Nova época, novos objectivos. As campeãs nacionais já preparam o acesso à mais importante prova europeia, com o técnico Nuno Cristóvão a traçar objectivos e a fazer um balanço do ano ‘um’ do futebol feminino

JORNAL SPORTING – Começando por um balanço da época anterior, para quem dizia que não haveria ano zero, conquistar tudo o que havia para ganhar é um ano em cheio. Concorda?
NUNO CRISTÓVÃO – Claro. Sempre defendi isso porque num Clube com a dimensão do Sporting, mesmo começando qualquer projecto, o objectivo é chegar o mais longe possível. Foi um primeiro ano cheio de sucesso, numa primeira fase acreditando no nosso trabalho e no valor das jogadoras. É sempre mais fácil quando têm qualidade, mas reunir todas as suas potencialidades leva o seu tempo. Tivemos alguns percalços no início, quando à 3.ª jornada ficamos logo atrás do Sp. Braga e andámos atrás do prejuízo. Também nos obrigou a ter uma concentração superior, uma vez que não poderíamos escorregar mais se quiséssemos depender exclusivamente de nós. Nunca escondi que só voltaria para um projecto que lutasse por ser um dos oito melhores clubes da Europa e para isso era fundamental ser campeão nacional.

Não será esta equipa vítima do seu próprio sucesso, uma vez que os adeptos não esperam nada menos do que a revalidação do título, já com um ano de experiência que correu da melhor forma e com menor margem de erro por isso?
Faz parte de quem está num Clube grande. Costumo dizer que vamos para uma nova época, com novos objectivos, novas exigências e as mesmas responsabilidades. Teremos três objectivos internos e um externo, mas com a consciência que não se pode passar do oito para o 80 ou dar um passo maior do que a perna. Queremos cumprir com o que o Presidente pediu a todas as equipas no aniversário: garra, atitude e compromisso. Aliás, acrescentou na reunião com o plantel que também não pode faltar humildade. Não há campeões sem humildade.

Foram sete os reforços para esta época, incluindo a Ana Borges. Considerou que tinha de retocar tanto a equipa?
É preciso perceber o contexto dessas entradas. Primeiro, o horário dos treinos vai ser diferente. Treinávamos às 20h30 e vamos passar a fazê-lo às 16h30, o que limitava logo a continuidade da actividade profissional de algumas jogadoras. Por outro lado, essa aposta também é consequência de quereremos ir mais além no progresso e desenvolvimento num Clube ganhador e que não se quer acomodar ao que já conquistou. Há, ainda, novos objectivos e exigências, mesmo que um dos quatro títulos em questão se esgote num só jogo [Supertaça]. Os outros objectivos podem até prolongar-se no tempo. Para quereremos crescer ainda mais, um dos objectivos é passar à fase de grupos da Liga dos Campeões e isso vai implicar, mais à frente, muitos jogos num curto espaço de tempo. Não houve propriamente retoques no plantel. Estando eu ou outro treinador no meu lugar, todas as jogadoras que assinem pelo Sporting terão de lutar pela titularidade. Para mim, titulares são as 25.

Costuma trabalhar com 23...
Sim, mas este ano temos aqui os casos da Bruna [recupera de lesão até Janeiro] e da Patrícia [licença de maternidade]. Além disso, desses reforços que referiu, também há jogadoras que vieram dos escalões de formação e estaríamos a dar um péssimo sinal aos Sportinguistas e às próprias jogadores se, todas as época ou na esmagadora maioria delas, não se der oportunidade aos melhores talentos e com mais potencial das equipas jovens.

Ao referir essa sua vontade de estar entre os oito melhores da Europa, o caminho começa precisamente já este mês, no acesso à fase de grupos da Champions
Claramente. Não tenho nenhuma dúvida que o caminho começa aí. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, não estamos num grupo fácil. No sorteio calhou-nos a segunda equipa do pote um, a segunda do pote dois e a primeira do pote quatro.

Que é logo o primeiro adversário…
O Kazygurt, do Cazaquistão, na época passada chegou aos oitavos de final da prova. É preciso ter qualidade para lá chegar. Dos 61 clubes participantes, é a 21.ª do ranking, muito superior a algumas das que já estão apuradas para os 16-avos-de-final, por terem sido campeãs em países de ranking mais baixo.

Já falou do Kazygurt, que informações recolheu do MTK Budapeste?
Os húngaros são os organizadores. Vão jogar em casa e não terão que condicionar a sua preparação porque não têm de fazer deslocações. Estará no seu ambiente habitual e terá todas as jogadoras à sua disposição, algo que nenhum dos outros adversários poderá fazer. Nós só teremos 18 jogadoras inscritas para essa fase. Já as defrontámos no torneio em Potsdam, num futebol diferente [5×5 e com tabelas], com quem perdemos e ganhámos.

E o Hajvalia, do Kozovo?
É o que conhecemos menos. Também será o último adversário que defrontaremos, pelo que teremos oportunidade de as observar nos jogos que farão antes.

Que expectativas tem para a Liga dos Campeões?
O objectivo é o 1.º lugar do grupo [8]. Só assim passamos à fase de grupos e jogaremos para isso. Sem objectivos ambiciosos, dificilmente lá chegaremos.

Que mensagem vai passar à jogadoras para que esse objectivo fique mais perto?
Elas sabem que queremos chegar sempre mais longe. Houve jogadoras que vieram pela participação na Liga dos Campeões.

Nas provas domésticas, com o título de bicampeãs no horizonte, como avalia esta época a mais directa concorrência?
O Sp. Braga continua a ter um excelente plantel, independentemente de terem tido várias saídas. Continua a ser um fortíssimo candidato. A seguir vem o Estoril. Reforçaram-se muito, com jogadoras do Futebol Benfica e do Sporting e estarão ao mesmo nível do Sporting e do Sp. Braga. As restantes equipas são uma incógnita. O Valadares perdeu meia equipa para as minhotas, o Vilaverdense perdeu muitas jogadoras também. O Boavista também teve algumas saídas de vulto. Só ao fim de algumas jornadas é que poderemos perceber se as equipas continuam ou não com objectivos de chegar mais acima na tabela classificativa.

 

nuno cristovão