Concordo com a ideia que o Sporting é neste momento um clube fracturado na sua base. Há divisão e pior que isso, há divisão activamente a querer que se acentue a discórdia e o não apoio a quem foi mandatado pelos sócios para governar o clube. Sou um defensor do conceito que um clube unido oferece condições mais estáveis e mais propícias para o sucesso, mas navego na dúvida se a “união” deverá ser um objectivo ou o resultado de uma boa gestão.

Ouço e leio com muita atenção todos os argumentos de todos os que se dizem “leais” a qualquer que seja o seu conceito de clube. Passando por cima de um certo “arianismo” de adeptos que se acham o último reduto de Sportinguismo puro e livre, há mágoas e convicções bem fundamentadas que todos os quadrantes de governação devem considerar e tentar amenizar, quanto mais não seja porque, mesmo estando numa condição de auto-exclusão, não deixam de ser adeptos e sócios do Sporting e quem assumiu os seus destinos também é Presidente dos mesmos.

É possível “unir” de volta estes desalinhados? É. A grande pergunta é como o fazer. Tenho a certeza que a resposta estará toda depositada na qualidade do trabalho de quem venceu as últimas eleições. Todos os passos correctos que forem dados, aproximarão adeptos descontentes e descrentes. Todas as medidas e políticas bem alicerçadas servirão para diminuir a desconfiança. Todos os resultados positivos, sobretudo no futebol, atrairão os mais convictos que esse desígnio nunca seria possível.

É a competência, o trabalho árduo e uma política de comunicação racional, assertiva e durável que dará união ao Sporting. Nada mais. E no fundo não é muito diferente da validação de qualquer outra liderança. Quem leva ao sucesso é bom líder e conquista apoio, quem não prova saber escolher os melhores caminhos dificilmente sustém ou amplia a sua base de apoio. É cruel, frio e absolutista, mas é a mais pura das verdades. No Sporting acresce o factor de como se consegue conquistar esse sucesso, o modo, o comportamento, a observância do método também tem de obedecer a uma espécie de guia de estilo que ninguém sabe qual é, mas todos sabem qual não é.

Para Frederico Varandas ou qualquer que fosse o vencedor das eleições, a missão é incrivelmente difícil e não há margem de erro absolutamente nenhuma. O futebol será a medida da sua sobrevivência e a única forma de validar e expandir o tal desígnio de “união”. E não parece nada que vá ter facilidades para o conseguir concretizar sem uma dose substancial de criatividade em gerir um treinador e um plantel feito de inabilidades e condicionalismos. Depender de um conjunto de jogadores divididos entre o “onde é que eu fui parar?” e um “deixa lá ver o que isto dá” não é um sinónimo de bons augúrios e agrava-se quando o líder destes rapazes se chama José Peseiro, um treinador que nunca passou dos quases numa verdadeira gincana que passou sempre ao lado da consagração no futebol português.

Num cenário ideal, a direcção tinha depositado no plantel e na escolha da equipa técnica a sua visão para o futebol. As contingências levaram a que herdassem os remendos de uma CG. Olhando para a frente diria que os dados já estão lançados e não resta muito a fazer que ultrapasse a tarefa de tentar dar a Peseiro a ideia de total e indefectível apoio e dar aos jogadores a certeza que estão num clube com um presente e futuro auspicioso, onde vão querer estar… e vão estar bem. E rezar para que os problemas, as fraquezas e as inseguranças sejam ultrapassadas pela ambição e talento disponíveis.

Sugiro que invistam já no factor de apoio motivacional, com recurso a quadros que saibam estimular e condicionar positivamente a psique de atletas de alta competição. Eles existem e não são bruxos nem magos, nem charlatões. São profissionais competentes que estudaram profundamente a forma de como se pode estimular a combatividade e confiança de praticantes desportivos sujeitos a enormes cargas de stress competitivo. Mal não fará de certeza. Tanto quanto será muito proveitoso abrir as “portas” da equipa principal ao contacto selectivo e muito mais efectivo com os adeptos. Algo que muitas vezes não se dá o devido valor e que dá um jeito fabuloso a quem defende as teorias de “zero ídolos”.

Aproximar os adeptos dos jogadores será sempre positivo, ainda para mais olhando para acontecimentos recentes, eu diria que é até obrigatório e para mim uma parte muito sumarenta do tal “Unir o Sporting”. As rescisões também desuniram adeptos de jogadores e como a CMTV e TVI24 não falam disso, esse problema pode até ter sido desapreciado no debate das eleições, mas existe e é um problema real que ajudou muitos sócios a prescindir das gameboxes que adquiriam há mais de 10 anos. Este é apenas um dos muitos sectores que precisam de medidas que promovam “união”, mas repito, a união não deve ser um objetivo, mas sim o resultado do verdadeiro e único objetivo – o sucesso.

Regresso sempre ao nosso lema. Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. Não queiramos meter União à pressão e deixemos ficar esse conceito como aquilo que foi, um statement de campanha. Agora acabaram-se as “campanhas” e o que sobra é uma pilha gigantesca de trabalho. Olhem para os adeptos, escutem-nos, sejam imaginativos, trabalhem muito, falem pouco e quando o fizerem, façam-no bem. Defendam o Sporting até ao ponto mais alto do seu benefício e nunca, mas nunca, se atrevam a ignorar e a desprezar a patifaria que rodeia o nosso desporto.

*às quartas, o Zero Seis passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca