Há um assunto que merecia a reflexão de todo o universo leonino. Uma matéria que há muito têm sido centro de discussão, mas sem grande reflexão. Numa espécie de prós e contras faço a apresentação da problemática: “O inimigo chamado imprensa”.

É por demais óbvio que existe uma benfiquização da narrativa dos media. Isto acontece por 3 razões principais e todas se misturam para construir um “ser” que diariamente hostiliza, diminui, interfere na comunicação dos adeptos (ou futuros) com o emblema.

1/ A maioria dos jornalistas são benfiquistas. E sabemos que basta uma qualquer inclinação sectária para gerar um enorme desiquilibrio na filtragem e evolução profissional. Há imensos relatos de jovens jornalistas que apontam para uma lei tão secreta como incondicional: ou pactuas com a “linha” ou não há espaço para evoluir dentro das redacções.
Aqui há 6 ou 7 anos isto não seria um problema, mas agora é e não vale a pena fingir que não existe, pois é quase fantasioso justificar de outra forma todas as coincidências. Se começaram por ser mais, agora são quase todos alinhados pelo “filtro vermelho”, sejam ou não benfiquistas…é como se fossem. Onde fica a isenção e a equidistância perante esta “pressão”?

2/ O maior consumidor é o target encarnado. Isto também se divide em duas explicações: por um lado são demograficamente mais e por outro, os recentes títulos, constroem um “cliente” mais motivado ao consumo noticioso de futebol. Sabemos como isto não devia interferir nas escolhas e ângulo editorial, mas a verdade é que cada vez mais o jornalismo se concentra na materialização de um produto atractivo do que no rigor e isenção do serviço de noticiar e analisar as matérias.

3/ A influência e o peso do dinheiro no desporto mede-se também na forma como se percepcionam os seus clubes e os que lá trabalham. Todas as empresas investem em notoriedade colectiva e individual, os clubes investem no controle daquele que é (cada vez menos infelizmente) o fiel da balança entre pares – as notícias e os que as operam. Dizer que “o presidente foi ao balneário dar motivação à equipa” é bem diferente que “o presidente não se conteve e foi ao balneário exigir motivação à equipa”. Pequenas nuances com ganhos e perdas bastante dispares que partilhando a origem e o facto, constroem imagens no receptor completamente opostas. É pois evidente que criar uma rede de ligações, cumplicidades, partilhando metas comuns com alguns jornalistas com menos escrúpulos é o objectivo de algumas SADs e aqui sabemos todos de letra identificar quem deu estes passos, por mais que duvidemos do alcance ou operacionalidade conseguidas.

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Mas sendo este o quadro o que deve fazer o Sporting e principalmente como o deve fazer?

A/ O “boicote” ou “blackout” é a opção que mais depressa salta nestas conversas. Infelizmente as SADs têm contratos por cumprir com os patrocinadores e as suas marcas “têm” de surgir nos media. Retirar visibilidade a estes patrocínios voluntariamente é algo que não está dentro das possibilidades, pois nenhum clube está na condição de desagradar às (poucas) marcas que investem dinheiro a sério no futebol. 

B/ Hostilizar os meios de comunicação “menos” simpáticos, tentando que o universo de adeptos reaja agressivamente contra esses “alvos” tem sido uma escolha pontual, mas usada sem critério e repleta de inconsistências. Não se pode “pedir” a um adepto para não consumir este ou aquele jornal ou tv e no dia seguinte autorizar uma entrevista exclusiva a esse órgão. Joga-se por terra o esforço e especialmente a racionalidade da posição tomada. 

C/ Pressionar os grupos empresariais que controlam os meios de comunicação. Vejo esta como uma das melhores opções. O Sporting é uma grande força, com uma enorme expressão social. Nas esferas mais altas de conversação não é levado à toa ter uma empresa que antipatiza um dos seus maiores produtos. Será completamente natural o Sporting assumir toda a sua indignação perante destratos injustificáveis e fazer chegar aos “donos” dos jornais e tvs argumentos sólidos que justifiquem uma posterior chamada de atenção às redacções. A conversa que os “investidores” não interferem nas linhas editoriais é tão verdadeira como dizer que não há conteúdos pagos por terceiros a flutuar nas redações…diariamente.

D/ Distinguir o trigo do joio. É cada vez mais fácil reconhecer os bons jornalistas (diferente de “favoráveis”) e reconhecer os que vestem a camisola encarnada por defeito e por excesso. De igual forma é claro quais são os meios que enfermam de uma linha preconceituosa (em relação ao Sporting) logo à partida. Ter noção do mapa geral e de como se medem as forças dentro de cada entidade é um must e todas as estratégias terão de partir da análise deste diagnóstico. Há demasiados lobos debaixo de peles de ovelha, sonsos e vira-casacas de carreira bem firme dentro do jornalismo nacional e o nosso clube está especialmente longe de conseguir “entrar” nos meandros mais obscuros da classe para arriscar o auto-convencimento de que conhece os seus inimigos. Não conhece, pelo menos a totalidade. 

E/ Em caso algum o Sporting deve fazer o que acusa outros de fazerem, ou seja, aliciar ou “levar” jornalistas ou órgãos a distorcer a realidade e os factos para favorecer a sua comunicação. Bem pelo contrário. Deve combater quem o faz e quem aceita ser o “portador desses cheques” e deve sobretudo favorecer a isenção da classe, precisamente ao não usar expedientes que nos envergonham a todos e que não poucas vezes dizemos às nossas crianças, adolescentes e jovens adultos, ser absolutamente errado e fora das opções de um cidadão numa sociedade leal e justa. Acredito que uma posição de força contra o mau jornalismo e favorável aos valores que se ensinam nas faculdades, terá frutos ao longo do tempo e as inocências ou lirismos de hoje, serão os exemplos e o orgulho dos amanhãs.

F/ Se não podemos obrigar a sermos tratados de forma justa, podemos pelo menos estruturar a nossa comunicação para privilegiar outras fontes de informação que não as tradicionais. É certo que a visibilidade das redes sociais ainda não tem o impacto das tv’s e jornais…mas para lá caminha. E o Sporting deve investir obrigatoriamente nessa vertente, tanto interna como na relação com os blogs, facebooks, twitters e demais espaços que acompanham de fora a vida do clube. E se há clube com bons espaços de noticias e análise na internet, esse clube é o Sporting.

Noutro plano, o Jornal e TV do clube (ou possível rádio) devem claramente ser reforçados com mais meios (sim…mais dinheiro). Não porque serão geradores de negócio a curto ou médio prazo, mas porque devem ser fontes de referência na informação dos adeptos. Sendo mais atractivos como produtos, gerarão mais notoriedade e serão um dos alicerces mais importantes no combate aos outros meios, quiça até um leading roll, com tudo o que isso implica. Sim, custa muito dinheiro e é uma directiva para ser levada a sério durante muito tempo. Mas dará os seus frutos e devolverá todo o capital investido quando se afirmar como o maior espaço de informação e reflexão do universo leonino. 

G/ A modernização de um departamento de comunicação não devia ser sequer um item desta lista. Mas é. Estamos na era dos Directores de Comunicação, no primado das guerras de Comunicação, no Campeonato dos Comunicados e das “fontes próximas”. Podem achar que isto são duas ou três pessoas que dentro do clube fazem a gestão diária de todo este “contencioso”. Não é. Isto é demasiada areia (ou carvão) para ser depositado em cima de alguns experientes ex-jornalistas e se queremos lutar a sério por uma posição no espaço mediático devemos ter um Departamento e não um micro-gabinete. O spinning não é uma arte de uma cabeça iluminada, mas sim de várias linhas de acção que requerem muitas cabeças a funcionar ao mesmo tempo e com a capacidade de serem coordenadas a par e passo. Há demasiada informação a circular diariamente e demasiados meios de comunicação para serem geridos a vulso. O Sporting é um clube enorme e comunica…muito. Deve fazê-lo bem e com os olhos postos em objectivos concretos e a longo prazo. A reacção às polémicas do dia não chega.

H/ A cada notícia tendenciosa e claramente lesiva da verdade e dos interesses do clube, o Sporting deve fazer corresponder uma queixa à ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Não “mata”, mas mói. E 300 queixas por ano moem mais que 3. Os tribunais civis também são uma arma, principalmente para os “cabecilhas”, eles não o assumem, mas detestam processos – há sempre uma imagem a defender e estar na barra do tribunal de forma consistente não é a melhor ferramenta para massajar o ego.

Estes são alguns pontos que trago para a discussão e sei que há muitas pessoas mais competentes que eu para analisar o problema. Vocês aí na caixa de comentários podem dar um contributo tremendo para apontar outras solução ou classificar estas. O que desejo é mesmo o início de um momento em que nos colocamos ao serviço das soluções e não de apontar as culpas, ao mesmo tempo que baixamos os braços. Isto pode mudar e todos podemos ajudar a que mude. 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca