Enorme noite de Bas Dost, marcando três golos e estando ligado aos outros dois, apontados por Acuña. Podence, Piccini e Gelson foram as outras figuras de um jogo onde o Sporting até podia ter ganho por mais e onde o árbitro Rui Costa deixou claro que o VAR só vê o que um padre quiser ver

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O jogo era marcado por causas. Cancro da mama, incêndios, causas bem mais sérias do que uma partida de futebol. E se Bas Dost já andava com cara de poucos amigos por estar há meia dúzia de jogos sem poder festejar um golo, entrar em campo num jogo envolto em tanta seriedade foi como mandarem o holandês com a sua canção a passar-lhe em loop no cérebro.

I was caught, In the middle of a railroad track, I looked round, And I knew there was no turning back

E a verdade é que ainda nem estavam decorridos seis minutos e já a turba se agitava: canto de Bruno Fernandes e o 28, felino, a movimentar-se e a atacar a bola primeiro que todos os outros com uma cabeçada fulgurante. Na na na na na na na na… Bas Dost vinha com fome de golos, vinha com fome de bola e isso notava-se a cada movimento. Dele e de Podence, aposta certeira (e tão desejada) para dinamitar as entre linhas flavienses. Durante a primeira parte, onde o pequeno 17 trocou várias vezes de posição com o 77, Gelson, o corredor direito do Sporting funcionou quase na perfeição e foi daí que nasceu o segundo, à passagem dos 15 minutos: Podence baixa, serve de pivot, mete em Piccini e arranca por ali fora; o italiano mete com conta peso e medida para a velocidade do Daniel e este cruza de primeira para aquela zona onde Bas Dost é mortífero. 2-0!

Sound of the drums, Beating in my heart, The thunder of guns, Tore me apart, You’ve been, Thunderstruck

Dost corria quem nem louco para abraçar Podence, num abraço de alguém cheio de saudades de ter uma bolinha metida daquela maneira. O Sporting tinha o adversário à beira do KO e com o carrossel ofensivo Acuña aparece ao meio, ajeita para a canhota e tenta um golaço que não passa muito longe. Depois, Gelson é derrubado dentro da área. Rui Costa dá-lhe amarelo por simulação, mas interrompe o jogo para consultar o vídeo árbitro. Padre orgulhoso, mantém a sua decisão quando está à vista de todos que foi penalti. Uma vergonha. Mais uma.

Mas nada parava o Sporting. Podence tem um passe de génio a desmarcar Dost, picando a bola por cima da defesa, e o 28 tenta um chapéu ao redes que termina a centímetros do poste. Logo a seguir, é o holandês a inventar um passe fantástico que deixa Gelson na cara do redes antes de fazer a assistência para Acuña encostar. Tudo decidido.

Como seria de esperar, a segunda parte não teve tanta velocidade. Gelson continuava a partir rins, Dost continuava a ser figura, agora embalado por Piccini, que se irritou com ele mesmo de ser tão inconsequente ofensivamente, roubou uma bola, foi por ali fora em diagonal e deu ao 28; o holandês tem um gesto técnico tão estranho quanto eficaz e deixa redondinha para a bomba de Acuña. 4-0 e se achas estranho não se falar de ataques do Chaves é porque o Chaves, efectivamente, não criou uma oportunidade de golo a sério até aos 92′, altura em que Davidson apanhou a defensiva leonina já desligada e foi por ali fora, com estilo, para um golo artístico.

E falo-vos deste golo antecipadamente, porque seria muito injusto não terminar a crónica com ele, o homem que voltou aos hat-tricks frente ao adversário a quem tinha oferecido o último conjunto de três batatas. Gelson, com toda a calma, esperou a subida de Piccini e meteu-lhe a bola bem puxada, à linha; o lateral fez o que mandam as regras e meteu-a por alto à espera que o gigante holandês voltasse a voar sobre os centrais. E ele lá estava, ainda com a sua canção em loop, cabeceando para o quinto enquanto se escutava And I was shaking at the knees, Could I come again please, Yeah them ladies were too kind, You’ve been… Thunderstruck!