Depois de muitos anos de simples desprezo pela terceira competição em Portugal, depois de muita polémica em torno da Taça da Liga sempre que o Sporting estava presente (lembrar apenas a final frente ao Benfica, o “atraso” do Porto ou o penalty de Coates da temporada passada) os leões parecem ter finalmente definido que este ano não é ano de deitar fora o caneco e têm estado em força.

Um empate que honra o desperdício e o anti-jogo e uma goleada das antigas frente ao União da Madeira deixam a equipa às portas da recentemente criada final-four e com boas possibilidades de lutar por um título que o clube ainda não tem.

Dizemos muitas vezes que o que nasce torto jamais se endireita e a Taça da Liga tem conhecido esta sina. Foi vítima de contestação logo no seu primeiro ano de criação, tem sido muitas vezes passada para trás por quase todos os clubes que a disputam e “mata” a emoção à partida por ser uma competição com um formato que beneficia claramente os maiores clubes. Mas se a teoria nos diz isso, a verdade é que FC Porto e Sporting não contam com nenhuma vitória, têm poucas finais, e clubes com SC Braga, Setúbal e Moreirense já levantaram o troféu. Pode, por isso, ser uma competição interessante para quem tem poucas aspirações de chegar a títulos, para quem luta apenas pela manutenção ou um posto europeu, bem como para amealhar mais uns preciosos euros.

Assim sendo, como poderíamos fazer da Taça da Liga uma competição mais interessante e de maior investimento dos clubes da Primeira Liga?

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O primeiro passo foi tomado o ano passado, com a criação da final-four. Uma medida que me parece extremamente interessante e que permite que a competição termine mais cedo. A designação de #CampeãoDeInverno foi igualmente bem pensada e é uma tentativa de atribuir alguma importância ao troféu, que até já merece um emblema próprio e que é usado nas camisolas do Moreirense.

No entanto, esta medida por si só fez pouco para aumentar o interesse do público em casa e nos estádios. Os direitos foram praticamente cedidos à RTP, por ser a competição mais barata, e as assistências roçam o humilhante para quase todos os clubes em prova. E se os horários não ajudam, os dias são ainda piores e o desinteresse geral dos adeptos torna-se contagiante. Teria de passar por aqui uma das mudanças em torno da competição. Jogos pela tarde, quem sabe até pela manhã, com preços muito mais convidativos, quase simbólicos, que promovessem o ambiente familiar e entre amigos e motivassem as pessoas a enfrentar o frio para acompanhar o seu clube na prova que menos lhes interessa. Reconhecendo até as dificuldades de calendário que isto poderia causar, a verdade é que as últimas duas jornadas foram disputadas sem outras competições pelo meio. Porque não fazer destes jogos o nosso “boxing day” ou dia de ano novo? Certamente levaria muito mais gente para junto do relvado e existiram muito mais pessoas a ressacar em frente a uma televisão aproveitando um dia de futebol completo.

Depois, a falta de interesse dos clubes mais pequenos, por reconhecerem poucas possibilidades de vitória. Pergunto hoje, como é que um clube como o Qarabag ou o APOEL se motiva para jogar a Champions League, que também começa por uma fase de grupos com dois clubes claramente favoritos? Todos estão motivados porque existe uma montra para os jogadores e porque existem claras vantagens financeiras em participar na competição.
Nesse sentido, sugiro a criação de prémios de participação superiores para quem se qualifica para a fase de grupos, prémios superiores em caso de vitória ou empate e até um prémio superior para o vencedor final (que neste momento já é maior que o da Taça de Portugal). As vantagens financeiras que a competição pudesse trazer seriam importantes para algumas das equipas da Primeira Liga, sabendo que com os prémios acumulados conseguiriam gerir orçamentos de forma mais desafogada.

Por fim, a ideia de valorizar o que de melhor se forma em Portugal e forçar a entrada destes jogadores nas primeiras equipas, seria interessante que existisse uma espécie de quota para atletas com menos de 20 anos presentes nos onzes ou convocatórias, obrigando os clubes todos a trazer a prata da casa para a montra e valorizando os atletas ao invés de lhes dar a sensação que estão ali a tapar buracos. Certamente todos os adeptos demonstrariam maior interesse, nem que fosse para dar uma olhada “naquele junior que dizem que é muita bom”.

Deixo as minhas sugestões, espero que também o façam, e que este seja o ano em que vencemos a única competição que nos falta em Portugal.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa