Esta é a crónica de um dérbi que podia ter sido o dérbi de um dos melhores golos da história do futebol, mas que acabou por ser um dérbi à imagem da época deste Sporting armado em italiano

dérbi-tochas

Se calhar o problema é meu. Vai na volta, se calhar fui só eu que saí de Alvalade completamente desapontado. Frustrado. Irritado.
Se calhar sou só eu que acho que o Sporting fez um jogo sem chama, um jogo de merda, mesmo, onde os seus melhores elementos acabam por ser Rui Patrício (o tal que diz sempre presente como um Buffon, que se isto é para ser à italiana é para levar a sério); Coentrão por ter sido quase sempre o mais esclarecido e aquele que tentava encontrar o correcto destino para a bola; Mathieu, pelo autoritarismo ao longo de 90 minutos; e Battaglia, porque no meio de 90 minutos tão exasperantes é impossível não gostar de um gajo que corre descalço sobre um molho de vidros partidos.

E já que falamos em Coentrão, se calhar sou eu o único a achar que o nosso treinador cai no ridículo ao afirmar que o jogo se dividiu em oportunidades de golo. É que, assim de repente e depois de uma noite mal dormida, se calhar sou só eu a achar que o redes lampião, que é uma merda, não teve que fazer uma defesa e que o melhorzinho que fizemos foi uma cabeçada do Fábio ao lado do poste e uma cabeçada do Ruiz por cima da barra.

Ah, sim, o lance do Dost, apontado pelo nosso treinador como o mais perigoso em todo o encontro. O lance do Dost é o lance de maior génio em todo o jogo, como se Dennis Bergkamp tivesse aterrado em Alvalade, mas depois daquele rodopio a bola nem foi rematada para a baliza. Nos entretantos, lembro-me de levarmos uma bola ao poste logo aos 7 ou 8 minutos, lembro-me do Patrício defender outra para o poste (enorme defesa) e fazer mais uma tremenda intervenção no frente a frente com Samaris. Se calhar o problema é meu e estou a ver tudo mal.

Mas falava do Dost. Inacreditável como depois de um bailado de 1,96 o homem prefere passar ao Gelson do que tentar marcar um dos mais belos golos da história do futebol. Mas o holandês não é o único que parece ter a cabeça feita num oito.

Se calhar sou só eu a ver que o Bruno Fernandes, depois de ter que jogar contra o mais mijado que fosse nas Taças e Tacinhas, está tão cansado que perde capacidade de passe, de posicionamento, de quase tudo. Se calhar só só eu a achar que rebentaram o Gelson, que até lesionado jogou, e que o miúdo bem quer, mas há vezes em que as pernas não respondem (e continua a ser ele a ter que acelerar ou a inventar qualquer coisa).

Se calhar sou eu a achar que a cena do Sonso Vitória saber de cor o onze com que vamos jogar não vale apenas isso. O nosso onze não é só um onze! É um onze que joga sempre da mesma forma, que só tem uma ideia de jogo e que se apresenta rígido como peças de xadrez que mudam de sítio mantendo a mesma estratégia. E que, por isso mesmo, foi completamente engolido na primeira parte, tendo cerca de 15 ou 20 minutos de completo desnorte, com os jogadores atarantados, desposicionados, incapazes de perceber o que estava a acontecer à sua volta e valendo o monstro que ocupa a nossa baliza para garantir que tudo corria menos mal.

Se calhar sou eu o único a achar que não se entende o porquê de não manter um onze que vinha dando boa conta de si, até para surpreender o adversário que já estava a contar com o onze que acabou por ser escolhido.

Se calhar sou eu o único a achar que as peças se arrumaram ao intervalo, que o meio-campo estancou a superioridade adversária, que o Piccini meteu a direita da defesa no bolso, mas que isso apenas serviu para fazer aquilo que me pareceu uma das premissas para este dérbi: o 0-0 joga a nosso favor.

Se calhar sou só eu a contorcer-me de nervos ao sentir que até existiram sorrisos face a este empate e que foi um resultado do caraças.

Se calhar sou só eu a não me conformar com a falta de vontade de acabar com o campeonato ontem, ganhando e colocando um ponto final nesta questão do acesso às prés da Champions, em vez de estarmos a jogar no fio da navalha e atirarmos as decisões para uma ida à Madeira, esse paraíso das malas para onde os dois compinchas da construção civil vão enviar um carregamento na tentativa de nos atirar para o quarto lugar.

Se calhar sou só eu a não achar aceitável que não tenhamos ganho um único jogo dos que foram disputados entre os quatro primeiros classificados e que foi aí que enterrámos o campeonato.

Se calhar sou só eu a estar cansado de justificar tudo com erros de arbitragem, que foram grosseiros e, claro, mais a nosso desfavor. Incrível como Ruben Dias faz o que quer (dois penaltis e uma agressão) e nem um amarelo chega a ver (e o amarelo a Bruno Fernandes também era vermelho).

Se calhar sou só eu a estar tão saturado deste Jesus italiano, que acordei a pedir a Deus que me dê ganas. E, já agora, que nos dê um final de época à Paolo Rossi ao invés de um genial Baggio a marcar o penalti para as nuvens…