Zero Zero.

Zero de credibilidade.

Só acertam nas coisas que já aconteceram.

“Iniciada na invernia do ano de 2018, a Revolta dos Tansos e Mansos logrou um lugar na história mundial pelos seus contornos. Não obstante ter ocorrido em Portugal, outrora conhecido pela revolução dos cravos que deve o seu nome à utilização de um exemplar de Caryophyllaceae na obstrução de uma arma de fogo, como metáfora aos fins pacíficos do propósito dos revoltosos, a Revolta dos Tansos e Mansos é lembrada por não ter envolvido violência física nem verbal e – eis a novidade – não ter sido presencial.

Os Tansos e os Mansos eram dois grupos, dificilmente distinguíveis, que segundo reza a lenda compunham cerca de 71% do poder de voto numa colectividade lisboeta. Contudo, num período de educada indignação, que se deveu à constatação generalizada de que o porta-voz dos donos da colectividade, o Marchal-de-Campo-em-Fuga Doutour Fodderico Goddinho Ikkea Fivellas, assinava os actos de gestão da colectividade da exacta forma como planeado e por todos conhecido antes mesmo da sua cooptação, os Tansos e os Mansos revoltaram-se.

Todavia, os pergaminhos com que se autodefiniam, nomeadamente as capacidades de pensar pela sua própria cabeça e se ser diferente, sem deixar de conseguir seguir à risca as directrizes dos seus notáveis, administradas em clisteres de “correio da manhã”, conduziram estes grupos a uma abordagem original.

Renunciando à violência, ao insulto e à maçada os Tansos e os Mansos optaram por se revoltar afirmando-se Atentos e Vigilantes, o que lograram até ao 7º mandato do Marchal-de-Campo-em-Fuga, numa altura em que este só falava à plebe através de um holograma projectado na sede da colectividade, em Luanda.

Historiadores [Capelo Rego, J.L.] aventam a hipótese de a revolução assim ter ocorrido como uma forma de contornar o problema da falta de massa crítica, já que a aludida quantificação de 71% é, segundo especialistas, uma mistificação decorrente de um fenómeno psicológico peculiar, em que indivíduos consumidos pelo fanatismo são invadidos por avistamentos de idosos a votar frenética e repetidamente”