Ao fim de cinco jogos de preparação para a nova temporada, o Sporting soma onze golos sofridos, número que poderá suscitar preocupação entre as hostes leoninas. No entanto, analisando as oito épocas de Jesus nos dois grandes de Lisboa, conclui-se que a correlação entre o que se passa na pré-época e no campeonato é pouco significativa.

É que, se é verdade que nas duas primeiras épocas de Jorge Jesus no Sporting, o desempenho defensivo na pré-época foi premonitório do que se passaria no campeonato. Também é verdade que nas seis épocas do técnico no Benfica não houve relação entre a pré-época e o campeonato.

Na época de estreia de Jorge Jesus em Alvalade, o Sporting fez apenas cinco jogos de preparação e sofreu apenas três golos. Foi o melhor registo defensivo numa pré-época de Jesus das últimas oito temporadas e teve correspondência num excelente desempenho defensivo na Liga Portuguesa, com apenas 21 golos sofridos em 34 jornadas. Na pré-época passada, no entanto, a defesa deixou sinais alarmantes, com 20 golos sofridos em dez jogos (a mesma média da pré-época que está agora a decorrer) e o registo defensivo do Sporting no campeonato também foi péssimo: 36 golos sofridos em 34 jogos.

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Assim, como o gráfico demonstra, nas duas épocas de Jesus no Sporting, mais golos sofridos na pré-época corresponderam a mais golos sofridos no campeonato, ou seja, à medida que avançamos para a direita no gráfico (mais golos sofridos na pré-época) a linha de tendência (a azul tracejado) vai subindo (mais golos sofridos no campeonato). Desse ponto de vista, o registo defensivo atual é preocupante. Por outro lado, o registo de Jesus no Benfica mostra que não se devem tirar grandes conclusões da pré-época.

Nos seis anos de Jesus na Luz, os golos sofridos na pré-época não serviram de indicador para a qualidade que a defesa demonstraria posteriormente no campeonato. O melhor exemplo disso foi a temporada 2014/15, em que o Benfica sofreu 14 golos nos oito jogos de preparação que realizou, mas sofreu apenas 16 golos nas 34 jornadas da Liga Portuguesa. Ou seja, ao pior registo defensivo numa pré-época de Jesus no Benfica seguiu-se o melhor registo na Liga.

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Juntando todas as temporadas, o gráfico mostra que o número de golos sofridos na pré-temporada ajuda pouco a explicar o número de golos sofridos no campeonato. Cada ponto do gráfico corresponde ao registo de golos sofridos numa determinada época e a linha de tendência (a tracejado azul) demonstra a relação entre os golos sofridos na pré-epoca (eixo horizontal) e os golos sofridos no campeonato (eixo vertical). O facto de a linha de tendência (que é a linha que reduz ao máximo a soma das distâncias para os vários pontos) ser praticamente horizontal significa que quando o número de golos sofridos na pré época aumenta (ou seja, à medida que ‘andamos’ para a direita no gráfico), o número de golos sofridos na Liga praticamente se mantém (ou seja, ‘andamos’ pouco para cima no gráfico).

Vários fatores poderão contribuir para esta falta de correlação entre o que se passa durante a preparação e nos jogos a doer. Desde logo, o número de jogos particulares disputados é relativamente pequeno, o que não permite tirar conclusões bem sustentadas. Além disso, os números dependerão sempre da qualidade das equipas que se defronta, do momento da preparação em que cada equipa se encontra, e das entradas e saídas de jogadores que ainda se verificarão até ao início da Liga.

artigo publicado no site Bancada