Faltam 3 dias para escolhermos uma nova direção. Por mais que tenhamos a nossa ideia fixa quanto ao melhor candidato ou a melhor lista para o Sporting, ninguém adivinha o futuro. Mas há uma coisa que todos, ou quase todos, conseguimos adivinhar: não vai ser fácil governar o nosso clube.

À parte das teorias do caos de Ricciardi, a verdade é que há de facto um défice financeiro de curto prazo e um défice desportivo estrutural. Falo, claro, do futebol, o pai e a mãe de todos os problemas no Sporting.

Sai claro como a água dos vários debates recentes, que todos concordam que o nosso futebol, desde a formação à equipa A, precisa de uma intervenção diferente, uma reestruturação da base ao topo, uma redefinição completa quer nos quadros técnicos, quer nos equipamentos, quer no modelo de prospeção e sobretudo na arte de conseguir moldar equipas principais competitivas. Quem segue os meus textos, lembrar-se-á a quantidade de vezes que chamei à atenção para este, agora nítido, atraso estrutural e competitivo do Sporting. Algo foi melhorado com a entrada e sobretudo a exigência de Jorge Jesus, mas o ex-treinador não foi nem nunca será um definidor de programas ou projectos de fundo e as medidas foram pontuais (apesar de importantes) escapando a visão global do pretendido.

Procurei arduamente esta “visão de reforma” nos programas e discursos dos candidatos e tudo o que encontrei foram…mais medias avulsas e preâmbulos de “necessidade de melhoria”. Melhorar significa trabalhar em cima de uma base que é válida. Infelizmente não é o caso. É urgente substituir, implementar, renovar, começar de novo. Passámos há muito o tempo da reciclagem ou do aproveitamento e olhando para a taxa de sucesso e a curva das performances dos vários departamentos eu diria que está tudo numa queda acentuada, exceptuando como é óbvio o futsal e o futebol feminino. Muitas pessoas com que falei sobre este tema ao longo dos anos tiveram muita dificuldade em entender este conceito de “tendência de queda na formação” e “desatualização do modelo de futebol profissional” e salientavam sempre pequenos focos de sucesso temporário como provas de validade do que estava implementado.

No campo da formação, a verdade é que ano após ano, as grandes vedetas das camadas jovens são cada vez menos as que jogam no Sporting. A verdade é que há cada vez menos miúdos-maravilha a chegar à equipa principal. A verdade é que os nossos formados têm cada vez mais dificuldade em se impor no futebol profissional.

No campo da equipa principal, a verdade é que temos extremas dificuldades em vencer jogos (relembrem há quanto tempo a equipa principal não consegue golear ou sequer vencer um jogo com facilidade evidente), extremas dificuldades em vencer títulos, extremas dificuldades em manter jogadores de grande talento nos quadros e sem o desespero para sair assim que se confirmam como jogadores de topo.

A próxima direção terá o desafio perfeito para enfrentar. Mudar tudo e mudar tudo para melhor. Repito, não será fácil. Racionalizar os gastos e conseguir investir melhor, não é fácil. Reestruturar, trazendo mais competência para o clube em áreas fundamentais (scouting, gestão de recursos humanos, motivação, estratégia comercial, gestão financeira, etc) não é fácil. Impor uma nova mentalidade, elevando os níveis de ambição e orgulho, com Peseiro, não é fácil. Atrair melhores jogadores enquanto se limpam balneários de tanto entulho, não é fácil. Motivar e unir os Sportinguistas, na ressaca de uma das piores crises institucionais vividas pelo clube, não é fácil.

Os candidatos tentaram convencer-nos que o conseguem fazer, eu duvido que tenham essa certeza. Mas irão tentar e todos os sportinguistas devem entender que a partir do dia 8 de Setembro não acaba nenhum dos nossos problemas, bem pelo contrário, acabam-se as desculpas para não os atacar. Espero que quem vença, tenha a arte e a inteligência de saber usar todas as forças do clube ao serviço do crescimento do Sporting, não deixando o passado para trás como algo dispensável e inútil. O futuro será escrito com o entendimento profundo do que fizemos mal e terá de ser mudado, mas também do que fizemos bem e merece ser continuado. Mas insisto de forma muito convicta no ponto de termos mesmo de mudar.

Não chega meter uns pozinhos de simpatia e racionalidade no discurso, ter um pouco mais de habilidade diplomática no espaço do futebol, ser muito cordato com parceiros e banca e super bajulador com os treinadores e atletas. Isso é meramente superficial e resolverá pouco ou nada. O que fará da próxima presidência um sucesso só poderá ser construído em cima de uma enorme entrada de competência dentro do Sporting. A competência de analisar, reformular e implementar uma nova forma de pensar o Sporting.

O clube que conheço hoje, está muito atrasado, em demasiadas vertentes e quem quiser informar-se desta realidade, basta ir a cada área do clube e fazer 2 perguntas a qualquer dos colaboradores. O que falta? Onde falta?

Dica: levem um bloco bem grande e várias canetas.

futuro2

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca