Não deve ser motivo para entrar em euforias desmedidas, mas o que o Sporting fez ontem foi suficiente para fazer os seus adeptos sorrirem e matarem saudades de uma equipa que queira jogar futebol e que veja nesse “pormenor” o caminho para conquistar vitórias. E, esta, além de entrar para a história, carimbou a passagem à fase seguinte da Liga Europa

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Impressionante como, em três semanas, Marcel Keizer foi capaz de perceber o material humano que tem à sua disposição e trabalhá-lo de forma a implementar as suas ideias que, com toda a certeza, sairão reforçadas com o regresso de jogadores actualmente lesionados, como Raphinha ou Montero. Esta é, para quem vos escreve esta crónica, o primeiro grande destaque desta esmagadora vitória do Sporting em Baku, frente ao Qarabag, no estádio que receberá a final da Liga Europa.

E já que falamos em reforços, é caso para dizer que o técnico holandês viu aquilo que estava à vista de todos menos dos dois últimos treinadores que passaram pelo banco leonino: Wendel tem qualidade mais do que suficiente para jogar no Sporting e merecer a oportunidade que está a agarrar com as duas mãos. Envolvência em mais de metade dos seis golos da equipa (à meia hora de jogo já tinha feito tantas assistências como o Battaglia fez nos dois anos que leva de Sporting) e uma dinâmica que faz toda a diferença. Keizer viu no brasileiro o complemento ideal para Bruno Fernandes na tarefa de ligar o meio-campo e o ataque e, com isso, ganha a equipa que passa a ter dois “playmakers” e obriga o adversário a não saber qual deles baixará para vir buscar a bola e qual deles se apresentará mais perto do apoio a Bas Dost, formando uma linha de três com Nani e Diaby.

Com tudo isto ganha Gudelj, rapaz que parecia acorrentado com o duplo ferrolho e que, agora, ganha nova vida e nova dinâmica. E ganha toda a equipa, claro, a quem foi dito que os jogos são para ganhar e que a forma mais fácil de consegui-lo é… jogando à bola. Fica na retina, por isso, a forma como o Sporting entrou no jogo e que permitiu que, logo aos cinco minutos, se adiantasse no marcador (que grande movimento de Bas Dost, a rodar sobre si dentro da área até ser derrubado). Fica no ouvido, também, a flash de Gudelj, dizendo que dois dos pormenores que mais mudaram com a chegada de Keizer foi a ordem para recuperar a bola nos cinco segundos seguintes a perdê-la e… a ordem para jogar mais futebol.

E foi isso que fizemos ao longo de 90 minutos. A 1, 2 toques, algo que parecia esquecido e que não só complica a vidinha a quem faz marcações como permite uma muito maior fluidez de jogo, com chegadas bem mais rápidas à área adversária, onde foi constante a presença de quatro e cinco camisolas Rampantes. E foi isso que fizemos frente a uma equipa com quem já tínhamos jogado e que, sim, tem enormes fragilidades, mas que, em Alvalade, chegou a deixar-nos sem bola durante demasiadas fases da partida.

Em resultado de tudo isto, diz-nos essa coisa gira chamada estatísticas, aos 60 minutos de jogo o Sporting tinha feito apenas 3 cruzamentos, bem diferente das médias por jogo com José Peseiro (15,3) e Jorge Jesus (17,3). Ou, tomem lá outra, o Sporting tornou-se na 4.ª equipa a vencer por 5 ou mais golos de diferença, fora de casa, nas provas UEFA em 2018/19 (juntando-se a Real Madrid, Sevilla e Atalanta). Também podemos dizer que o golo de Nani, terceiro do Sporting, entra direitinho para a galeria de melhores golos desta edição da Liga Europa e até Diaby terminou a partida a fazer um golo com finalização à… Cristiano Ronaldo!

O segredo, agora, é não entrar em euforias e histerismos desmedidos. O trabalho ainda agora começou, a equipa vai ter que aprender a compensar a vertigem ofensiva com transições defensivas (novo erro, novo golo) e temos que perceber se Acuña e Ristovsky conferem às alas a dimensão que, ontem, claramente faltou, já para não falar na questão da baliza que, cada vez mais e em bom italiano, me parece merecer ser entregue a Maximiliano.

Mas é hora de desfrutar enquanto esperamos pelo exigente teste de segunda-feira, em Vila do Conde. O Sporting está na fase seguinte da Liga Europa e joga ao rito do hit do momento, num taki taki que todos desejamos que seja cada vez mais afinado.