Uma semana de pesadelo não podia terminar de outra forma, senão com uma derrota em pleno Jamor. Há cacos de Sporting espalhados por todo o lado e o pior é que tudo aponta para este final de época horribilis esteja longe de estar terminado

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Não sei o que foi pior: se a derrota na final, se o pós jogo com os Sportinguistas completamente divididos, entrincheirados em lados opostos e alimentados diariamente nesses pequenos ódios. E este sentimento espelha bem o que rodeou esta chegada ao Jamor e que nos fez entrar em campo como um clube sem rei nem roque ao nível do futebol profissional.

Presidente de um lado, jogadores do outro, treinador na corda bamba, conselho fiscal e mesa da assembleia demissionários, membros de claques presos por terem invadido a Academia e agredido os atletas que, melhor ou pior, defendem as nossas cores. Junte-se-lhe uma equipa sem treinar, uma conferência de imprensa de duas horas e uma manhã de jogo onde as vozes continuavam a falar de tudo menos de futebol, e temos criado o enquadramento perfeito para terminar como terminou: em lágrimas.

Claro que podia ter sido diferente. O Sporting entrou bem, podia ter marcado uma e outra vez, sempre por Gelson, mas faltou frieza e qualidade na finalização. Filme já visto (que jogador já serias de tivesses essa capacidade de decidir quase sempre bem, Martins), tal como o reverso da medalha: o adversário vai lá uma vez e marca. 16 minutos de jogo, sai da frente Guedes e o cabrão do fantasma Académica a pairar-nos no espírito.

Para nós, a primeira parte terminou nesse momento. Bruno Fernando e Gelson lá tentavam um ou outro esticão, mas aquela dupla William -Battaglia que não funcionou ao longo de 10 meses voltou a não funcionar (que espanto). E Jorge Jesus emendou a mão ao intervalo, lançando Montero para o lado de Bas Dost.

O Aves foi encostado lá atrás e, mesmo sem a clarividência necessária, quase sempre mais com coração do que com cabeça, o Sporting fazia-nos acreditar no provérbio da água molde em pedra dura. O problema foi que com tanta molenguice Gelson adormeceu (e, sim, há falta no lance em que perde a bola, mas o VAR estava a aproveitar o solinho do vale do Jamor) e Coates mostrou uma dolorosa dureza de rins, sendo ultrapassado por Guedes antes do 2-0.

Faltavam 20 minutos mais os descontos. A debandada de adeptos leoninos começou (e tanta gente a querer um bilhete para lá estar até final…), os que ficaram faziam uma corrente de fé com os que, longe, só se lembravam da última final ganha, frente ao Braga. E o pensamento positivo quase resultou, quando Bruno Fernandes fez da fraqueza última força, recuperou uma bola, cruzou, Quim saiu mal e Dost, com a ba-li-za-com-ple-ta-men-te-es-can-ca-ra-da atirou à barra.

Castigo demasiado pesado para o holandês de cabeça ligada, para os adeptos leoninos, para quem está a passar por tudo e isto e não entende o que fez para merecer. Quem mereceu aquele golaço foi Montero, que entrou na partida decidido a mudar-lhe o rumo. Faltavam cinco minutos. Mais os descontos. Mas nada se alteraria e esta verdadeira semana de pesadelo, capaz de deixar o Sporting em cacos, terminaria da pior forma. Com a agravante de, ao contrário de um pesadelo que percebes que vai terminar, te deixar sinais que está para durar.