Lesões, suspensões, constipações e um rol de cenas que só acontecem aos Leões, levaram a equipa para Chaves cheia de remendos. Com medo de voltar a dar cabo do Dost, Jesus guardou-o no banco até ao limite do possível e, quando entrou, o holandês resolveu o jogo a favor de uma equipa que pode não tem muito futebol, mas vai mostrando uma alma do tamanho dos seus sonhos

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Sem tempo para treinar, sem tempo para dormir, com seis lesionados (Piccini, André Pinto, Coentrão, Podence, Rafael Leão e Doumbia), dois castigados (Bruno Fernandes e Acuña), um constipado (Fábio Coentrão) e o goleador numa espécie de “vamos lá ver se não dão cabo do homem outra vez”. A isto se juntaria, aos 14 minutos do jogo que anima esta crónica, a lesão de Bruno César, remendo encontrado para tapar o lado esquerdo da defesa e que cujo rasganço permitiu ao que é mesmo defesa, Lumor, ocupar a posição. Só faltava alguém ser expulso ou, sei lá, aparecer um daqueles penaltis que só aparecem contra o Sporting, para o pack nhaga estar completo e termos que abrir um gabinete de crise.

What you gonna do when things go wrong?
What you gonna do when it all cracks up?
What you gonna do when the love burns down?
What you gonna do when the flames go up?

Bem, nem tudo foi mau. A lesão de Bruno César (que volte rápido, mas para jogar onde deve) espantou um fantasma que resolveu aparecer aos 10 minutos de jogo, quando o brasileiro voltou a mostrar que não é à toa que lhe chamam chuta-chuta: ele faz a diferença é lá mais para a frente e no meio; cá atrás e na ala, posiciona-se mal, joga em esforço e faz cortes daqueles que isolam adversários. E os adversário só não tornam o cenário mais negro porque da baliza sai um gajo chamado Patrício a fazer uma mancha maior do que a baliza.

Estava dado o primeiro sinal de golo e seria preciso esperar até aos 31 minutos de jogo para ficar com um festejo a meio, desta vez na baliza contrária: Nuno André Coelho a ser Nuno André Coelho e a deixa passar a bola para Montero, o colombiano a ver Rúben Ribeiro e este a desmarcar Gelson na direita para saída rapidíssima do redes a matar o remate do extremo.

E foi isto a primeira parte. Porque o Sporting defendia bem para anular as transições do Chaves, mas era incapaz de fazer girar o carrossel ofensivo sem a presença de Bruno Fernandes, substituído por um Misic que não jogou bem nem jogou mal, mas que parecia uma espécie de teste para tentar encontrar um sósia de William (que também esteve ausente ao longo dos primeiros 45′).

O arranque do segundo tempo deixou tudo na mesma. Rúben ensaiou uma bola cortada à Barbosa, mas faltou-lhe o creme no croissant; Patrício voltou a ser Patrício indo buscar uma bola puxadinha, junto ao poste. Impaciente, Jesus recua a 1985 e lembra-se de quando tinha 30 anos e não podia ir às matinés porque era domingo e tinha jogo. De quando chegava a casa e punha a rodar o vinil e de lá saía o som de uns escoceses que lhe perguntavam
What you gonna do when things go wrong?
What you gonna do when it all cracks up?
What you gonna do when the love burns down?
What you gonna do when the flames go up?
Who is gonna come and turn the tide?
What’s it gonna take to make a dream survive?
Who’s got the touch to calm the storm inside?
Who’s gonna save you?

«Cralhes, essa é fácil!», respondeu ele de pronto, como quem joga ao quem quer ser milionário. E mandou o Bas Dost lá para dentro, retirando o candidato a gémeo do William e recuando o Bryan para a posição oito. E pronto, bastaram seis minutinhos para estarmos todos aos abraços. Rúben Ribeiro trabalhou bem na esquerda, pra lá, pra cá, novamente pra lá, e meteu redondinha ao segundo poste, à altura da altura a que só Dost chega. Pimba!

Mas não se pense que o holandês só veio para marcar. Bas, de seu apelido Dost, tornou-se a referência que faltava, o pivot, o gajo que é tosco mas que faz 9 passes com 100% de eficácia, ganha dois dos três duelos aéreos que disputa e, claro, marca dois em golos em três oportunidades. Sim, dois, porque entretanto o Battaglia, que havia passado o jogo a jogar de cadeirinha, sem passar do meio campo, resolveu dizer ao mundo que aquilo era tudo dele e começou a pressionar tudo e todos, estivessem onde estivessem.

Mas já lá vamos. Pelo meio, Ruíz, Battaglia e Coates tiveram o segundo tento nos pés, não marcaram e viram tudo a tremer quando, a dez minutos do fim, Bressan isolou Davidson, o brasileiro passou Rui Patrício e atirou para a baliza onde apareceu Battaglia a recuperar posição e a cortar em cima da linha. Irritado, o argentino foi atrás de Platiny até à área contrária, fê-lo borrar-se todo, roubou-lhe a bola, deu-a a Bas Dost e correu para o merecido abraço do 28.

Estava tudo resolvido, ou talvez não, porque Hugo Miguel resolveu achar que estava a apitar um jogo de basquetebol e assinalou penalti numa disputa de bola de Coates com o artista Djavan. Ninguém se queixaria se o Chaves empatasse perto dos 94′, mas o Sporting soube guardar a vantagem e, a poucos dias de voltar a entrar em campo com remendos, regressar à luta por um campeonato que vai disputando com algo que, por vezes, vale tanto ou mais que bom futebol: a alma!

Don’t you ever stop, I’m here with you
Now it’s all or nothing
‘Cause you say you’ll follow through
You follow me, and i, i, I follow you
[…]
Alive and kicking
Stay until your love is
Alive and kicking
Stay ‘til your love is
Until your love is, alive