A defesa estava afinada e afinada continuou, mas pedia-se mais do meio-campo para a frente. «Ai querem?Então, tomem lá», rugiu o Leão. Primeiro à bomba, depois com um carrossel ao som de violinos, num final de tarde onde os artistas tiveram liberdade para fazer sorrir miúdos e graúdos que há tanto esperavam por isto

bruno wake up bomb

 

Granda golo! Ca granda golo! Espectáculo maravilhento! É um golo realmente digno de ser repetido porque realmente é um espectáculo! […] Eu acho que o espectáculo vai prometer hoje!

As palavras são de Sousa Cintra e têm 25 anos. Nessa altura, na primeira transmissão de um jogo de futebol por parte de um canal privado, o então presidente chegava a Alvalade e, pelo meio da fumarada das tochas, via Balakov arrancar uma bomba com o pé direito que entraria no ângulo da baliza de Silvino, colocando o Sporting na frente do dérbi.

Um quarto de século volvido, um jogador com a camisola listada volta a flectir do meio para a direita e, por entre a fumarada, a disparar uma bomba que traça uma linha perfeita e explode no aconchego das redes adversárias. Aos três minutos, Bruno Fernandes, camisola 8, escutava o grito que milhares e milhares de adeptos têm feito ao longo dos últimos dez dias e chutava. Pedrada seca, de classe, festejada a preceito por uma equipa a precisar libertar-se das amarras de um futebol demasiado mecânico.

A aposta de Jorge Jesus não podia correr melhor e o Sporting não podia pedir melhor forma de entrar naquele que, teoricamente, seria o desafio mais exigente deste início de época. Braços no ar, todos de pé… e aquela turba que de verde e branco pinta a bancada a escutar os primeiros acordes de uma canção épica e a acompanhá-la com um imaginário “oooh oh oh oh oh oh oh” que transforma a Wake Up, dos Arcade Fire, num dos temas mais brutais para ser experienciado ao vivo.

Mas este grito contra a repressão de sentimentos ainda agora estava a começar. Quatro minutos volvidos, Dost sobe mais alto do que as duas torres centrais do Vitória e mete pra trás; na passada, o mesmo Bruno Fernandes volta a disparar, com o remate a sair perto do poste. Rui Patrício tenta animar o jogo, largando uma bola cruzada e indo buscá-la mais à frente (e só voltaria a ter trabalho num outro lance, já na segunda parte), pequeno apontamento vimaranense antes de, na baliza contrária, o tal do Miguel vendido voltar a ir buscá-la ao fundo das redes. Livre da esquerda, batido por Acuña, e Dost a satisfazer outro dos pedidos incessantes dos adeptos: marcar golos de bolas paradas.

2-0 aos 20 minutos e… toma lá o terceiro aos 23. O espírito do Carvalho baixa em Battaglia, o argentino lança com conta peso e medida a corrida de Coentrão e lá vai o Fábio, com o Raphinha no bolso, a ir à linha e a cruzar com conta peso e medida para mais um do avançado holandês. Tudo simples, tudo bem feito, tudo como um gajo se perguntava porque raio é que não acontecia, com o Gelson e o Acuña a derivarem para dentro e a trocarem de flanco, abrindo brechas para o 8runo fazer estragos entre a defesa e o caceiteiro Celis (impressionante como este gajo não é expulso, mais impressionante só mesmo o salto a pés juntos do Eliseu sobre o pastel de belém) e para os laterais leoninos subirem pelo corredor.

Os menos optimistas lembraram-se de que, há um ano, ali mesmo se deixou escapar uma vantagem de três golos, mas a equipa fez questão de ir dissipando dúvidas. O “vagabundo” Bruno Fernandes voltou a disparar ainda antes do intervalo e como não levaram a sério o aviso, voltou do descanso, foi por ali fora e toma lá outra bomba lá para dentro com direito a mão a bater no Rampante e o Bas Dost a rir com aquele ar alucinado. A meia hora do fim o Sporting colocava um ponto final na partida, mas não na canção.

Estava na hora de entrar Iuri, de Gelson vir para a esquerda e dos minhotos, se já estavam à toa, entrarem em desespero com os extremos de pé trocado. With my lightnin’ bolts a glowin’ I can see where I am goin’, ouvia-se a uma só voz, agora com a parafernália de instrumentos bem afinada e os violinos a embalarem uma e outra vertigem em direcção à baliza, com defesas do redes, remates mal direccionados e um a embater na barra, até ao toma lá dá cá entre Jonathan, Gelson, Iuri e Adrien, com o capitão a fechar a contagem de forma quase icónica. We’re just a million little god’s causin’ rain storms turnin’ every good thing to rust. I guess we’ll just have to adjust. oooh oh oh oh oh oh oh oooh oh oh oh oh oh oh