá quieto! Isso dá trabalho e vontade de arriscar. Hoje já ninguém se questiona se a Sporting TV é viável ou não, se serve para algo ou não. Está aí. É real e está para ficar. Tal como o pavilhão. Essas coisas é que me interessam.
– Desportivamente, fomos buscar ano após ano o melhor treinador disponível na altura tendo em conta as possibilidades do clube. O primeiro conseguiu fazer uma refeição completa com pão ralado, àgua e sal. E ainda deu 3M€ na primeira vez que o Sporting transferiu um treinador na história do clube. Mas, havia um assunto que feria de morte o coração e a dignidade dos tasqueiros: os calções eram verdes. Sim. Imaginem só: verdes!!!
Depois, o segundo treinador, a quem foi dado o que não foi dado ao primeiro, que além disso aceitou as condições e até disse que ter menos meios que os rivais não era desculpa para não ser campeão, porque até o Atlético de Madrid tinha conseguido, achou por bem pôr-se em bicos de pés e provocar a direcção que o contratou.
Tive aí o meu primeiro ataque de nervos na Tasca. O que me parecia uma mais do que evidente manipulação torpe dum chico-esperto tentando servir-se do clube e não servi-lo, contando com uma articulação claríssima com certos comentadores benfiquistas, passou de forma incompreensível ao lado do raciocínio geral. O que era importante não era o facto dum empregado achar-se no direito de contrariar e boicotar publicamente a própria estrutura com a qual tinha assinado um contrato de 4 anos. Um empregado que apresentava um futebol e resultados sofríveis com o dobro dos meios do antecessor. Um empregado que enfrentava o seu primeiro desafio ao mais alto nível do futebol português, não tendo portanto um capital de créditos que justificasse toda essa soberba e altivez. Não, não, não. O importante é que o José Eduardo falou num aeroporto, e vende croquetes. Isso é que interessa.
Estraguei a minha quadra natalícia com comentários muito pouco abonatórios da minha família ao meu comportamento, porque não conseguia ficar sem reagir a um fenómeno irracional de autodestruição sem sentido. Nunca tinha visto os adeptos dum clube atacar o próprio clube para defender um cabrãozinho mimado, que nem sequer tinha como argumento a excelência do seu trabalho. E tinha logo de ser o meu. Ainda hoje penso nisso e fico meio catatónico a olhar no vazio, sem resposta.
Bola prá frente: 2 anos de Jesus, o primeiro excecional, o segundo sofrível. Instituições regentes do futebol minadas até ao tutano pelo benfica (só esse assunto dava um livro), culpas próprias, azares. A puta da vida deste futebol português corrupto de merda. E no entanto… algumas vitórias importantíssimas para o futuro: o video-àrbitro foi imposto. Sim, imposto, graças à teimosia de Bruno de Carvalho. Que ninguém pense que a FPF avançava para isso no imediato se não fosse as conversas repetidas que o presidente do Sporting teve com a FIFA e a UEFA. Se acham que sim, podem parar de ler e voltar ao canal Panda. Segue-se a divulgação pública dos relatórios dos àrbitros, que ainda é apenas uma meia vitória porque a nova regra tem um * e letras pequeninas em baixo da página: se há motivo para procedimentos disciplinares, o relatório vai para a gaveta até conclusão das averiguações. Pois, isto vai ser milímetro a milímetro, não se enganem.
Há também coisas que não gostei e não gosto:
– Alguns negócios como o de Bruno Paulista e de Alan Ruiz, tiveram mais intervenientes externos do que eu gostaria
– A equipa B está num vazio funcional. O plantel principal é demasiado extenso e abafa qualquer possibilidade de utilização frequente de jogadores da equipa B, e obriga ao empréstimo dos melhores jovens para garantir evolução, afastando-os por 6 meses a 1 ano da equipa principal. Faz bem a alguns, mas também se perdem muitos assim (reparem na atenção que tem Gelson Dala face ao desaparecimente de Ary Papel, para muitos um jogador com mais talento do que Dala).
– O reatar de relações formais com o porto. Bem, o problema não é o porto, é quem lá está. Penso que todos acreditam como eu que isto não é só para faciltar a troca de bilhetes. Haverá estratégia e acções conjuntas no futuro imediato, e o historial da relação é péssimo para o nosso lado. E se isto trouxer favores das instâncias do futebol também não gosto. Já não suporto a podridão dos corredores do futebol, não quero o Sporting metido nisso.
– O Bruno de Carvalho de há 4 anos, já não é o de agora. Era de esperar que ganhasse tiques e manias, e absorvesse alguma da cultura da merda com que lida diariamente. Não vou rasgar as vestes, mas preferia que tivesse guardado a frescura inicial própria de quem vem de fora do meio. Hoje é claramente um homem do futebol. Será menos ingénuo, mas certamente mais “inchado” do que era.
O AGORA E DEPOIS
Chegámos então aqui e agora. Um fim de época vergonhoso da equipa, uma nova época para preparar e muita coisa a corrigir. Temos treinador, dinheiro e uma base de jogadores para fazer melhor. Penso que todos concordam que as posições a reforçar são as laterais da defesa e um médio ofensivo/segundo avançado. Pensei que fosse isso que movesse a paixão dos Tasqueiros. Mas não. É o facebook, o casamento do presidente e a data da gala.
Passo a dar a minha opinião sobre os 3 assuntos:
Facebook: às vezes gosto, outras menos. Acho secundário.
O casamento: por mim, nem devíamos saber se casa ou não. A vida privada do presidente não me interessa de todo nem o dia em que casa. Se ele gosta de se expôr assim, problema dele, eu cago de alto.
A gala: desde que se faça, a data pouco me importa. Está bem, a mudar a data, devia ser a do casamento, mas francamente, estou-me a cagar. Mais uma vez acho completamenete acessório.
Fazendo um paralelo entre o nosso clube e uma casa, nesta tasca passou-se a dar mais importância ao brilho da tinta das paredes do que ao estado da canalização e da instalação eléctrica. Fazendo assim perfeitamente o jogo dos cães de fila do benfica. Não duvidem que sempre que a atenção é desviada para esse tipo de merdas, até espumam de contentes.
Não sou nem quero ser yes-man nem comer gelados com a testa como os terinhos do outro lado. Vou continuar atento às contas do clube, à gestão desportiva e a coisas sérias. Deixo-vos a curtir as vírgulas dos comunicados e a côr das cadeiras no estádio.
E assim concluo com uma representação sonora do Sporting que pelos vistos quereis (clica) e no que vai dar essa visão de merda (já vi este filme, infelizmente. Clica outra vez). Acabo a sugerir ao Cherba que mude o nome de “A Tasca” para um que se adequa mais ao que vejo aqui cada vez mais: “A Discoteca de Bairro” (vulgo, salão de festas), um local de ruído ensurdecedor onde se encontram miúdos que fingem ser adultos com adultos que não querem deixar de ser miúdos.
TEXTO ESCRITO POR Sinhô Silas
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam (esta semana a fila de cozinheiros começa a ficar longa, por isso as iguarias começam a ser servidas um dia antes). Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]
24 Maio, 2017 at 2:44
Grande posta, Sinhô Silas.
Na linha do que eu penso, mas que não tenho jeito para escrever.
Puta Vida Merda Cagalhões para o ambiente que se vive na tasca.
#BardamerdaAosQueQueremMalAoSportingSejamElesQuemForem
24 Maio, 2017 at 3:11
Amén!
24 Maio, 2017 at 17:15
Fdx, vocês fodem-me a tarde de trabalho, pois li todos os posts.
Sou um “velho” Sportinguista de 53 anos, que sofre há tanto tempo que ainda puto vi o Jordão jogar em Angola, tenho a dizer o seguinte:
Vi em Alvalade o Jordão, Manuel Fernandes e Oliveira, serem assobiados, insultados, etc, numa primeira parte horrível contra o Varzim, na segunda parte partiram aquilo tudo e já eram os maiores, só um pormenor, esse dia foi a casamento da minha irmã e fui ver o jogo com o meu pai e cunhado, ficando os convidados no restaurante.
Isto para dizer, que temos uma tendencial brutal para nos desunirmos e entramos em lutas fratricidas com muita facilidade, quando as coisas correm mal.
Não me vou alongar mais, o presidente foi eleito, no final do mandato será avaliado, com JJ ou sem JJ, pois o sucesso do JJ, será o do presidente e o nosso.
O JJ é bronco? pois é, mas nos cabeçudos já o era e quando foi apresentado em Alvalade, alguém se lembro disso?
Esta ano faltou intensidade à equipa, mais que a boa ou má qualidade do Bryan, Sch, Zig, Semedo, etc, faltou-nos qualidade na intensidade.
Relembrem o jogo contra o Nacional, Feirense, Belenenses, etc e como me fez lembrar a derrota no ano passado contra o União que nos tirou o campeonato.
SL