Sobre o próximo treinador do Sporting apenas sabemos o pouco que Bruno de Carvalho quis revelar. É um homem. E apesar da nossa aparente aflição perante os rumores dos inúmeros profissionais que serão escolhidos para comandar a equipa técnica, o nosso treinador futuro terá a dura missão de comandar uma equipa e um clube desfeitos, divididos, com uma massa associativa descontente, gerir os humores dos seus jogadores e a instabilidade do Conselho Directivo.

Seja quem for o tal homem, merece para já o nosso aplauso por aceitar esta tarefa quase impossível e uma palavra de agradecimento pela sua coragem. Partindo deste pressuposto, vamos aos candidatos.

Filipão
Todos o conhecemos de ginjeira. Não fosse ele o homem que uniu uma nação inteira, alegrou um país e pintou Portugal de vermelho e verde durante muito tempo. Não fosse ele o homem que nos levou a uma primeira final internacional e a um fantástico quarto lugar no Mundial de 2006. Não fosse ele campeão do mundo.
Negar os feitos de Scolari apenas porque se tornou numa espécie de tio querido, mas ligeiramente louco, do futebol parece-me absurdo. Mas a verdade é que esses mesmos feitos foram fruto de uma capacidade muito sua, a da motivação, e funcionam melhor em ambientes como os de selecção. Para levar um clube europeu à glória, a capacidade técnica, as valias tácticas e o conhecimento do jogo são essenciais. Não estou certa que Scolari tenha o que é preciso nesses campos para vencer um campeonato português, porque a consistência e o treino são os factores mais importantes para o conseguir.

Miguel Cardoso
Uma escolha mais segura e certamente mais consensual entre adeptos. Miguel Cardoso levou o Rio Ave à melhor classificação de sempre, apresentou um futebol muito positivo, valorizou atletas e apareceu como uma lufada de ar fresco no futebol português. Ele e o Luís Castro foram uma alegria no passado campeonato, pelos princípios de jogo, pela forma de encarar o desporto e por se recusarem a ser pouco mais que um autocarro.
Miguel Cardoso numa perspetiva de valorização de activos, assumindo que partimos de trás em relação aos rivais, um pouco como Leonardo Jardim chegou, parece-me uma excelente ideia. Exigir-lhe que seja logo campeão frente ao actual detentor do título e frente a um homem que já o venceu duas vezes, é pura ilusão. Ainda assim, uma escolha pouco arriscada e um homem que mais tarde ou mais cedo chegará a um grande do futebol português.

Julian Nagelsmann
O jovem treinador, que levou à gloria o modesto cube Hoffenheim, seria sempre um alvo complicado de concretizar. Ainda assim, o “génio” de apenas 30 anos mostra todas as características para ser um técnico de sucesso num clube como o Sporting: valorização de jovens, aposta na formação, proximidade com o seu plantel, coragem e a capacidade constante de inovação. Não será mais que um sonho, talvez, mas este seria sempre o perfil que deveríamos estar à procura.

Wenger
Os últimos anos no Arsenal foram um autêntico calvário, com muita contestação à mistura, mas Wenger sabe mais de futebol a dormir que qualquer treinador da Liga em ácidos. É um professor, que tem especial gozo em comprar menos e aproveitar mais e que passa para os clubes uma impressão digital muito própria e muito sua.
Antes de o avaliar, temos primeiro de considerar que o Sporting, ainda que o melhor clube do mundo nos nossos corações, joga numa Liga em tudo inferior à Premier. E que o Arsenal, apesar de ser um gigante em Inglaterra, tem camadas jovens em tudo inferiores às do Sporting. Seria um casamento ideal, de duas instituições que procuram fechar um capitulo turbulento e provar que ainda conseguem vencer. Espectáculo, golos, futebol incrível seriam uma certeza. Segurança defensiva uma possível miragem. Mas quem prefere ganhar 1-0 a 5-4? Ninguém!

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa