Existem poucas possibilidades no nosso futebol de assistir a verdadeiros milagres, daqueles que vemos todos os anos no futebol inglês, por exemplo, daqueles que levam uma equipa de terceira divisão a eliminar, sem espinhas, um grande da Primeira. O nosso futebol não está formatado para essas surpresas, os pequenos contam com muito poucos adeptos, os estádios estão vazios e a falta de dinheiro não permite que no Campeonato de Portugal existam muitos craques dignos de jogar em clubes que lutem pela Europa. E se mais provas faltassem, o ano passado testemunhámos a primeira final em muitos muitos anos, de qualquer prova portuguesa, sem a presença de um dos três grandes.

Mas perante esta falta de competitividade gritante, que tem apenas tendência a acentuar-se, existe uma espécie de luz ao fundo do túnel, que celebra o futebol português e as suas tradições no estado mais puro. A festa da Taça faz-se nas aldeias e nas vilas, nas cidades pequenas e nas populações interiores. Celebra-se em estádios improvisados, levam-se os emblemas maiores para junto dos seus adeptos de todos os cantos do país, existe petisco e cerveja e futebol à tarde em locais que talvez nunca tenham visto futebol ao mais alto nível.

A Festa da Taça é parte da essência do desporto rei em Portugal, mas está a morrer. Pelo segundo ano consecutivo, grandes alteram datas de jogos para dias que convidam pouco a público. Existem problemas com relvados, bancadas, bilheteiras e deslocam-se as partidas do local de origem. E por muito que me expliquem mil vezes o porquê e quais os perigos, continuarei sempre a opor-me a esta arrogância assustadora do gigante que dita as regras de uma competição sorteada.

As televisões não se importam, claro que não. As transmissões são mais convidativas, podem passar um jogo “menor” a meio da semana e libertar as suas grelhas para o futebol internacional no Sábado. Não é um produto que venda e esse romantismo de levar a bola à aldeia é algo que lhes diz muito pouco ao final do mês. Mas os clubes, que hoje são enormes mas que começaram como associações bairristas, de umas dezenas de sócios e não mais, esquecem a essência do futebol português em troca de mais umas horas de descanso.

Louvo algumas medidas tomadas pelo Sporting no que toca à forma como encarou a competição nos últimos anos, com seriedade perante qualquer adversário, sem estar disposto a ser peão na concorrência desleal recusando oferecer a sua parte da bilheteira e até a fantástica decisão tomada este ano de ceder a receita aos bombeiros de Oleiros, que certamente precisarão imenso. Mas aquela pequena aldeia, de gente simpática, boa comida e boa pinga, entusiasmou-se perante a possibilidade de ver um dos maiores clubes europeus jogar entre as suas gentes. Receber em troca polémica, sendo que ofereceram tudo aquilo que podiam oferecer e dentro das normas impostas pela Federação, é tudo aquilo que não representa a festa da Taça.

Sei que o Sporting não está sozinho nestas indecisões. Tem sido tendência absoluta entre os maiores símbolos da principal liga. Que eles o façam pelo desejo de ganhar sem riscos, tenho de compreender. Mas enquanto adeptos não o devemos aceitar com tanta leveza, correndo o risco de deixar de reconhecer o desporto pelo qual nos apaixonámos.

 

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*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa