Pela segunda época consecutiva o Sporting enfrenta sem conseguir obter o sucesso desejado ante algumas das mais poderosas equipas da competição, deixando no entanto em todos os jogos uma boa imagem de si e do seu futebol. Junto dos seus adeptos a sensação de que se ficou a uma pequena distância de fazer história e de fazer abrir a boca de espanto da Europa do futebol. O melhor exemplo é o que sucedeu o ano passado em Madrid, ante aquele que se viria a erguer o troféu da melhor competição de clubes do mundo.

Como explicar então o que falta ainda para que essas vitórias aconteçam? Estamos perto de que isso volte a suceder, tal como no passado, ou estamos cada vez mais distantes? É sobre isso que nos vamos debruçar aqui.

O primeiro foco tem que incidir sobre a conjuntura externa. Sempre foram enormes as diferenças que nos separavam dos países mais poderosos economicamente e que dominavam as competições futebolísticas, quer de clube quer de selecções. No entanto os clubes portugueses sempre conseguiram dar boa conta de si e furar aqui e ali o bloqueio dos mais fortes.

Há contudo dois momentos que marcam o nosso descolar do pelotão da frente e que parece ter vindo para ficar: a famosa Lei-Bosman, com o disparar dos valores exigidos pelos jogadores e com o séquito de empresários que os passaram a acompanhar. Entretanto a chegada dos hiper-milionários, que muitas vezes não representam apenas grandes empresas mas até mesmo nações (Paris St. Germain, Manchester City). O futebol mudou e a Liga dos Campeões passou a ser um sonho de muitos mas uma possibilidade de muito poucos.

No caso especifico do Sporting o regresso aos grandes palcos acontece depois de uma profunda crise, seguramente uma das piores de sempre. O último fôlego ficou para trás numa meia-final surpreendente que se decidiria nos últimos minutos em Bilbao, isto depois de uma carreira absolutamente fulgurante, marcada por grandes exibições, que levaria à final perdida dolorosamente em Alvalade.

 

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A meia-final em Bilbao ocorrida em 2012 marcaria também inicio de uma profunda crise interna que inclusive afastaria o Sporting das competições europeias de clube. Um momento raro e que obviamente ilustra uma séria desarticulação estrutural que teria que deixar marcas e da qual não se recupera com um simples estalar de dedos. Pelo contrário, as dificuldades económicas impediam a formação de plantéis competitivos, obrigando o clube a recorrer aos jogadores da cantera ainda em fases muito precoces e obrigando a recrutar em mercados menos dispendiosos.

Há que lembrar também o grande afastamento temporal do clube das vitórias mais importantes, como são os campeonatos que, além do prestigio, é um importante factor para a construção de equipas plenas de experiência e confiança, factores indispensáveis para se vencer. Esse período sem vencer não terminou ainda mas a chegada de Jorge Jesus a Alvalade trouxe uma significativa mudança na abordagem do mercado e, consequentemente na ambição com que se passou a olhar para as competições, das quais as organizadas pela UEFA não poderiam ser excepção.

As condições oferecidas pelas competições internas não nos oferecem as experiências necessárias para lidar com as dificuldades dos jogos europeus em que o papel de predadores nos jogos nacionais se inverte para o de presas internacionalmente. Talvez isso ajude a perceber porque os resultados nos fogem nos últimos minutos dos encontros, como por exemplo em Madrid e agora nos dois jogos com os italianos. Como se a superioridade ao nível dos executantes individuais não fosse por si só um factor de desequilíbrio mais do que suficiente porque é nos momentos em que o cansaço se instala que diminui a concentração o que é frequentemente fatal a este nível.

Mas, tal com nas competições internas, se é verdade que o nível é indiscutivelmente maior e se encurtaram distâncias de forma significativa, falta ainda a consumação das exibições em resultados. Tal significa reconhecer que o trabalho não está ainda completo. Estando tão perto como temos estado, estamos seguramente na presença de um problema de afinação, de detalhe, de atenção aos pormenores. É também o momento do derradeiro teste à resiliência e confiança no modelo seguido.

O último salto que parece faltar é provavelmente o que separa o clube da mediania da excelência e por isso mesmo é o mais difícil de alcançar.

 

texto escrito por José Duarte no site Fairplay