Considerando o estado do futebol português e, especialmente, o estado do Sporting Clube de Portugal, é demasiado fácil entrar em extremismos. Ou és brunista ou és croquete, não há outra via ou outro pensamento. Discordo disto e acho que é possível fazer uma análise breve mas equilibrada do mandato de Bruno de Carvalho como presidente do Sporting Clube de Portugal mas – neste texto – principalmente como presidente da Sporting SAD.

Bruno de Carvalho, infelizmente, tem todas as características de um CEO com potencial mas inexperiente demais para o tamanho do negócio e organização Sporting. Isto, aliado a uma inteligência emocional claramente limitada pelo ataque constante que sofreu nos últimos 7 anos, temos uma tempestade perfeita para a situação que se vive actualmente no Sporting. Bruno de Carvalho, no entanto, tem as características e vantagens de um bom CEO de Start Up. É apaixonado pela organização, coloca-a acima de tudo até às últimas consequências, é competente com as finanças e na procura de outras fontes de rendimento e/ou financiamento, é um líder carismático que quem o apoia irá até ao fim do mundo com ele.

Comparo Bruno de Carvalho, em linhas gerais, a Winston Churchill. Era a pessoa certa no lugar certo para vencer a guerra, mas perdeu as eleições quando a paz chegou porque não soube comunicar com o povo para além do discurso de guerra. Não entendeu o que o povo desejava em tempo de paz. Em suma, há uma série de problemas fundamentais nas acções de Bruno de Carvalho.

Estratégia Comunicacional
Bruno de Carvalho não tem um objectivo bem definido quando comunica. Será que quer criar uma persona “antipática”? Será que quer denunciar os problemas do futebol português? Será que quer atacar os comentadores anti-Sporting e anti-Bruno? Outro? Todos estes? Nenhum?

Ninguém sabe. Bruno de Carvalho tem obrigatoriamente de começar a tratar a comunicação como uma parte fundamental da valorização da marca Sporting, da estabilidade institucional interna e na imposição do Sporting como actor principal do futebol português. Para isso é necessária uma estratégia clara que saiba gerir os momentos nos silêncios, nos momentos para falar, como falar e através de que meio.

Estilo de liderança
De acordo com Goleman (“Leadership that Gets Results”, Harvard Business Review, 2000) há 6 estilos globais de liderança. Goleman explica que cada estilo tem vantagens e desvantagens, características que o líder deve ter e cada estilo tem momentos em que é mais eficaz e outros momentos em que é destrutivo. Bruno de Carvalho quando chegou utilizou o estilo “Commanding” que é mais adequado quando há uma crise e uma mudança tem de ser iniciada ou quando há problemas com os colaboradores. Para este estilo ser bem sucedido o líder terá de ter iniciativa e vontade de alcançar resultados e… auto-controlo.

Bruno de Carvalho continuou a usar este mesmo estilo passado 5 anos. Se há 5 anos poderia ser o mais adequado, agora já não é de certeza absoluta. Importante de realçar que este estilo – o estilo adoptado durante 5 anos por Bruno de Carvalho – tem um impacto extremamente negativo em todos os elementos da organização portanto deve ser usado com muito cuidado. No caso do Sporting dura evidentemente há demasiado tempo. Bruno de Carvalho devia pensar bem nisto, ler o artigo de Goleman e perceber o que deve fazer e que alterações seriam recomendáveis no seu estilo de liderança durante o tempo que resta do seu mandato.

Organização
Devido ao estilo de liderança, Bruno de Carvalho rodeia-se naturalmente de “Yes Men” com algumas excepções (Carlos Vieira, por exemplo) e tem dificuldade em lidar com uma organização não rigidamente hierárquica. “Yes Men” lidam com o estilo de liderança de Bruno de Carvalho de uma forma natural, dizem que sim a todas as “ordens” publicamente mas conspiram e discordam pelas costas.

Todos os seres humanos gostam de achar que pensam pela própria cabeça, todos gostam de reconhecimento. A organização tem de ser montada de forma a dar autonomia suficiente para as melhores mentes crescerem dentro da organização e queiram seguir a visão da organização. Bruno de Carvalho precisa de atrair os melhores, aqueles que são mais competentes que ele próprio, que são mais sportinguistas que ele próprio, e que o desafiam e levam a organização ao próximo nível. Para isso, é preciso dar-lhes espaço, mudar políticas de recrutamento e organizacionais para promover as pessoas e não a hierarquia.

Estabilidade emocional
Bruno de Carvalho em 5 anos teve uma filha, divorciou-se, casou-se, teve outra filha, foi atacado pessoalmente, ameaçado múltiplas vezes, teve a família perseguida publicamente e na sua vida privada. Profissionalmente teve vitórias e derrotas, está a enfrentar concorrência desleal e criminosa num ambiente historicamente corrupto, hipócrita e corporativo. Enfrenta infindáveis anticorpos para conseguir trazer transparência e mudanças positivas ao futebol português, europeu e mundial.

Tudo isto, naturalmente, tem consequências. Justifica parcialmente muitas das atitudes imponderadas de Bruno de Carvalho mas não pode ser considerada a razão fundamental. Bruno de Carvalho precisa de se proteger e para se proteger tem de pensar nos 3 pontos anteriores: Comunicação, Estilo e Organização.

Votei em Bruno de Carvalho 3 vezes em AGE e apoiei as suas opiniões várias vezes em AG. Sabendo o que sei hoje, continuaria a fazê-lo. No entanto, Bruno de Carvalho tem de crescer e de aprender para continuar a ser a pessoa certa para o Sporting. Desejo sinceramente que isso aconteça porque não me lembro de presidente que amasse tanto o clube como Bruno de Carvalho ama o Sporting Clube de Portugal.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Miguel Graça
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