Foi anunciado a 15 de Maio como reforço do Sporting, que pagou quase três milhões de euros para o contratar. Quando soube do interesse pela primeira vez do interesse do Sporting?

Foi no período da Páscoa. O meu representante ligou-me e disse-me que lhe tinha sido comunicado o interesse do Sporting. Alguém do Sporting observou um jogo do meu clube na altura, o Bétis, frente ao Deportivo… no qual fiz um golo (risos). Tive essa sorte. E não tive dúvidas nenhumas assim que soube que podia vir para o Sporting. Fiquei encantado.

É verdade que teve ofertas de clubes ingleses?

Ofertas não, que eu saiba. Graças a Deus tenho um amigo, que é o meu representante, e que tenta sempre fazer o melhor para mim e o melhor para mim era assinar pelo Sporting.

Falou com Jorge Jesus antes de assinar contrato?

Antes de assinar não. Depois sim, quando começámos a trabalhar tivemos oportunidade para conversar.

Quando se colocou a possibilidade de vir para Alvalade o que sabia do Sporting e da Liga portuguesa?

Do Sporting sabia que era um clube importante no panorama mundial. A Liga portuguesa é pouco conhecida. Em Espanha não via jogos da Liga portuguesa. Mas, por outro lado, sabia que o Sporting era um grandíssimo clube, com muitas ambições. Quando soube que havia interesse inteirei-me dos jogadores que formavam o seu plantel e depois via numa aplicação os resultados do Sporting e só aparecia “golo de Bas Dost! golo de Bas Dost! golo de Bas Dost! golo de Bas Dost!” (risos).

Então, ainda jogava no Bétis e já seguia o dia-a-dia do Sporting?

Sim, a partir do momento em que soube do interesse do Sporting. Porque, como já disse antes, não tinha dúvidas de que queria vir para este clube e não queria escutar mais nada. Eu só podia assinar no final da temporada e até podiam ter surgido outras coisas, mas eu tinha muito claro de que queria o Sporting e trabalhar com o meu atual treinador… já sabia e depois confirmei que precisava de um treinador como ele para melhorar.

E sente que já melhorou?

A nível defensivo muitas coisas.

Jorge Jesus é o melhor treinador com quem já trabalhou?

Sim, sim, sim. Está-me a ajudar a melhorar, é um treinador que quer ganhar, é um treinador que cuida de todos os detalhes; desde a posição do corpo até à mínima coisa. E ele mete-nos isso na cabeça para sermos melhores jogadores. Depois a nível tático é um treinador estudioso e que consegue sempre, na minha opinião, colocar a equipa em campo da maneira correta.

Na semana passada um ex-jogador de Jorge Jesus, Rúben Amorim, dizia que Jorge Jesus é um grande treinador mas que cansa os jogadores. Isto é verdade?

Não, ele é muito exigente. Se queres atingir objetivos importantes é essencial um treinador que seja exigente com os jogadores.

As pessoas não sabem mas o Cristiano antes de vir para Portugal já tinha uma namorada portuguesa…

Sim.

Essa ligação pesou na decisão e na adaptação a Portugal?

Não, ela só me disse que ficava feliz e vinha comigo. Mas claro, chegar aqui e ter uma pessoa que fala o mesmo idioma, a sua família, pode ajudar.

A sua namorada também é sportinguista?

Toda a família dela é sportinguista.

Nos primeiros tempos como se sentiu pelas críticas da comunicação social? Houve mesmo quem dissesse que não era o lateral-direito que o Sporting precisava.

Há muitas pessoas que falam sem saber. Não conheciam o meu jogo, nunca me tinham visto jogar e criticavam. Mas as coisas são mesmo assim. Vivemos num mundo em que é muito fácil falar mal e falar bem das pessoas. Tento trabalhar, escuto as críticas mas se tiver que ouvir todas as pessoas que dizem mal de mim mais vale abandonar o futebol. Trabalho e tento fazer o melhor possível e melhorar. Se as pessoas apreciam o meu esforço, muito bem.

Mas chegou a ler os jornais e a ver na televisão o que diziam de si?
Não. Depois de ter tido uma lesão nos ligamentos cruzados do joelho colocaram em causa a possibilidade eu voltar a jogar a um nível alto. Tive problemas de confiança, ganhei medo e aprendi nessa altura que era melhor não escutar nada e não dar peso às críticas.

O treinador manteve sempre a confiança em si e após o jogo de Turim até disse que veríamos onde o Piccini estaria no final da época… o que é que Jorge Jesus queria dizer?

Não sei, vamos ver.

Pode o treinador estar a dizer que será difícil segurá-lo tendo em conta a qualidade das suas exibições…

Não sei o que o mister queria dizer, mas ele tem demonstrado que acredita muito em mim e eu estou a tentar fazer o melhor possível e não penso em ir a lado nenhum. Quero ser campeão com esta camisola e depois o futuro nunca se sabe…

Com a lesão sofrida em Vila do Conde, Stefan Ristovski, um jogador com escola italiana, tem jogado no seu lugar. Gostou do que viu?

Sim, sim. Antes de tudo, Stefan é um amigo e um companheiro com quem falo italiano todos os dias. Estou feliz por ele. É um ótimo jogador e que tem competência na sua posição graças a Deus porque eu faço-o melhor jogador a ele e ele torna-me melhor jogador a mim. Sempre tentamos ser melhores e isso é importante numa equipa. Fiquei muito contente pelo Stefan, acho que ele fez dois ótimos jogos contra a Juventus e o Sporting de Braga.

Pensa que vai recuperar o seu lugar facilmente?

Não sou eu que decido isso, mas já estou a treinar com a equipa e apto a jogar.

Bruno de Carvalho é um presidente muito interventivo. Estranhou, por exemplo, ver o presidente do clube no banco de suplentes?

Quando assinei disseram-me que o presidente estava sempre muito perto da equipa e que via os jogos no banco. Um presidente que sente tanto o seu clube é bonito. É importante tê-lo perto de nós, afinal é mais um. É algo bonito e não estranhei.

É a primeira vez que está num clube em que o presidente se senta no banco?

Sim, sim, é a primeira vez.

O Sporting há 15 anos que não é campeão, acredita que pode ser esta temporada?

Acredito que sim. Temos equipa para nos sagrarmos campeões. Temos um staff muito competente, somos uma grande equipa e vamos lutar até ao fim, sem dúvida.

Já imaginou a festa do Sporting campeão após tantos anos de jejum?

Imagino uma festa em grande. Mas não faço uma ideia precisa.

O Piccini é o quarto italiano da história do Sporting. Em 2000, o Sporting ganhou o campeonato após 18 anos sem o conseguir e nessa equipa foi fundamental um compatriota seu, Ivone De Franceschi. Tinha conhecimento?

Não. Tinha oito anos.

O que tem achado de FC Porto e Benfica? Jonas, avançado do Benfica, já disse que o FC Porto é o que apresenta um futebol mais vistoso. Concorda?

Isso teremos que ver no final da época.

Mas neste momento não tem opinião?

O FC Porto está a jogar muito bem. Está em primeiro lugar, tem uma equipa forte mas cada equipa tem a sua maneira de jogar.

Vê o FC Porto como o principal rival do Sporting na luta pelo título?

Ao dia de hoje acho que sim, mas logo atrás estamos nós e depois o Benfica. As três equipas vão lutar pelo título até ao fim.

Quando tem oportunidade vê os jogos de FC Porto e Benfica?

Sim, gosto de ver.

O que é que gosta mais e menos no futebol apresentado pelos dois rivais do Sporting?

Não sou um crítico de futebol, apenas vejo os jogos. Mas o que me interessa mesmo é a nossa equipa e o que conseguimos fazer. Quando vejo os outros jogos tento aproveitar para conhecer melhor as outras equipas e jogadores e nada mais.

O presidente do Benfica disse na semana passada que o Sporting não ia ganhar nada esta época. Foi um assunto comentado no balneário?

Não, não foi. Como disse o nosso presidente vamos demonstrar no campo o que sabemos fazer e no final da época falamos.

O que tem achado do videoárbitro?

Tenho gostado mas há sempre algo a melhorar. Vai ajudar o futebol.

É estranho para os jogadores?

Sim, quando se pára o jogo… por dois minutos para ver se há ou não há falta, se há golo ou não há golo. Com o tempo isso também vai ser melhorado.

Tem ficado surpreendido com este ambiente de guerrilha no futebol português com ataques sucessivos de uns clubes aos outros, tendo em conta que jogou em Espanha ou Itália?

Não sou uma pessoa que goste de ler jornais ou de ver as notícias na televisão, importa-me pouco o que se passa fora do campo. Só penso em treinar, trabalhar e melhorar e fazer o melhor pela equipa. A verdade é que não sei nada do que se passa fora do campo.

Quando era criança ou adolescente torcia pela Fiorentina de Rui Costa?

Sim, recordo-me bem da Fiorentina de Rui Costa e Batistuta.

Nunca pensou representar um clube rival de um jogador marcante da “sua” Fiorentina.

Bem… quando tinha oito anos nem pensava em ser jogador profissional.

O que é que pensava ser?

O sonho era esse mas não sabia se o ia concretizar. Com oito anos jogava para me divertir. Graças a Deus tive uma família que me deixou crescer a fazer o que mais gostava, que era jogar futebol. Com 15 anos, sim, já pensava em ser futebolista. Estreei-me na série A, mas depois foi difícil porque joguei na série B, num escalão ainda mais abaixo, lesões… não foi fácil.

A Itália ficou de fora do Mundial. A pergunta é: como é possível e qual é o problema do futebol italiano?
Pois, a verdade é que estou há quatro anos fora de Itália e não te sei dizer em concreto o que se está a passar. É um problema de cantera, porque sempre se elege mais os estrangeiros que o futebolista italiano. Lembro-me do meu caso; fiz a formação e o estrangeiro tinha sempre um pouco mais oportunidades porque era estrangeiro. E isso reflete-se. Nunca tive uma grande oportunidade em Itália. Tive que ir para outro país para ter essa grande oportunidade, primeiro no Bétis e depois no Sporting. Esta pode ser uma razão. Mas podem ser muitas coisas.

Com as saídas de Buffon, Barzagli, De Rossi e Chiellini é o fim de uma geração. Conseguirá a Itália dar a volta e marcar presença no próximo Europeu e no próximo Mundial?

Creio que vão sair da seleção campeões de um nível altíssimo, há jogadores importantes, jovens importantes em Itália mas veremos como vão superar estas expectativas.

Foi uma grande desilusão para si o jogo de Milão frente à Suécia?

Não foi bonito, foi uma desilusão. Ficar sem o Europeu… em Itália vivemos para o futebol. Sem a seleção no Mundial vai ser um verão muito triste em Itália.

Sem a Itália no Mundial vai torcer por que seleção?

Por Portugal.

Acredita que Portugal pode ser campeão do mundo?

Espero que sim… pela família da minha namorada, por mim e pelo meu ídolo que é Cristiano Ronaldo. Vou ser mais um adepto de Portugal neste Mundial.

Representou a Itália nos escalões jovens… acredita que se não fosse a lesão em Vila do Conde podia ter sido convocado para este play-off com a Suécia?

Não, acho que não. A pré-convocatória não chegou.

Espera vir a contar para o futuro selecionador.

Claro. Se o futuro selecionador entender que posso ser útil ficarei super feliz.

A sua exibição em Turim com a Juventus foi muito elogiada pela crítica italiana…

Quem trabalha no futebol, diretores e treinadores, prefere observar com os seus olhos do que com os olhos da comunicação social.

Há pouco disse que em Espanha não via jogos da Liga portuguesa. Se quer ir à seleção, não é um problema para si jogar neste campeonato?

Isso depende, mas claro que não tenho a mesma visibilidade. Mas não tenho nenhum problema com isso. Estou contente no Sporting, tenho o objetivo na minha cabeça de ganhar o campeonato e isso é o que mais me importa.

Sei que está quase a ser pai…

Sim, disseram-nos que pode ser a 4 de janeiro mas pode ser antes.

Menino ou menina?

Menina, vai chamar-se Leah.

Vai ser uma bebé portuguesa?

Sim, vai nascer aqui em Lisboa mas terá dupla nacionalidade.

O que faz nos tempos livres?

Aproveito para estar com a minha namorada e as minhas duas cadelas. Sou uma pessoa tranquila, gosto de estar em casa. Quando vêm os meus amigos de Itália estou um pouco com eles, são amigos de e para toda a vida.

Quando anda na rua, consegue passar despercebido?

Alguns reconhecem-me, mas tenho que dizer que em Portugal as pessoas são muito educadas. Sabes… se te vêem a comer esperam que tu termines para tirares uma fotografia ou dares um autógrafo.

O que lhe dizem os adeptos do Sporting quando se cruzam consigo?

“Vamos ser campeões” (risos).

Entre Florença, a sua cidade, Sevilha e Lisboa qual prefere?

Florença é a minha cidade, foi onde cresci e vivi e isso não posso esquecer. Sevilha e Lisboa são cidades diferentes e pela minha maneira de ser gosto mais de Lisboa. E há uma explicação para isso. Sevilha é muito bonita mas não é muito moderna e eu gosto de cidades modernas onde há grandes lojas de roupa e em Lisboa encontramos tudo mas também é uma cidade muito maior do que Sevilha. Depois a proximidade do mar, isso também ajuda.

Se um amigo seu de Itália viesse a Lisboa o que é que lhe ia mostrar obrigatoriamente?

Encanta-me a zona do Bairro Alto, gosto muito… até pelo facto de ter vista para o rio. Gosto também da zona de Belém e como também aprecio coisas modernas também mostraria o Parque dos Nações.

É onde mora?

Agoro moro na Aroeira, mas vou mudar-me para o Parque das Nações. Havia o problema de não estar disponível uma casa com jardim porque tenho as duas cadelas, mas agora já encontrámos o que queríamos.

Da comida portuguesa o que é que gosta mais?

Quando vou a um restaurante português costumo pedir peixe, marisco. No que diz respeito à carne gosto muito de frango assado. Perto de casa temos uma churrasqueira e vamos muitas vezes comer lá ou buscar para comer em casa.

entrevista de Bruno Pires publicada no jornal Diário de Notícias