Vitória tão dramática quanto justa de um Sporting que voltou a entrar mal, encostou o adversário às cordas e que, mesmo reduzido a dez, não deixou de acreditar que era possível quebrar um Tondela que passou os últimos 35 minutos apostado no anti-jogo

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Como tudo muda no espaço de segundos… e como tudo muda ainda mais rapidamente quando se trata de futebol. Quando o nosso cérebro fritava na luta titânica entre o “já nos fodemos” e o “esta merda ainda não acabou, esta merda ainda não acabou…”, aparece aquela bola, o Dost vai buscá-la ao concurso de afundanços da NBA, o Doumbia tenta que seja o defesa a marcar para o golo não ser anulado, a bola bate no poste e vem de lá o patrão Sebastião, com milhares e milhares e milhares a puxarem-lhe a perna atrás e, já sem ar de tanto a puxarem, acerta na bola de forma tão hardcore que os gritos que se seguiram foram quase pornográficos.

Mas, antes disso, houve muito para contar, até porque voltámos a entrar mal e a sofrer um golo. Às três pancadas, diga-se, pese o toque de classe inicial de um tal de Pedro Nuno que desbaratou a defesa. Acontece que a finalização nasce de um quase corte do Coates e de um ressalto nas pernas do Mathieu que desvia a bola de Rui Patrício. Diga-se em abono da verdade, que ao longo da primeira parte as transições defensivas do Sporting deixaram muito a desejar e permitiram ao Tondela outra grande oportunidade de golo, por Tyler Boyd (jogador interessante), a obrigar Patrício a ser Ruuuuuuuuuuuuuui!

Não se pense, no entanto, que o 1-1 ao intervalo era assim tão justo. O que estava menos bem lá atrás, o Sporting compensava na pressão alta e nas movimentações ofensivas. Gelson, enorme Gelson, ontem tantas vezes interior direito, jogando e fazendo jogar, convite imediatamente aceite por Bruno Fernandes e por um regressado Bas Dost que teve um primeiro tempo ex-cep-ci-o-nal, transformando todas as bolas que lhe chegavam em movimentos ofensivos perfeitos e, claro, marcando um golo: cruzamento perfeito de Conan Acuña e o gigante holandês a encavar Cláudio Ramos.

E, à medida que o tempo passava, a pressão leonina aumentava, com a primeira parte a terminar com uma bomba de Bruno Fernandes para grande defesa e com uma grande cabeçada de Mathieu que daria um golo digno de dar a volta ao mundo.

O que voltou a dar a volta foi o jogo, com o Sporting a entrar para a segunda parte como entrou para a primeira: mal. Diga-se, nos entretantos, que ao intervalo a equipa de Pepa cumpria o que o mister havia prometido: ser hardcore e pé na chapa. 11 faltas em 45 minutos, mais 3 do que as feitas contra o benfic@ em 90 minutos. No final seriam 24, e, mais curioso ainda, é que ao intervalo o Sporting só tinha feito 3 faltas e já tinha um jogador amarelado. Coincidências.

Doumbia tinha vindo no lugar de Montero, mas os resultados práticos foram poucos no recomeço. E quando, aos 60′, Mathieu vai meter-se em conversetas, o arroz parecia definitivamente queimado: amarelado de forma injusta meia dúzia de minutos antes, o central questiona um Tondelense sobre a entrada laranja sobre Bruno Ribero, pega-lhe o queixo e o rapaz hardcore atira-se para o chão. Segundo amarelo e o Sporting reduzido a dez.

William teve de recuar para falso central, o exausto Bruno Fernandes ficou com o meio-campo todo para si (e ainda recuperou bolas) e o cada vez maior Gelson era interior, extremo, defesa e tudo o mais que a alma e as pernas lhe permitissem. Era ao coração que o Leão tinha que ir buscar os três pontos, pois numa espécie de anarquia táctica onde Coates também já era ponta-de-lança, as reais oportunidades de golo embatiam no muro amarelo cada vez mais enfiado no seu meio-campo e quando surgiam eram desperdiçadas (cabeçada para onde estava virado de Doumbia).

Dost dava normais sinais de fadiga, mas o ar que fazia a levantar-se era sinal de resto de bateria. Bruno Monteiro atira-se para o chão e tenta queimar o que resta do tempo de desconto num asqueroso anti-jogo compensado, e bem, pelo árbitro. E quando a partida é reatada, o nosso cérebro frita na luta titânica entre o “já nos fodemos” e o “esta merda ainda não acabou, esta merda ainda não acabou…”, aparece aquela bola, o Dost vai buscá-la ao concurso de afundanços da NBA, o Doumbia tenta que seja o defesa a marcar para o golo não ser anulado, a bola bate no poste e vem de lá o patrão Sebastião, com milhares e milhares e milhares a puxarem-lhe a perna atrás e, já sem ar de tanto a puxarem, acerta na bola de forma tão hardcore que os gritos que se seguiram foram quase pornográficos. E há mesmo que garanta, ainda meio a tremelicar de emoção, que aquilo… aquilo foi coisa de extraterrestres!