Inicio esta crónica no intervalo do Sporting – Sibyriak e o meu coração ainda está a mil. O Sporting vence por 2-0, resultado muito bom mas quero realçar o nível de futsal que se pratica no João Rocha. Tacticamente é um regalo ver como ambas as equipas tentam ferir o adversário com as suas estratégias. Os russos a jogar com a sua estratégia de 5×4 com o GR bem na frente e o Sporting com a sua rapidez de circulação de bola e de movimentações sem ela.

Começámos o jogo fortes nos dois momentos e a impor a nossa imagem de marca, a pressão alta. Muita qualidade na circulação e muito fortes defensivamente, seja no momento de subir as linhas de pressão ou na defesa do 5×4. Como a perfeição não existe, houve jogadas em que podíamos ter sofrido golo no 5×4 mas foram sempre fruto do adversário forçar, porque tem qualidade, do que erros ou desconcentrações nossas. E é por isto que Nuno Dias é o melhor treinador do Mundo. Se nos últimos jogos do campeonato cometemos erros que não tiveram impacto porque somos muito melhores, hoje fizemos uma primeira parte do outro Mundo, com um controlo e uma segurança incríveis. E se tivermos em conta que esta equipa russa joga sempre de 5×4, manter a concentração nos níveis que tivemos durante tanto tempo é obra. Praticamente todas as posses de bola do adversário foram “com mais um jogador”, que é especialista nesse momento de ataque e no final concedemos pouquíssimas finalizações e não sofremos nenhum golo. Let that sink.

O golo surge de bola parada com Cardinal a carimbar o seu regresso definitivo ao mais alto nível do futsal com um golo na maior competição de clubes. Foi para isto que ele voltou.

O jogo continuou intenso, forte, dividido com o adversário a responder com algumas transições fruto da sua estratégia mas é o Sporting que faz o 2-0 numa jogada digna da competição mas não sem antes Cavinato protagonizar o momento desta primeira parte com um remate que embate com estrondo na trave. Mas vamos ao golo. Uma obra de arte colectiva iniciada pela classe de Dieguinho (outro regresso em grande) que recebe na ala, vê a subida de Déo na sua frente e coloca-lhe a bola da única forma em que ela passava, picando-a meia altura e criando a superioridade em transição. A bola roda novamente para Dieguinho que coloca ao segundo poste em Alex, que remata cruzado apanhando novamente Dieguinho que serve de bandeja para Déo finalizar e com toda a equipa russa simplesmente a ver a bola rodar de um lado para o outro sem qualquer hipótese de conseguir travar a nossa velocidade de execuçäo. Um mimo de futsal.

A segunda parte foi um teste a ambas as equipas. O Sibyriak precisava de um golo para poder iniciar a recuperação e ao Sporting competia manter o nível, que esteve altíssimo na primeira parte. E não defraudou. Se antes o 5×4 já era uma lei russa, agora passava a ser risco total com a entrada do fixo Plakhtov para o lugar do GR. A equipa respondeu bem, o envolvimento e compromisso de todos os jogadores era visível e contagiante e nas bancadas a retribuição era audível. O 3-0 surge por Dieguinho numa fantástica transição de Erick a levar o seu adversário às costas e a colocar de trivela ao segundo poste onde estava o brasileiro que haveria de fechar o marcador com um remate sem ninguém na baliza. Pelo meio, vários momentos de classe, como o calcanhar de Dieguinho e os habituais (embora hoje menos) 1×1 de Merlim e Déo.

Confesso que estava com algum receio. As estreias nunca são fáceis e depois da última demonstração de defesa de 5×4 contra uma equipa deste nível (Benfica) estava apreensivo. Mas é nestas coisas que Nuno Dias se diferencia, conseguiu colocar a equipa num nível elevadíssimo no momento mais importante da época. E isso faz com que jogos como o de ontem aconteçam naturalmente e possam ser tratados como se uma mera formalidade se tratasse. Mas a preparação por trás desta performance? Tremenda!

Destaques:

Adeptos
Quando o treinador adversário reconhece o efeito da acção do jogador 12, fica tudo dito sobre a sua importância nesta competição. Fantástico apoio, a cantar os 40 min e a contribuir de forma decisiva para a consistência da nossa exibição.

Dieguinho
Foi o MVP. Desbloqueou a jogada do segundo golo, marcou o terceiro e o quarto a gritar dentro da quadra que, momentos de forma aparte, é ele o principal pivot da equipa. A aparecer quando mais precisamos dele.

Guitta
Fez tudo bem. Fossem as subidas na quadra, defesas com os pés, com as mãos, manchas, um reportório de recursos que fazem dele um dos melhores GR desta modalidade. A selfie que tirou no fim com um adepto de certeza que ficou perfeita e no fim ainda fez o jantar para a mulher que, naturalmente, ficou perfeito e se depois tiver tido direito a sobremesa, de certeza que a mulher ficou satisfeita. Guitta é isto: pouca exuberância mas muita eficácia e eficiência. Estou rendido a este GR.

Amanhã (hoje), às 20h30, frente ao NV Makarska, temos o segundo teste até ao teste final que se prevê contra o Benfica. O maior elogio que posso fazer à nossa equipa é que transformou os meus receios e apreensão em confiança logo no primeiro jogo. Às vezes é difícil perceber o verdadeiro trabalho colectivo e mental que se faz quando a qualidade individual é tão alta como no nosso caso. Com todo o respeito, não jogámos contra o Azeméis. Esta equipa do Sibyriak é uma equipa de topo. Provavelmente não do “nosso” topo mas de uma segunda linha logo a seguir. O que fizemos ontem não foi “normal” mesmo considerando o que é o nosso normal. Isto tem de ser dito pois estamos a falar de uma Uefa Futsal Champions League e de um nível de intensidade e de agressividade que nem em sonhos encontramos cá no burgo. O Benfica não vai ter vida fácil.

*às quintas, o Sá mostra que manda mais do que o Albuquerque e põe as novidades do Futsal todas na ordem

Nota da Tasca
Este fim-de-semana de Sporting começa em força nesta sexta-feira. Antes do futsal, tempo para dar atenção à Champions do Ténis de Mesa. Às 18h30, Pontoise Cergy vs SPORTING CP, em masculinos, onde tentaremos escalar para o segundo lugar; às
19h, SPORTING CP vs Linz Froschberg, em femininos, numa partida que pode colocar as Leoas no topo da classificação.