Todos gostamos de vestir a pele do melhor adepto, a pele de grandes leões sempre prontos para a luta, a rugir de confiança e de dentes arreganhados às dificuldades. Pois bem, fica desde já a confissão, nem sempre sou esse adepto. Às vezes falha-me a fé e a juba rasteja no chão limpando o fel de uma azia tão monumental que por vezes chega a roubar-me o sono, o apetite e um sem número de coisas giras que a vida nos dá todos os dias.

Momento 1
O Sp.Braga vinha num bom momento, o Benfica vinha a arrastar-se num deficiente encaixe de um 4-3-3 à lá Rui Vitória, ou seja, uma coisa forçada, sem mecanismos, basicamente um modelo a viver à custa das individualidades e erros do adversário. Num cenário teórico, o Braga tinha tudo para fazer sofrer o seu “amigo de obras” e apanhá-lo na classificação. Podia jogar com o desespero do adversário em ter de ganhar o jogo, podia jogar com o factor casa, podia jogar até com o elevado número de jogadores encarnados a regressar de lesões e castigos.

Fiasco. Os bracarenses inexplicavelmente, deram tudo…para criarem dificuldades a si próprios. Fizeram tudo o que uma equipa pode fazer para se encaixar, na pior forma, nas qualidades do adversário. Para quem viu o jogo e não era adepto encarnado ficou a certeza clara que o que foi a jogo era uma versão a 30 ou 40% da valia real do clube minhoto. Para o adepto do Benfica, foi só mais uma aparição de uma fénix qualquer que saiu da merda de exibições que vinha a fazer, para “esmagar” o Braga, outra vez. Sim, porque já não era a primeira vez que estas peças estavam nestes sítios…

Depois de 6 brindes (daqueles que os jogadores costumam cortar os pulsos no balneário) e tantos ou mais equívocos tácticos do Abel, o Benfica lá saía de Braga rumo a Lisboa com 3 pontos e um matchpoint anulado. Eu saía da sala, com a certeza absoluta que o clube da luz tinha voltado a ligar os cabos da bateria que alimenta a merda toda que os tem feito ganhar sucessivamente sem que se veja qualquer brilho ou singularidade. Pensei quarenta vezes na mesma frase “Estes cabrões têm esta merda toda controlada. Toda!”. No dia seguinte, para recuperar do estado de descrença, lá estava em Alvalade para ver como daríamos a volta ao Aves, mais um dos muitos emblemas que trocam emails. Saí confortável, com um Bas Trick, ninguém sai mal de Alvalade e lá se foi enchendo o balão para mais uma semana.

Momento 2
O jogo em Setúbal podia ser ou muito fácil ou muito difícil e não consegui adivinhar qual dos graus seria mais certeiro, porque foram…ambos. Foi tão fácil que se tornou difícil e a cada golo falhado aumentava em mim a desconfiança que íamos sofrer no final do jogo. JJ esperou, esperou, esperou…esperou tanto que o mestre Couceiro teve tempo para fazer all-in e jogar tudo num esquema kamikaze. Uma jogada bastou e numa probabilidade de 1/10.000…o Setúbal somou 10 erros nossos com 10 coisas que ainda haviam sucedido no encontro e empatou. Tive vontade de partir a sala toda, partir o Mathieu, o Coentrão, o Coates, o palerma que perdeu a bola, o JJ com uma substituição por fazer, o Bruno Fernandes, Gelson e partir todos os que haviam falhado oportunidades, enfim…parti apenas para a cama, não sei para quê, já que dormir era a última coisa que ia acontecer.

A azia na manhã seguinte ainda era gigantesca. A certeza de que são naqueles jogos que se perdem títulos, continuava fresca. Mas, seguia-se o Porto na meia-final da Taça da Liga e desespero era coisa que tinha consciência não servir para absolutamente nada. Como adepto leonino, temos um super-poder que muitos não têm. Redobramos a esperança como cresce uma cauda nova a um lagarto (a analogia é péssima…eu sei) e ao longo do dia já andava a rebuscar na minha cabeça todas as coisas boas que podiam acontecer se e quando vencêssemos o Porto. E aconteceu. Às 3 pancadas, aos 5 penáltis, mas vencemos. Ao sabor também dos engasgos de um VAR que, admitamos, tem sido tanto falível como infalível a dar-nos pontos e apuramentos enquanto nos dá vista grossa em lances que nem era preciso VAR para analisar.

Finalmente derrotávamos o Porto e apesar da menoridade do troféu, acendia-se a luz verde para acreditar numa equipa, que pode não ser a mais forte do país, mas pode ser a mais competente e, a longo prazo, a que melhor aproveita os recursos dos seus jogadores. O Vitória era o cliente que se seguia e a vingança prometia ser o melhor para esquecer um karma absolutamente monstruoso. Mas estamos a falar do Sporting e se há coisa com que podemos contar é que, nunca nada correr como era suposto. Os vitorianos esqueceram-se que não sabem trocar duas bolas, enganaram-se na tática e para surpresa de todos atropelaram a tal tática maravilha de JJ em fazer das primeiras partes uma espécie de aquecimento com o adversário. Mais…metade da nossa equipa pensou pertencer aos quadros (e à folha de não pagamentos) do clube oponente e fazia os possíveis para deixar aos adeptos o revisitar da final da Taça frente à Académica.

Felizmente houve tempo e espaço para concretizar a ideia de que perder aquele jogo era algo semelhante a subir às bancadas para rasgar todos os cartões de sócio leoninos e os jogadores lá conseguiram juntar o Tico e o Teco, para fazer algumas jogadas com princípio, meio e outro fim que não a de fazer parecer o Vitória uma verdadeira Juventus. Penáltis e mais umas taquicardias depois, um troféu. É a Taça da Liga. Vale o que vale, o que nosso caso, vale muito. Tanto como a nossa trágica mania de desvalorizar tudo o que não é epicamente valioso. Não sei porquê, mas para muitos dos nossos adeptos, tudo o que não seja Liga de Campões ou Ligas Nacionais, não merece festejos. Porquê? Não é uma Taça? Não vai para o Museu? Sei que não nos rende trinta e tal milhões de euros, não faz as páginas dos jornais estrangeiros e não faz com o Luis Freitas Lobo nos dedique homilias poéticas…mas ainda assim, estamos de barriga assim tão cheia?

posttupper

Momento 3
Apostava dinheiro, se fosse de apostar dinheiro, na “abertura de espírito” do Belenenses. “Passeio pelo Restelo” era o título que daria à abertura desta jornada e tenho a certeza que era isso que estava nos programas de edição de texto de muitos jornais. Se o Braga tinha feito (ou não feito) o que fez, não esperava melhor (ou pior) do clube, ou melhor…da SAD de Rui Pedro Soares esse “animal” da política do “esfregas as minhas costas que eu dou-te uma facada quando puder”, esse Dragão de Ouro que salva donzelas de bigode e fato de treino. Surpreendentemente o Silas vestiu a pele de um Jon Snow e a equipa a de uma rolha gigante, do tamanho da vontade de Paixão em “dar o Penta”. Bom, pensei eu, afinal…”não está tudo controlado”, “não está tudo feito” e ainda há uma réstia de decência. Mesmos as “putas” só se vendem pelo preço certo e não vão aos joelhos só porque sim. O Carlos Pereira explica-vos.

O Moreirense não tem pinta de tomba-gigantes, nem sequer de tomba-formigas, mas a verdade é que nos tinha roubado 2 pontos, numa noite onde muitos adeptos leoninos tinham o direito de pedir o dinheiro dos seus bilhetes de volta, afinal tinham pago para ver o Sporting e apareceu-lhes uns gajos que roubaram as nossas camisolas ao Paulinho e que davam ares remotos de já ter jogado à bola na escola. Surpresa atrás de surpresa. O Porto fez mais uma daquelas exibições que começam a fazer desconfiar a malta que aquilo é só bombar de raiva e muita corrida…metendo as passas todas no jeitinho do Brahimi. Não tem mais. É bom, muito bom…rebenta com muitas e boas equipas, mas é aquilo. Não tem alternativas, é caminho único, ou vai ou…racha.

Chegamos a hoje, Quarta-Feira. Estamos 2 pontos atrás do 1º lugar, com os mesmos pontos do Benfica. Podemos acordar amanhã 1 ponto acima e 3 pontos afastados dos “arguidos”.

Cum caraças… Podemos…podemos e vamos consegui-lo. Mas temos todos de entender o momento e saber ler o que se passa. Não vai ser fácil, nada fácil, conquistar os 3 pontos e materializar uma liderança à condição. Mas temos de o fazer. Temos de conseguir encher hoje o estádio e ajudar a empurrar a equipa para a direção mais certa. Vai ser fundamental, acreditem em mim, contrariar a hora, a temperatura, o dia da semana, os compromissos pessoais e ir a Alvalade. Mas é muito importante que o façamos. Honestamente estou-me a cagar para as médias de público, para o encaixe da bilheteira ou para os rácios de visualização dos nossos patrocinadores. O que eu gostava era de sentir as bancadas repletas, de gente como eu, cheia de vontade para passar por cima das nossas fraquezas e gritar bem alto aos nossos jogadores “nós estamos aqui!”

Vão arranjando as melhores desculpas, os melhores planos de fuga, troquem favores com colegas de trabalho, lavem a louça e deem os banhos às crianças que forem precisas…mas estejam lá às 21h00! Se sentirem como eu sinto, a importância do momento e a falta que cada de um de nós vai fazer, estejam lá e gritem, gritem alto. Gritem para que todos nos oiçam e tenham a certeza que afinal…isto não está “tudo feito” e não haverão malas suficientes para nos retirar aquilo que conseguirmos, juntos, fazer. Tentar, vão tentar sempre, mas com estádio cheio, os “Ferraris” tendem a perder alguns “cavalos”.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca