Meus caros, desta vez, e somente após consulta a vários experts em imagem e vídeo, arrisquei. Quando vi esta Crónica, revi-me de tal maneira nela, e que tanto tem a ver com o que vos vou tentando passar, que senti dever arriscar. Perdido por um, perdido por mil.
Vesti-me tal e qual o Diabo de Braga, e pus no televisor do VAR um fundo vermelho (que já estava previamente configurado). Devidamente invisível aos olhos do comum VAR, fanei a Crónica, e dela agora vos dou conhecimento. Aproveitem.
«No passado fim-de-semana tive mais uma oportunidade de aprender com exemplos e de rever os meus princípios desportivos. Concluí, antes de mais, que quanto melhor pessoa, melhor o atleta. “Better people make better All Blacks”, declaram na selecção mais dominante do rugby mundial. Cada vez mais sou forçado a concordar com esta frase, sobretudo em desportos de trabalho. Aqueles desportos, como o rugby ou as corridas de endurance, onde nem tudo o que se faz é divertido, e há mesmo bastantes coisas que nos custam. Desportos onde passamos mal e isso faz parte.
Claro que é suposto quem joga rugby ou quem corre ultra distâncias o faça porque se diverte. Mas a diversão não é constante. Há, aliás, muitos momentos tanto no rugby, como nas ultras, que são tudo menos divertidos. Perder é tão fácil… E mais fácil ainda que perder é desistir, quando o jogo já está perdido. Eu não fazer um esforço extra para tentar ir placar um tipo, já sabendo que vai ser ensaio de qualquer forma. Basta-me fazer o que é esperado de mim. Aceitar que o adversário é mais rápido/ mais forte / melhor que eu.
É sabido que há um momento em que temos um conflito interior. Nas ultras acusamos o glicogénio, ou a falta dele. No rugby, acusamos as nossas limitações físicas. Quando chega esse momento, o corpo pede descanso e a cabeça fará o possível para concordar. Chega de levar pancada desnecessária. Então o que nos faz continuar? O que faz não desistir? O que é que nos obriga a levantar do chão uma e outra vez? A continuar em prova mesmo quando os tempos que queríamos já derraparam e já mandámos um ano de treino para o galheiro? Eu diria que há dois motores de emergência, a ética e a paixão.
A ética ensina-nos a agir dentro dos padrões convencionais das modalidades. E quem entra para um campo de rugby, ou para uma ultra, entra para tudo. Não se entra só para ganhar, ou fazer grandes jogadas, descer a mil à hora e ver o por do sol a três mil metros. Nope… Isso podem ser as coisas que nos motivam a continuar no desporto. Mas a ética obriga-nos a compreender o desporto como um todo. O bom e o mau. Tudo faz parte e não há um sem o outro. É a ética que nos diz que a próxima placagem é a mais importante, mesmo quando já falhei mil. É a ética que nos lembra que o primeiro objectivo é acabar a prova, depois vêm os outros, como o tempo, ou a classificação. Quando a ética nos falha, desistimos. Ou porque já estão 50 pontos, e até aos 75 não faz diferença, ou porque já não vou ser dos primeiros 20, nem vale a pena acabar, afinal até estou com cãibras…
Estabelecidos que estão os nossos princípios e o cérebro encontra a primeira dificuldade na desistência. Aqui temos de nos virar rapidamente para o segundo motor de emergência, a paixão. A paixão, cada um tem a sua, vive de alimentação. Eu, por exemplo, alimento a minha paixão com sofrimento, sacrifício e abnegação. Dizia muito, para mim, quando ainda jogava e tinha aqueles treinos físicos que me matavam “sofrer agora para fazer sofrer depois”. Sabia que era a esses momentos de dor que ia buscar a força, quando esta me faltasse. Este fim-de-semana, quando vi a minha equipa a mostrar essa paixão dei por mim a perguntar onde iriam eles buscar forças, então lembrei-me disto tudo apercebi-me que ainda hoje é aos treinos maus, aos que não apetece, aos que correm mal, mas insisto, às noites mal dormidas, a tudo o que tive de ultrapassar. É aqui que vou buscar forças, quando já nem falar consigo, mas nem por isso paro de andar, de correr.
A abnegação da minha paixão, lamento ser mesquinho, não é minha. É a de casa. É a maneira espetacular como a Sra. Ribeiro e Ribeirinhos me ajudam a preparar, aceitam que eu esteja com pior feitio porque estou mais cansado. Me ajudam a mexer o nosso tétris familiar para incluir mais um treino de mais não sei quantas horas, para me verem a chegar, encharcado, derrotado. Tratam-me as feridas enquanto me curam a alma. Mas no dia do combate, é neles que penso. A quantidade de horas que lhes roubei, tudo aquilo que me deram. Já não enfrento frigoríficos carecas de 1,90 com 130kgs, agora combato montanhas, que tal como os frigoríficos carecas, só quem as enfrenta é que percebe que não estão ali paradas, mas antes batem-nos, e muito, e dificultam-nos ao máximo a vida. Mas agora, como dantes, não há melhor sensação do que ir ao inferno e voltar. Perder tudo, e ter de olhar bem para dentro, para o fundo, e descobrir que há lá dentro alguma força ainda para lutar, para dar mais um passo, para fazer mais uma placagem.
No fim resta o brio. Comemoro a sobrevivência, comemoro não ter falhado eticamente. Choro que nem um desalmado porque vivi a paixão e cada vez que, derrotado, continuo a trabalhar, lembro-me porque o faço. Claro que a frustração das derrotas também me atinge, mas isso é bom, isso chama-se ambição! E é essa frustração e essa ambição que, no fim, eu guardo, bem guardadinha, para me lembrar quando não me apetecer treinar. Este fim-de-semana vi heróis a baterem-se que nem demónios. A olharem para os monstros de frente, e muitas vezes a serem maiores que eles. Vi Homens destemidos a jogar pela vida, porque toda a gente sabe que a vida cabe num jogo. Deixo para eles a parte de análise do que falhou e do que podiam ter feito melhor. Guardo para mim o orgulho que senti em vê-los lutar não até ao fim das forças, mas até ao fim do mundo.»
P.s. – A introdução é claramente um devaneio meu… Claro que pedi autorização ao Sr. Ribeiro, que gentilmente cedeu esta Crónica. O meu agradecimento.
P.s.2 – Deliciosa entrevista na última página do Jornal Sporting. A ler. E quem depois aqui quiser comentar, posso partilhar ideias.
*às quintas, o Escondidinho do Leão aparece com uma bola diferente debaixo do braço, pronto a contar histórias que terminam num ensaio
26 Outubro, 2017 at 14:32
Aquilo que se passou ontem na Madeira foi mais um capítulo da saga “Vamos roubar o Sporting”, pois o nosso jogador domina a bola com o peito e o ladrão de nome André Narciso marca penalty aos 95 minutos.
Foi o que vi agora no noticiário, onde em vez de se realçar este roubo foram destacar que houve pancadaria entre os jogadores das duas equipas no final do jogo. E é assim que vai o futebol português… é bem necessário que a Rapaziada 1906 entre em campo!
26 Outubro, 2017 at 14:34
“Better people make better All Blacks”
Tao certeiro
26 Outubro, 2017 at 15:07
Muito bom.
E isto também é um bocadinho do Ser Sporting. Trilhar o caminho das pedras.
26 Outubro, 2017 at 15:08
Sr. Ribeiro que levou a bandeira do Sporting para a prova mais importante do mundo de Trail, um exemplo!
SL
26 Outubro, 2017 at 15:15
🙂
Mesmo.
26 Outubro, 2017 at 15:25
Costumo seguir as crónicas pelo facebook e é efectivamente um exemplo de superação e paixão, tendo sempre a ética como base.
Deixo a crónica onde está a foto que referi, também uma bela crónica:
https://www.facebook.com/cronicascorrida/photos/a.1589619147921604.1073741828.1589611364589049/1650881325128719/?type=3
26 Outubro, 2017 at 15:21
Grande crónica!
26 Outubro, 2017 at 16:08
Ética.
Um valor cada vez mais raro nos dias de hoje. Felizmente ainda não desapareceu.
26 Outubro, 2017 at 16:16
Se os nossos jogadores de futebol seguissem esse lema, podem ter a certeza que ganhariam muito mais jogos do que aqueles que ganham, que seriamos muito mais vezes campeões, e ainda por cima têm a agravante de ganharem muito, mas muito mais dinheiro que os jogadores de Rugby.
É o tipo de leitura que deveria ser obrigatória de ler pelos nossos jogadores, não só dos jogadores de futebol. Infelizmente, também tenho a noção que essa leitura entraria e sairia do cérebro deles à velocidade da luz!
26 Outubro, 2017 at 17:05
OFF:
BC (aparentemente sobre Fernando Gomes, Federação, etc). Devo dizer que eu acho que Portugal ainda é dos espertos…
“Eu sou um defensor de cursos de ética para os dirigentes que precisem. Felizmente, tive um pai e uma mãe que me deram educação, princípios e valores e, por isso, se quiserem posso dar algumas cadeiras do mesmo.
Estenda-se o curso, não apenas aos dirigentes que se sentam nos bancos de suplentes, mas a todos os que se sentam na cadeira do poder, faz décadas, com cheiro a mofo, obsoletos, sem credibilização nenhuma junto dos adeptos e que teimam em fazer fogo de artifício e mandar areia para os olhos das pessoas, mas nada fazem para mudar de vez o futebol português e, com isso, contribui-se para a sua modernização, credibilização e dignificação.
Fica o aviso de que Portugal já não é dos espertos, é dos inteligentes e, para tristeza de muitos, os portugueses já abriram os olhos faz tempo e já não vão em truques da “velha guarda” que se agarra e arrasta no poder.”
26 Outubro, 2017 at 17:28
fernando gomes nas escutas do Apito Dourado
Nestas escutas, após conversa de antónio araújo fala com pinto da costa, pedindo fruta e café com leite, o mesmo, por indicação do pinto, fala com o tal fernando gomes (a partir dos 3’20) combinando o pagamento em recibos de restaurante aproveitando para arranjar bilhetes para a tal fruta, as ‘deusas’.
26 Outubro, 2017 at 17:10
Ahahahaha. Boss.
JESUS: «GREVE DOS ÁRBITROS? SÓ NÃO PODE HAVER JOGOS SEM JOGADORES»
É o maior.
26 Outubro, 2017 at 17:26
E bola. É preciso uma bola.
(já balizas, convém levar uns caniços e uma corda, pela vida das dúvidas)
26 Outubro, 2017 at 17:37
Epá, futebol humano. Vais dizer que nunca jogaste.
As balizas podem ser pedras, mas temos depois de desviar qd os carros passarem.
26 Outubro, 2017 at 17:44
Havia sempre uns aldrabões que passavam por cima das mochilas e diziam que não, tinha sido entre as mochilas (se calhar cheguei a jogar com o Fabio Verissimo). Com as canas não havia esse problema.
(eu não jogava no meio da estrada pá, era mesmo em relva)
26 Outubro, 2017 at 17:47
E na praia?
Toalha a fazer de baliza, ou havaianas.
É que se fosse montinho de areia, dava para destruir e o adversário já nem a baliza via.