E com o frio… voltou o calor a Alvalade. Melhor exibição da época, depois de semanas deprimentes, com Montero e Nani a serem figuras maiores de uma equipa que, desde o início, quis ganhar e oferecer aos seus adeptos uma partida que os fizesse sorrir

3-0 boavista

Olhamos para o que aconteceu ontem à noite, em Alvalade, e damos por nós a perguntar porque raio nos temos andado a arrastar de semana para semana. Porque raio não se aceita que o triângulo tem que estar invertido e que sem gente rápida na frente só estamos a facilitar a vida aos adversários?

A resposta só Peseiro terá, mas, ontem, encostado à parede por tudo e todos, o técnico fez o que tinha que ser feito. Battaglia ficou a varrer sozinho o meio-campo, Gudelj subiu para uma linha de pressão mais alta, Bruno Fernandes teve liberdade, Nani foi um falso extremo com constantes investidas para o interior e surgindo inúmeras vezes em zona de finalização, Diaby foi o agitador de serviço e também ele não hesitou no jogo interior (e, com isto, os laterais foram verdadeiros extremos, nomeadamente Acuña que parecia ter quatro pulmões).

E, depois, houve o gajo que deu dimensão a tudo isto, não em forma de cimento, antes com delicados pontos de costura que tornaram possível todo este carrossel, recebendo com classe, sendo o pivot de todos os movimentos ofensivos, arrastando defesas, abrindo espaços e metendo sempre a jogar redondinho. E quando não fazia isto, Montero enrodilhava dois adversários em dois metros de relva e centrava de forma perfeita para a cabeça de Nani, à meia hora de jogo, no golo que abria o marcador.

Antes, já o dito podia ter funcionado. Sabendo que Braga e Benfica haviam perdido pontos e que o fcPorto teve ajuda do VAR para não os perder, os Leões entraram fortes e encostaram o Boavista à sua área. E num início de jogo que devia ser o início de qualquer jogo em Alvalade, aos quatro minutos já o Sporting tinha obrigado o redes adversário a duas defesas. No minuto seguinte, único remate à baliza feito pelo Boavista… e que remate: após a marcação de um livre, Mateus remata em arco e a bola embate com estrondo no poste.

O lance como que deixou os de Alvalade desconfiados e os dez minutos que se seguiram não foram famosos (os piores dez minutos do Sporting na noite de ontem), aproveitando o Boavista para sair duas ou três vezes em transição, uma delas com muito perigo. A dormência foi sacudida por Coates, de cabeça, seguindo-se a pressão de Montero que quase comprometia o guarda-redes e um pontapé de Diaby que faria as delícias de qualquer adepto do País de Gales.

Depois, Nani ameaçou de cabeça e Montero fez aquilo que vos contei acima: enrodilhou dois adversários em dois metros de relva e centrou de forma perfeita para a cabeça de Nani, à meia hora de jogo, no golo que abria o marcador e trazia de volta o famoso “mortal 17”. O colombiano esteve perto de marcar logo a seguir, pecando por não ser tão expedito no remate, e Bruno Fernandes começou a calibrar a mira a passe de Diaby. O Boavista estava completamente à toa, Jorge Simão já via a rapariga bonita enfiar-se na casa de banho com outro e, em desespero, tirava um dos ferrolhos e lançava um avançado. Mas já não havia muito a fazer face à dinâmica e à velocidade que o Sporting colocava no último terço do terreno e que só não terá sido mais efectiva por falta de um matador dentro da área.

E quando o Boavista quis ser mais agressivo e subir as linhas, no segundo tempo, o Sporting deu-lhe os primeiros minutos de esperança para, depois, aproveitar o partir dos blocos para fazer gato sapato da pantera. Bruno Fernandes marcou um belíssimo livre que terminou com estrondo na barra (que golaço seria), Montero surgiu ao segundo poste para defesa incrível de Helton e à terceira foi de vez: arrancada furiosa de Diaby pela direita, apoio fantástico de Montero e cruzamento do maliano para a bomba de Bruno Fernandes! Rolha a saltar e futebol champanhe a jorrar!

Ainda um gajo piscava os olhos depois de um copázio borbulhante de um só trago, já Bruno Fernandes tentava outra vez e Nani fazia um golo de causar inveja aos chineses que brincam com bolas esquisitas e pequenas, fazendo-as tomar efeitos esquisitos e caprichosos. 3-0 e o regresso dos sorrisos que têm teimado em andar arredados das gentes de verde e branco vestidas.

Mathieu também ensaiou um livre (e acabou à esquerda, por lesão de Acuña), Diaby, um chato do caraças a pressionar a saída dos defesas adversários, esteve quase a marcar de picadinha, Nani cheirou o hattrick e Dost teve meia equipa a tentar colocar-lhe a bola na cabeça para assinalar o seu regresso. Só foi pena, mesmo, que Montero não tivesse ficado em campo quando entrou o 28, ensaiado aquele que, pelo menos para este que vos escreve, deveria ser o esquema de jogo da equipa. Mas também não podemos pedir tudo, muito menos no dia em que a equipa tentou voltar à normalidade e passar uma mensagem de esperança.

Ficha de jogo
Sporting-Boavista, 3-0
8.ª jornada da Primeira Liga
Estádio José Alvalade, em Lisboa
Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)

Sporting: Renan; Bruno Gaspar, Coates, Mathieu, Acuña (Bas Dost, 79′); Battaglia, Gudelj, Bruno Fernandes; Nani, Diaby (Bruno César, 87′) e Montero (André Pinto, 79′)
Suplentes não utilizados: Salin, Petrovic, Carlos Mané e Jovane Cabral
Treinador: José Peseiro

Boavista: Helton; Edu Machado, Neris, Gonçalo Cardoso, Talocha; Idris (Rafael Costa, 43′), David Simão, Fábio Espinho (André Claro, 74′); Rafa, Rochinha e Mateus (Matheus Índio, 59′)
Suplentes não utilizados: Bracali, Raphael, Obiora e Ibra Koneh
Treinador: Jorge Simão

Golos: Nani (31′ e 66′) e Bruno Fernandes (64′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Acuña (47′), Rochinha (55′), David Simão (65′), Montero (65′) e Gonçalo Cardoso (69′)