Tenho a sorte, desde que apareceu na ribalta do futebol de formação do Sporting, de ter acompanhado de perto a progressão de João Palhinha como jogador e de ter testemunhado em primeira mão a sua fantástica adaptação à Primeira Liga, ao serviço do clube da minha terra Os Belenenses.

Palhinha entrou no Belém e destacou-se no seu meio-campo. Foi o maior pêndulo defensivo, o que mais deu nas vistas, marcou golos, evoluiu posicionalmente e mostrou que, depois de um excelente empréstimo ao Moreirense, continua a progredir como jogador.

Por ser um médio claramente defensivo, com características muito evoluídas nesse campo, a adaptação à realidade Sporting estará, talvez, a ser mais lenta do que muitos esperariam (grupo no qual me incluo). Palhinha tem dificuldades em construir e a progredir em posse, algo que William faz de olhos fechados numa equipa moldada claramente à imagem dos seus capitães.

Hoje, o enorme rapaz de Sacavém, que com 17 anos já treinava junto à equipa principal, habita numa espécie de limbo dependente do futuro do melhor médio defensivo alguma vez formado pelo Sporting. Vive na sombra de saber que nunca será um substituto à sua altura, incapaz de impor as suas valências e sem saber sequer se a sua presença estará assegurada num plantel que só no final de Agosto deverá fechar.

Palhinha nunca será William, porque aquelas rotações não se ensinam, aqueles passes com os dois pés estão ao alcance de poucos, mas parece-me um absurdo desperdiçar a sua qualidade no momento de defender, o facto de sem ser faltoso conseguir impedir a ofensiva adversária com classe e o facto de ser um activo interessante que só nos pode trazer retorno.

E ontem, numa espécie de alinhamento cósmico, Palhinha ganhou um novo fôlego e uma nova vida. Uma nova janela de oportunidade para lutar por um novo lugar, num momento em que Jorge Jesus foi forçado a inventar e com isso pode ter criado uma bela invenção.

João Palhinha, o central, foi o melhor defesa em campo na noite passada e nem pareceu um corpo estranho durante um jogo que foi todo ele uma espécie de anarquia táctica. Seguro, certinho e com qualidade na saída de bola.

Numa altura em que se debate quem deverá ser o quarto central leonino, entre Tobias ou uma nova contratação, sou apenas da opinião que algum dia teremos de parar de comprar centrais. Vendemos Semedo, Paulo Oliveira e Ewerton neste mercado. Emprestámos Domingos Duarte e a ele se deve seguir Ivanildo. Temos Douglas a treinar à parte enquanto aguarda colocação. Demiral na equipa B. E depois de durante 5 anos comprarmos mais de uma dezena de jogadores para a posição, algum dia teremos de parar.

Contra a Fiorentina, e fruto das lesões de André Pinto e Mathieu, João Palhinha deverá ter novo teste no centro da defesa e quem sabe convencer o seu treinador de que poderá ser opção. É impossível saber o que pensa Jorge Jesus sobre a sua manutenção no plantel, porque apesar nos dizerem que conta pouco, a verdade é que teve minutos em praticamente todos os jogos disputados e por via da sorte, deverá continuar a ter.

No último jogo de preparação para uma época longa e penosa, em que todos contam e todas as opções devem ser estudadas, Palhinha pode muito bem ter-se colocado na pole position para um lugar que não lhe parecia destinado. Se for bem sucedido, ganhamos todos.

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa