É incontornável. Falar do Sporting, neste altura, é debater um único tema: a sua liderança. Vejo quatro ângulos de opinião quanto aos factos que ocorreram nos últimos dias.

1- Aqueles que nunca “digeriram” os métodos, a estratégia ou o célebre “estilo” deste presidente e que desde a primeira hora optaram por ativamente construir uma espécie de guerrilha anti-BdC, através das redes sociais – Encararam a última AG e a alteração de estatutos como um comportamento abusivo e uma extensão de poderes alarmante. Convém dizer que muitos deles se viram como o “alvo preferencial” e sua conduta, a razão para a própria alteração. Estranhamente ou não, não vi em parte alguma, uma consideração sobre a opção de BdC de se submeter, mais uma vez, à vontade dos sócios. E teria sido esclarecedor se o tivessem feito.

2- Muitos sócios, concordantes com a atual direcção dirigiram-se à AG sem qualquer motivação que não fosse debater o clube, a alteração dos estatutos e o que viesse pelo meio. No fim saíram com um sentimento de revolta e desaprovação. Não tanto pela intriga ou jogo de poder, mas pela postura e intempestividade quer da MAG, quer de BdC. Além de uma enorme frustração, nasceram dúvidas sobre a capacidade, sobretudo estabilidade emocional deste presidente. Não querendo estabelecer oposição, o desagrado foi suficiente para que deixem de oferecer resistência ao grupo que mencionei em primeiro lugar. O seu voto pode cair para qualquer dos lados e dependerá sobretudo da postura de BdC em reconhecer erros próprios na gestão de comunicação pública do seu cargo.

3- A larga maioria dos sócios, compreende a postura de BdC (mesmo criticando-a) como um reflexo, às vezes excessivo, mas necessário à liderança de um clube demasiado acomodado a um papel secundário no futebol português. Em muitos sentidos, o Presidente acaba literalmente a puxar a agenda interna do clube para posições e estratégias que fazem muitos dos associados sair completamente fora da sua zona de conforto. Ainda assim, mantêm firme apoio a uma liderança que admitem ser sui generis, concentrados nos resultados e nos factos. As contas, a transparência, a subida gradual dos resultados desportivos e valorização da SAD, o crescimento do número e competitividade de modalidades, a evolução positiva do número de sócios, são dados que reforçam a avaliação da capacidade deste CD. Embora a AG, para este grupo tenha constituído um evento não desejável, entendem como óbvia a manutenção destes Órgãos Sociais, não temendo quaisquer ditaduras, pois há o bom-senso de imaginar que se for necessário interromper este mandato, nada nos seus estatutos ou poder do CD o impedirá de fazer, tanto agora, como depois do dia 17.

4- Os que sempre estiveram ao lado de BdC e no matter what, mantêm uma confiança inabalável face a qualquer linha ou discurso seguido. Embora não sendo um grupo tão vasto como o terceiro, são ainda assim uma força a ter em conta, que tendo a radicalização inversa ao primeiro grupo não hesitarão em fazer deste período pré-AG uma verdadeira campanha eleitoral, atacando o que e como puderem a chamada “oposição”.

brunobanco

Antes de mais, acho esta divisão do mundo de sócios um reflexo de que o Sporting é uma associação que tarda em constitui-se com um bloco mais uno. Grupos existirão sempre, conforme as afinidades de pensamento, mas convém também ter presente que estes blocos são muito vastos em número e isso é que deixa de ser normal. O desafio para BdC nunca foi o de fazer com que o 1º grupo fizesse parte da sua estrutura de apoio, mas sim o de todos os outros…e isso demorou tempo demais para acontecer. Provavelmente irá existir uma cisão no 2º grupo e uma radicalização do 3º, o que é para mim o facto mais perigoso na análise ao futuro da governância do nosso clube. Um clube pós AG do dia 17, será sempre menos unido que o anterior. Se BdC vencer, ficará com mais músculo, com um CD mais autorizado (o que não virá dos estatutos, mas sim do voto no ponto 3), mas ainda assim com menos margem de manobra. Se BdC perder, o próximo CD terá, caso os candidatos sejam os previsíveis, uma missão verdadeiramente impossível – governar um universo de sócios profundamente amputado de um caminho que via como válido e eficaz.

Espero que a partir do dia 17, se BdC for reconfirmado como líder, que tome como prioridade entender melhor os sócios que o clube tem e dar-lhes mais crédito. 3 validações depois, isso não só é útil, como necessário. E isto não é uma opinião sobre “estilo” ou “forma”, é uma questão de governabilidade e estabilidade do clube. Caso aconteça o cenário inverso, tudo dependerá da capacidade de um futuro candidato agrupar todas as bandeiras deste CD e levá-las a sério. O que muito sinceramente, tenho grandes dúvidas que venha a acontecer.

Finalizo o texto com um ponto de afirmação pessoal, que vejo como justo para quem ler este texto. Apesar das minhas posições poderem navegar entre as visões e opiniões de qualquer um dos 4 grupos, identifico-me com o 3º na maioria das vezes e como tal votarei favoravelmente os 3 pontos na ordem de trabalhos da próxima AG. Critiquem o que quiserem, debatam e confrontem opiniões, mas façam-me um favor não me acusem de falta de sportinguismo ou de espírito crítico. Se a opinião de alguém não é a mesma que a vossa, não é por defeito da mesma, não é porque tem algum interesse obscuro, não é porque está contra a vossa definição de Sporting. Existir mais que uma opinião não é um problema, não saber conviver com a mesma, é. E isto serve de reflexão a todas as partes, grupos ou facções.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca