O que se passou esta noite, a noite em que Cristiano Ronaldo se tornou no primeiro a fazer um hat trick à Espanha num Mundial, se tornou no futebolista mais velho de sempre (33 anos) a fazer um hat trick num Mundial e no quarto jogador da história a marcar em quatro mundiais, igualando os feitos de Pelé e dos alemães Uwe Seeler e Miroslav Klose, não foi apenas mais um capítulo dourado de uma história incrível que temos tido o privilégio de acompanhar.

Numa altura em que nós, Sportinguistas, somos novamente postos à prova na nossa relação com o desporto rei e com os atletas que nos representam no relvado, Cristiano Ronaldo fez questão de voltar a fazer-me sorrir. Mais, fez questão de reforçar algo de que me recuso a abdicar.

Por esta altura já percebeste que este não é um post para quem acha que o futebol, como qualquer outra modalidade, pode viver sob a máxima de “zero ídolos”. Ou, se calhar, até é. Por via das dúvidas, continua a ler.

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A foto que vês acima é uma foto que ficará para a história. Pelo golo que antecede, mas, também, pelos milhões de adeptos, portugueses, japoneses, australianos, indianos, canadianos, tibetanos que, naquele preciso momento, olharam para Ronaldo e tiveram a certeza de que estava ali o golo do empate. «É agora». Passou-me pela cabeça a mim, a ti, a eles. E foi, mesmo com gajos com quase 1,90 de altura a saltarem para tentar impedir um daqueles momentos que explicam o porquê do futebol arrastar multidões.

E tudo se torna mais incrível quando alguém se despe de pruridos e grita para o mundo o que nos vai na alma.

Não sei quantas vezes já vi estas imagens e ouvi este relato nas últimas quatro horas. Fi-lo em loop. E de cada vez que repito, intercalando com palavras azedas, enraivecidas, desiludidas, algumas carregadas de ódio que vão sendo deixadas nas redes sociais, tenho certeza reforçada que o futebol, como quase tudo na vida, é algo que nos molda enquanto pessoas. Que nos faz crescer, com aquele desafio que é, no fundo, um dos grandes desafio que se nos colocam com o passar do tempo: como queremos crescer?

Qualquer um de nós, adulto, sabe perfeitamente que o futebol se tornou num negócio onde, infelizmente, se pratica o vale tudo para atingir as vitórias ou os contratos chorudos. Qualquer um de nós, adulto, sabe o que é sofrer desilusões causadas por aqueles que admiramos. Qualquer um de nós, adulto, sabe que aquilo que sentimos quando vestimos a camisola verde e branca muito dificilmente será sentido por um jogador que a vista. E o que é que fazemos com esses ensinamentos e essas certezas que nos foram sendo impostas com o passar do anos?

Essa é a pergunta.

Eu, entre o vendaval de desilusões que foram as últimas semanas do futebol do Sporting e a forma como festejei o golaço de Ronaldo, esta noite, tenho uma certeza: por mais que doa a dobrar, quero continuar a ser o puto da foto que escolhi para abrir este post.