Quem só se depare com as temáticas do futebol vendo as “gordas” nas bancas ou nos microsegundos que demora um salto de zapping, pensará por certo que o no futebol português estará a germinar uma intenção preocupação ambiental. É que termos como “ambiente” ou “clima” nunca foram tão populares nas conversas de bola. Para desilusão destas pessoas, não só não existe qualquer relação com o estado de saúde do planeta, como na verdade não existe qualquer preocupação, ponto.

O “ambiente” ou o “clima” do futebol português é somente um arquétipo de good governance que fica bonito a passar nas bocas e rodapés de quem governa e comenta o nosso desporto-rei. Não serve para mais nada. O ambiente é o que sempre foi e ninguém quer mudar ou melhorar o que quer que seja. Mau como sempre foi, presta abrigo a muita incompetência e boçalidade. Confesso que ao imaginar um futebol tuga muito mais transparente, eficiente e pacífico, não consigo colocar 90% dos agentes actuais no mesmo retrato. São incompatíveis.

Começando pelos formatos mediátcos que acompanham a atualidade desportiva, passando pelos dirigentes federativos, os juízes das instâncias de justiça desportiva, SAD’s ou Clubes, a mais pura das verdades é que o futebol português tem o clima…que merece. Tem o ambiente que toda esta maralha consegue construir. E sendo maus…o ambiente só pode ser mau. Acho pois um paradoxo imenso, ouvir gentinha a falar do “clima” do futebol quando está há 10, 20 ou 30 anos a viver dele, a fazer tudo o que pode para sobreviver dentro dele, tantas e tantas vezes através de expedientes que só podem mesmo ser categorizados como…”maus para o ambiente”.

A hipocrisia sempre foi coisa que me tira do sério e não vos passa pela cabeça o nojo que me dá ver gente que sempre se alinhou (e continua) às maiores bandidagens que gravitam à volta do desporto…vestir túnicas brancas imaculadas e invadir a praça pública para carpir as dores de um futebol puro e harmonioso, apontando o dedo a quem convém apontar. Convém sobretudo tomar nota dos hipócritas profissionais, aqueles que às Segundas, Quartas e Sextas andam em almoçaradas a combinar cartilhas, negócios paralelos e golpadas e às Terças, Quintas e Sábados se mascaram de honestos preocupados com a pureza desportiva.

Querem melhorar o ambiente do futebol em Portugal? Então tomem nota:

1/ A PJ, IPDJ, FPF e LIga têm de incriminar, julgar e condenar todos os que lesam o futebol não cumprindo as leis da constituição ou as regras das competições nacionais;

2/ A arbitragem tem de ser autónoma. Tem de ser revista toda a estrutura de carreira dos árbitros e por fim à influência dos clubes, das associações ou de qualquer outra organização (formal ou informal);

3/ Os direitos de tv têm de ser centralizados pela Liga e nenhum clube fará a transmissão de qualquer jogo de forma directa;

4/ O VAR terá de ser expandido como estrutura física e tecnológica. O Goal Line ou Hawkeye fazem falta. A contagem de tempo útil de jogo também.

5/ Todos os clubes devem ser auditados regularmente e de forma séria (acabando com a tanga dos relatórios financeiros à Liga…veja-se o caso do V.Setúbal…estamos em Novembro)

6/ Os clubes têm de ter limitações de inscrições de jogadores profissionais e limitações de contratações de extra-comunitários.

7/ A regra do limite de empréstimos é uma farsa. “Vender” jogadores mantendo a totalidade dos direitos desvirtua a regra actual. Impõe-se nova regulamentação.

8/ Obrigatoriedade de entrega de declarações de património por parte de todos os agentes desportivos antes do início da época (árbitros, juízes, orgãos das SADs, cargos executivos da FPF ou Liga, etc)

9/ Limite de mandatos na Liga ou FPF adequados aos cargos e à legislação

10/ Obrigação (!) de todas as claques em legalizar-se. Aplicando de uma vez por todas os castigos previstos por lei aos que continuarem a apoiar institucionalmente claques…ilegais.

11/ Reforço da capacidade de investigação e fiscalização das entidades que realizam os controlos anti-dopping.

12/ Revisão da fiscalidade dos clubes e atletas. Ambas estão a fazer-nos perder imenso terreno negocial numa europa a vários ritmos e capacidades recrutadoras.

13/ Fim tácito e taxativo dos TPO’s. Os empresários continuam a investir em jogadores e a amealhar os lucros, tantas vezes distorcendo os equilíbrios entre clubes e nas competições;

14/ Inspecção real e sem receios às off-shores que operam no nosso futebol, desviando dinheiro à tributação, servindo de sacos-azuis para a verdadeira marginalidade no nosso futebol;

15/ Cessação dos direitos de transmissão para os canais que promovam programas que alimentam e promovem as cartilhas e outras campanhas destrutivas, não trazendo qualquer esclarecimento ou enriquecimento desportivo.

16/ Criação de metas objectivas que vinculem as direcções da FPF e Liga quanto aos seus mandatos.

17/ Os castigos para as declarações dos agentes desportivos só farão sentido depois de todos os pontos anteriores (ou grande parte) implementados e aí sim concordo com multas pesadas (jogos à porta fechada, perda de pontos, etc)

Querem mudar o clima? Querem melhorar o ambiente? Então parem de validar ou criticar a bocas deste e daquele e ajudem a promover mudanças. Ah…pois. Isso não é assim tão interessante. “Ninguém conseguiria fazer aprovar estas ou outras regras”…pois que conveniente. E assim iremos continuar entre os desejos de um futebol português moderno e estimulante e a profunda incapacidade de dar um passo para o ter. Chama-se o “Paraíso ao Virar da Esquina” e é um complexo que só a inépcia de todos nós, os adeptos e consumidores, toleramos que exista e sirva de carreira a tanto “esperto”.

pepa

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca