Parece mentira, mas há quase três meses que o Sporting não pisava o relvado de Alvalade. Essa última vez, tão distante, foi o paupérrimo empate a zero com o benfic@, ao qual se seguiu uma combinação de episódios traumáticos que atiraram o Sporting para os cuidados intensivos e os seus adeptos para uma interminável série de consultas no divã do psicólogo.

Essa era, desde logo, a maior prova de fogo para a partida da noite de ontem: o reencontro. Depois das cartas, das guerras abertas, da invasão à Academia, da recusa em treinar, da perda da Taça, das rescisões, das AG, da comissão, dos empréstimos, dos regressos, das conferências de imprensa de união a cheirar a podre e de um constante atirar de pólvora para um clube em chamas.

A resposta foi positiva, com perto de 30 mil a marcar presença em Alvalade (incluindo um Soares Franco a matar saudades da bancada e quase a matar-nos do coração), enfrentando a guerra interior que existe em cada um de nós e que procurarmos resolver com o antídoto que tem sido o nosso Vitalogy de E. H. Ruddock ao longo dos tempos: o Sporting (e ajuda sempre perceber que não se calou “o mundo sabe que” da abertura)

Depois, a outra prova de fogo: ver o que pode valer uma equipa longe de estar construída, longe de estar afinada, com uma pré-época a roçar o amador e jogadores a chegarem e a saírem aos bochechos e sem dar margem ao treinador para passar e tentar implementar as suas ideias ao grupo.

Deu empate e deu mais alguns bons sinais de vida, mas o começo não podia ter sido pior: atraso de Ristovski para Viviano e o redes a não reparar na aproximação rápida de Germain, oferecendo o golo ao adversário logo aos três minutos. O Sporting reagiu, com o capitão Nani a mostrar-se o mais inconformado e a procurar visar por das vezes a baliza, embora uma das grandes dúvidas recaia, precisamente, sobre o 17: faz sentido tê-lo a extremo ou temos, cada vez mais, um jogador para o meio?

E foi também no meio que surgiram bons sinais. Bruno Fernandes mostrou que continua a saber se elegante e pressionante (e ainda o deixaram exibir a braçadeira de capitão de equipa, num daqueles momentos em que os adeptos se sentem prisioneiros de guerra a ser torturados num campo vietnamita e só um coronel James Braddock nos pode salvar), Wendel aproveitou para espreguiçar-se e soltar algumas palavras em mandarim. Também por lá andava um rapaz chamado Petrovic, coisa para fazer qualquer um ter saudades do Bruno Caires… Ah, nas alas também se notaram algumas movimentações interessantes, com convites à subida dos laterais através da disponibilidade dos médios para tabelas interiores.

Aliás e essa será, talvez, a nota de maior destaque, este Sporting de Peseiro mostrou vontade de praticar um futebol onde se sabe que o adversário tem baliza, numa toada que se manteve na meia hora final da segunda parte, já depois de André Pinto fazer o golo do empate e de serem feitas duas mãos cheias de substituições, com Bruno Gaspar, Acuña e Raphinha (ó Peseiro, pede aí um par de tomates para tirar o Nani quando ele estiver a ser pior do que o Matheus Pereira) a aproveitarem para dar um ar de sua graça.

No final, a boa notícia de que, afinal, ainda vamos ter um Troféu 5 Violinos (5 agosto) e de que há tempo para afinar uma equipa que, com os ajustes necessários (é necessário o avançado que esmague defesas, o lado esquerdo da defesa deixa muitas dúvidas e a posição seis ainda mais, até porque não será Battaglia a ser o senhor que sabe sair a jogar), até pode dar os sinais de vida necessários para voltar a fazer-nos sonhar.