Dizem que um dos melhores remédios para a “neura” é rir. E coincidindo com o estado de neura em que toda a estrutura do futebol profissional do Sporting foi capaz de deixar-me em menos de 24h, procurei na agenda as recomendações na categoria “riso”.

Em destaque, lia-se, Noite de Choco e Toupeiras, espectáculo encenado pela companhia Nunca Sube, com participação especial de Luís Godinho e dos lutadores de wrestling Ruben Dias e Ljubomir Fejsa e resolvi arriscar, mesmo tendo a ligeira impressão de que os protagonistas elencados me faziam recordar tristes actuações sem pingo de piada.

Ainda a brincadeira não tinha começado, já o público era informado que um dos actores principais, um tal de Jonas, não podia subir a palco por ter ficado momentaneamente sem voz. Entre o burburinho, alguém ergueu a voz para gritar “esse piscineiro fez foi fita, porque tem medo da cena final onde simulam a recolha de sangue para análises!“. Eish, nem vos conto o banzé que se armou na sala, com pessoas a falarem de olhos raiados de sangue e de pele amarelada por se tomarem substâncias maradas… e eu, absorvido e já quase esquecendo os meus problemas, percebi que o espectáculo já incluía aquela rábula inicial.

Depois fizeram um número engraçado, em que um choquinho com tinta e com o 7 na camisola, encostou os braços ao corpo e correu com um ar de incapacitado para mostrar que não conseguia chegar a um balão no qual uma toupeira acertou e que mereceu muitas palmas e sorrisos da assistência. Depois meteram as mãos na cabeça quando outro choquinho, de seu nome Edinho, mandou o balão para fora do palco quando a toupeira com luvas estava mesmo ali ao lado a pedir-lha. Também havia pessoal às gargalhadas, a dizer que o actor ia terminar o dia lançando uma foto nas redes sociais e escrevendo “rumo a” uma qualquer merda que eu nem percebi bem o que era.

Espectáculo esquisito, este… humor demasiado subjectivo, demasiadas pontas soltas para um gajo perceber os contornos… ah, venham de lá os lutadores! Caray… ao pé destes gajos o Bud Spencer & Terence Hill são uns aprendizes! “Vergonha!”, ouvia-se gritar da assistência, com as pessoas indignadas pelo facto dos wrestlers Ruben Dias e Ljubomir Fejsa não respeitarem as regras. “Ponham esses gajos na rua!”, mas… nada. Mesmo perante a indignação do público, a pancadaria continuava e, sou-vos sincero, aquilo já não parecia encenado e obrigou, mesmo, a que as luzes baixassem e uma voz off afirmasse “tendo um cartão amarelo não me parece que justifique”. Eu lembrei-me logo de um amigo meu, o Picinni, que coitado, tenta sempre jogar limpo e ainda há pouco tempo foi mandado mais cedo para o banho e, no meio de tanto pensamento, tive a sorte de ter o telemóvel a filmar o alvoroço e consegui apanhar essa frase épica que vem abolir a amostragem de segundos amarelos aos wrestelers que estejam vestidos de vermelho toupeira (cliquem aqui e escutem)

Faltava a entrada em cena do tal convidado especial, o Luís Godinho. Quando o vi entrar em palco lembrei-me do rapaz e de como, regra geral, espera pelas indicações do “ponto VAR” para tomar decisões. Mas, ontem, nem hesitou: quando viu o choquinho, que deixou de ser toupeira em janeiro e veio emprestado para Setúbal, espirrar na nuca do actor vestido de vermelho, tratou de castigar aquele atentado à saúde pública com a forma mais fácil de meter o balão na rede adversária e eu dei por mim a lembrar-me de algo que aconteceu na ponta contrária deste mesmo teatro de Setúbal, terra da fraternidade, a um amigo meu, o Mathieu.

Escusado será dizer que a neura pouco ou nada melhorou. Aliás, acabei a noite a sentir vómitos, e a lembrar-me daqueles dois gajos, sentados na fila atrás da minha, e do momento em que o espectador toupeira dizia ao espectador frutinha, «Miúdo tem calma porque enquanto eu não estiver senil nunca terei pena de ganhar a todo o custo… Aprendi com vocês!»

p.s. – à saída do teatro, estavam a distribuir uns flyers curiosos onde se lia «o Desportivo das Aves convida todos os seus associados para uma AG onde será decidido o que fazer ao autocarro acabado de comprar ao Benfica. Estará apenas a votação a mudança de decoração exterior, pois o nome “vermelhão” é para manter”.