carlos-calheirosAdivinha de quem é a frase. Vá, eu dou uma ajuda: ex-árbitro, constantemente acusado de inclinar o campo, apitava acompanhado pelos seus irmãos gémeos e agora é pintor. Nada? Ok, Calheiros, Carlos Calheiros, largou o pincel e veio derramar tinta neste já de si miserável quadro que representa o futebol português, reconhecendo que “inclinava o campo” a favor do clube preferido dos observadores e dizendo que os árbitros da atualidade ainda o fazem.

“É tudo por causa das classificações dos árbitros. Acredito que os árbitros, por causa das classificações e por saberem quem é o delegado ao jogo [Calheiros deveria querer dizer observador, que é quem dá a nota ao árbitro], podem inclinar um bocado o campo”, detalhou em entrevista ao jornal ABola, antes de acrescentar: “Venderem-se para fazer um resultado, não acredito”.

Confrontado com a ideia generalizada de que beneficiava o FC Porto, o nortenho foi claro: “Se um árbitro vai arbitrar um determinado clube e lhe dizem que o delegado também é desse clube, naturalmente o pressuposto dele é mais favorável para esse clube. Na dúvida, não vai ser contra”. “Toda a gente fazia isso. Não há volta a dar”, justificou.

Sem pudor, Calheiros garante ainda “não ter problemas com isto” e não sentir remorsos porque, explica, “era só em situações de dúvida que o fazia”. “O campo ficava um bocadinho inclinado no sentido em que, na dúvida, não se era contra esse clube (…) era capaz de ser mais permissivo nas entradas dos jogadores mais agressivos (…) não se mostrava o amarelo tão depressa…”, explicou.

Para Carlos Calheiros, o Benfica é o clube mais favorecido na atualidade. “Não há um português que seja neutro que não diga que não houve uma tendência dos árbitros [para favorecer o Benfica] (…) Todos vimos isso”.

“Se quem nomeia é do Benfica,  os árbitros não vão ser contra o Benfica, porque levam uma “pranchada” na cabeça. Se a tendência é Benfica…”.

Ainda assim, Calheiros assume que estes ciclos de tendência são mutáveis e que vão alternando entre os três principais clubes: “Na altura, a Associação de Futebol do Porto nomeava o presidente do Conselho de Arbitragem (CA). Portanto, tinha ascendente sobre o CA, que é quem manda em tudo. Ninguém tem dúvidas de que quem nomeia dos dirigentes são FC Porto, Benfica e Sporting: umas vezes um, outras vezes os outros”.

O ex-árbitro fez ainda uma análise transversal ao poder, em Portugal: “em Portugal é assim: os portistas não se podem meter em qualquer lugar de destaque. Se nomerem um portista para o CA, é corrupto, se nomearem para primeiro-ministro, não serve. Os benfiquistas servem para todos os lugares, os portistas não servem para lugar algum”.

 

Nota da Tasca: um gajo lê isto e lembra-se, imediatamente, do vídeo que o adjunto do Portimonense publicou, com a gritante dualidade de critérios que existiu no jogo contra o benfic@