Escrevo-vos na sequência de uma coisa que é repetida até à exaustão em comentários e posts e que eu não posso deixar passar sem fazer um esclarecimento: o capital da SAD, com o risco de perder a maioria e com o temor que isso causa em quase todos.

Não é o meu caso, desde que o SCP mantenha a capacidade de decisão, e há mil e uma maneiras de isso acontecer com uma participação minoritária desde logo, e a começar, com a alteração dos direitos de voto. Ou seja, e por exemplo, o clube ter acções de tipo A com direito de voto e os outros accionistas terem acções de tipo B sem direito de voto. Uma situação deste tipo não é nada incomum e funciona relativamente bem.

O esclarecimento que eu quero fazer é o seguinte:

1 – A SAD tem três grandes activos e que interessam a um eventual investidor: a marca Sporting, a equipa de futebol e os direitos de superfície sobre o Estádio;

2 – Sobre os dois primeiros não sei mais que qualquer sócio ou adepto saberá (a equipa pode ser construída a qualquer momento, haja dinheiro e a marca Sporting é o activo mais valioso da SAD, sem esta não existe nada);

3 – Sobre os direitos de superfície, estes são importantes para esclarecer duas coisas: por um lado grande parte do milagre financeiro operado e por outro o grande risco que a SAD corre neste momento;

4 – Os direitos de superfície, até 2063, sobre o Estádio (e o multidesportivo) eram, desde 2005, propriedade de uma empresa chamada SPM (Sporting Património e Marketing), que por sua vez era detida a 100% pelo SCP, e estavam avaliados em 140 milhões de euros (200M de avaliação menos 60 de amortizações acumuladas);

5 – Até aqui não havia problema nenhum porque ninguém iria querer controlar uma SAD que podia não ter onde jogar (o SCP podia através da SPM simplesmente impedir a equipa de futebol de jogar no estádio porque a SAD não tinha quaisquer direitos sobre ele);

6 – Em 2014, e como parte da reestruturação financeira e com um impacto no activo da SAD de 140M (daí a saída da situação de falência técnica repentina nesse ano, não foi nenhum milagre, foi uma operação contabilística hábil mas não especialmente complexa), a SPM foi fundida na SAD, ou seja, quem ficou com os direitos de superfície deixou de ser a SPM (empresa autónoma da SAD e controlada pelo SCP) e passou, através da fusão, a ser a SAD;

7 – E com esta operação, talvez necessária mas muito arriscada, todo o poder ficou do lado da SAD (tem a marca, a equipa e os direitos sobre o estádio) e numa situação de fragilidade, o clube (aconteceu agora mas podia ter acontecido noutra altura qualquer), ficaria, como ficou, completamente desprotegido e à mercê;

8 – Sou por isso de opinião, e por isso te escrevo, para que faças o que puderes para alertar os sócios para esta situação que mais que futebolistas ou treinadores (que vão e veem e não ligam puto a isto), ou combater moinhos de vento e fantasmas imaginários, o importante é fazer os possíveis para resgatar os direitos de superfície sobre o estádio para o clube ou para uma empresa autónoma por este totalmente controlada.

9 – Tendo os direitos de superfície sobre o Estádio, aumenta, de forma exponencial, o poder do clube sobre a SAD, protegendo-o assim quer de apetites externos quer de incompetências (ou outras) internas. E mesmo havendo necessidade (que pode vir a acontecer, agora ou num futuro próximo) de abdicar de mais um pouco do capital da SAD, com certeza que o poder negocial será outro detendo o poder sobre o Estádio isto para não falar da diminuição acentuada dos riscos que agora todos tememos.

10 – Esta é uma questão um pouco técnica, pouco dada a discussões inflamadas no blog e onde não fácil escolher quem são os bons e os maus mas é, neste momento, e na minha opinião das mais cruciais com que o clube se defronta.

ESTE POST É DA AUTORIA DE… HAP
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