Não há pesadelo maior que os últimos dias de uma janela de transferências para um treinador. Principalmente se for de um clube português e especialmente de um clube como o Sporting. É que ter ambições a títulos e jogadores, muitas das vezes assíduos nas reviews e highlights das jornadas de futebol europeias (quer de clubes quer de seleções), são coisas difíceis de combinar.

Embora os grandes clubes lusos tenham aumentado imenso a sua folha salarial, a verdade é que os clubes do “big five” (Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra e França) também o fizeram e há sempre que contar com a Ucrânia, a Russia e a Turquia na hora de disputar o concurso de um jogador ou resistir a uma oferta para renovar.

Um clube como o nosso é muitas vezes o único da relação jogador / empresário / família do jogador / imprensa que não deseja que surja outro emblema a prometer mundos e fundos ao seu atleta. É verdade que se torna inevitável conviver com este conjunto de fontes de desestabilização e aprender a gerir as várias fases do mercado. Mas será sempre impossível escapar à ansiedade de não conseguir prever minimamente quais serão os talentos que ficam e os que sairão.

Parecendo que não, as ambições e legitimidade de uma equipa a conquistar troféus estão intrinsecamente ligadas à quantidade de talento disponíveis e cortar uma percentagem desse lote a troco de bons encaixes financeiros pode ser interessante para as contas da SAD, mas para o treinador é somente um sem número de problemas adicionais. Às vezes nem sequer é preciso que a saída ocorra na realidade para serem gerados conflitos e divergências complicadas para o foco e saúde do balneário. Um rumor pode provocar bastante distração na cabeça de um atleta e se multiplicarmos estes distúrbios pela quase totalidade de um plantel, podemos facilmente imaginar o alivio que o fecho de mercado traz a técnicos como Jorge Jesus.

E este ano não foi, nem será excepção. A novela de William arrastar-se-á até ao ultimo segundo e ainda há outros activos importantes que não surpreenderia ninguém que fossem cogitados neste derradeiro período. Jogadores como Adrien, Gelson ou Dost não estão a salvo de um apetite tardio por parte de um qualquer emblema que também ele tenha sido “vítima” de uma destas (muitas) negociações loucas dos últimos dias.

Já várias vezes o escrevi, não sou adepto do célebre “campeonato de vendas” português. Os clubes e as equipas são estruturas desenhadas para vencer jogos e competições e mesmo as SADs que controlam a gestão de ambas as lógicas, são mecanismos que não se devem sobrepor à primazia do sucesso desportivo. Sem vencer, o lucro é apenas numérico e o Sporting deve evitar a vã glória dos milhões, embora deva ter presente que os ciclos de evolução e valorização dos bons atletas passa muitas vezes por vender os seus passes.

Apesar de tudo sou acérrimo opositor que vender um atleta seja o objectivo máximo de um clube. Não é. A principal meta de um clube de futebol é aproveitar todo o talento de um activo seu, durante o máximo tempo possível e embora essa aspiração seja contrária à vontade de qualquer jogador, eu sou adepto do clube e entendendo como natural a legítima ambição de ganhar mais dinheiro, interessa-me muito mais a saúde e equilíbrio do Sporting, do que da conta bancária de atletas que não ganham propriamente o que eu ganho.

Aliás, neste caso específico de William, penso que será parca qualquer explicação que tente justificar porque vamos transferir um atleta ainda jovem por um montante abaixo do que acreditamos ser o seu justo valor de mercado. Os “constantes” 45 milhões, na minha opinião, deveriam ser um “must” e a única compensação merecedora de análise por parte da SAD. É que não vai ser fácil, nem rápido, encontrar um 6 que reúna a qualidade que este jogador dá à equipa e apesar de muitos embarcarem na conversa do “lento” e “estático” (apenas um espasmo da inveja lampiã) estou em crer que saindo o jogador ainda vamos ouvir boa gente a relembrar aquele diesel de passes de 60 metros, que raramente se lesionava e que raramente incorria em ações disciplinares, que abafava o meio-campo como quem coloca estacas a delimitar os limites da sua quinta.

Quanto custará um substituto à altura de William? Será Battaglia, Petrovic ou Palhinha? Para já, nenhum me parece no patamar do nosso campeão europeu. O argentino está bem, mas não dá a Adrien a liberdade ou o espaço que este precisa, nem tem uma cobertura posicional tão eficiente. Será uma alternativa muito efectiva e quem sabe, a espaços, até o titular, mas se queremos mesmo lutar por títulos não vejo (ainda) Battaglia como a referência principal entre a defesa e o meio-campo. Petrovic melhorou, parece sobretudo mais confiante, mas o que dá em função atacante é ainda pouco (talvez precise de jogar para o mostrar). Palhinha é mais um e parece que é mesmo esse o seu estatuto dentro do plantel…mais um.

As dúvidas não fazem plantéis e acredito que se assistirmos nas próximas horas ao abandono de William, a SAD deverá procurar alguém. Não aqueles jogadores que nos fazem pensar se serão de facto melhores do que nós já temos, mas alguém que tenha a capacidade de nos fazer acreditar que, no mínimo, a curto médio prazo vamos até melhorar. Alguém que não ande a tentar ser despachado pelo seu empresário, alguém que não tenha mais currículo de noites de folga do que de dias de jogo, alguém que queira vir mesmo para o nosso clube e colocar o seu nome no planeta das estrelas do futebol.

Imagino que esta também seja a ideia de JJ. Tanto mais que a manifestou bem recentemente quando mencionava o pouco tempo que sobrava para colmatar alguma venda súbita. A dois dias do fecho de mercado, não há tempo para novas pesquisas. Ou há algum jogador sinalizado e “preparado” ou a SAD incorre num de dois erros: ou paga dinheiro demais ou recebe talento a menos. Mas isso serão conjecturas que dependem de actos que ainda não tiveram lugar. Para já, ainda podemos sonhar com um triângulo William, Adrien e Bruno Fernandes e o que poderá dar ao Sporting durante esta época, tendo o bónus de haver mesmo Battaglia, tal qual Dartagnan a poder juntar-se a estes 3 Mosqueteiros. E isso sei de facto que JJ iria gostar, Alexandre Dumas é “tu cá, tu lá” nas estantes lá de casa.

equipaaves

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca