Desenganem-se todos aqueles que acham que o pior já passou e que agora nos limitaremos a apanhar os cacos de duas semanas de absoluto caos no Sporting Clube de Portugal. A ferida que foi aberta é demasiado profunda, demasiado grave e demasiado fracturante para que seja tema do passado com uns quantos toques na bola, com um novo treinador ou uns reforços já confirmados desde Janeiro.

O Sporting é hoje uma espécie de país sem Estado. Não sabemos o que será o futuro no nosso técnico, acabamos de perder o médico, a Direcção desdobra-se em reuniões sempre inconclusivas e a Mesa da Assembleia pressiona por uma AG de forma a esclarecer os sócios ou alterar o rumo. Esmiuçar todos os acontecimentos dos últimos tempos parece-me um exercício fútil que roça o masoquismo, mas esquecê-los achando que tudo voltará a ser igual é uma ilusão construída em torno de uma ideia que agora vemos desmoronar-se à nossa frente.

O Sporting que existia em Janeiro já não existe. O plantel que existia em Janeiro já não vai existir. A massa adepta convicta de que o clube leva o melhor caminho acaba de se partir entre os milhões de rótulos que uma e outra posição vão criando, difundido pelas redes sociais e alimentando na praça pública. Uma cultura de ódio que se instalou como nunca antes entre sportinguistas.

Hoje, mais que nunca na sua história, o Sporting precisa de se refinir, de estabelecer objectivos claros para os tempos que se avizinham e de se proteger. O futuro desportivo e financeiro do clube depende de um Verão sem polémicas, sem lavagem de roupa suja, sem entrevistas bacocas e sem pais de atletas em horário nobre da SIC.

O mercado de transferências, no que toca a compras, deve ser imediatamente suspenso. Existe a necessidade maior de garantir aos que já estão de que tudo está a ser resolvido. Existe de novo a necessidade de vender, depois do falhanço desportivo da temporada. E existe mais que nunca a necessidade de regressarmos à fórmula que nos permitiu voltar a ser competitivos, apostando nos imensos jogadores que temos nos quadros, muitos deles com qualidade para serem verdadeiras mais valias, outros que apenas cumpram o papel secundário a que a sua qualidade lhes permite. Mas, a cima de tudo, que voltemos a ser um Sporting bem vincado no seu ADN e que possamos crescer sem dar passos maiores que as pernas.

Estou convicta que Bruno de Carvalho será o nosso presidente no princípio da próxima temporada, com todos os riscos que saberá que existem com essa decisão. Estou convicta que apenas a boa performance desportiva o poderá salvar de sair pela porta de trás, escondido dos seus sócios e exilado da vida activa do Sporting Clube de Portugal. Que tenha isso bem presente no dia de escolher um novo treinador.

De resto, digo o que digo sempre por este espaço. Jogadores como Chico, Bruno Paz, Rafa Barbosa, Leão, Gelson, Palhinha, Matheus, Domingos, Ru1 ou Mané darão sempre muito mais pelo Sporting do que dá um jogador convicto que é um simples assalariado. Chegou a altura de chamar a primeiro plano muitos destes nomes.

No fundo, tudo isto não é mais que uma esperança de quem adora futebol e cresceu a gostar do Sporting. Resolver o que temos por resolver, confiar no muito que já temos e entender todos aqueles que não queiram fazer parte desde projecto desportivo depois da situação que passaram (saindo a bem sempre, nunca forçando).

Nota final: O Sporting entregou o título de campeão de juniores ao Benfica, depois de uma grande temporada dos jovens encarnados, que são os justos campeões. Os problemas da nossa equipa foram aqui esmiuçados toda a temporada e agora aguardamos pela definição estrutural da nossa formação. Destaco claro, a excelente geração que continuamos a ter em mãos, apesar do insucesso desta época.

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*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa